“Defendemos que em Portugal a avaliação da permeabilidade ao ar ou da estanquidade ao ar seja obrigatória”
Desempenho, suficiência e formação foram alguns dos temas em destaque na 12ª Conferência Passivhaus Portugal 2024, que este ano recebeu mais de 50 marcas e a visita de 438 participantes. Além da obrigatoriedade de monitorização do desempenho dos edifícios ao nível da qualidade do ar, como já acontece noutros países estrangeiros, o encerramento da conferência abordou a necessária mudança de paradigma necessária para privilegiarmos o conforto e a saúde e detrimento do que não é essencial
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A 12ª Conferência Passivhaus Portugal 2024 reforçou o percurso que a Associação Passivhaus tem percorrido nos últimos anos em prol da construção passiva. O Centro de Congressos de Aveiro, onde têm decorrido todas as iniciativas, recebeu, este ano, mais de 50 marcas e a visita de 438 participantes. Além das conferências no grande Auditório, o evento contou, também, com 65 workshops, entre apresentações de projectos por Passive House Designers e, e uma área dedicada às empresas que “percorria” todos os campos de uma Passive House, desde a envolvente opaca, envolvente transparente, estanquidade ao ar, sistemas e equipamentos, aos construtores. A edição do próximo ano já tem data marcada para os dias 21 e 22 de Outubro.
O balanço salda-se, assim, “claramente positivo”. No fundo, o nosso objectivo é melhorar sempre de edição para edição, mas também manter aquilo que “já são conquistas deste modelo”, ou seja, “termos as apresentações todas gravadas e disponíveis no site” e, por outro, procurámos “fomentar a discussão alargada a diferentes intervenientes”.
“Isso é algo que já tínhamos feito noutras edições da conferência e procurámos manter, mas acho que neste ano foi dado uma ênfase maior a essa componente”, destaca João Gavião, arquitecto, consultor, formador e designer Passive House certificado na Homegrid, assim como um dos fundadores da Associação Passivhaus Portugal.
Interesse das marcas tem aumentado
Tem também sido notório um maior interesse por parte das empresas e das marcas em estarem presentes na conferência. “Há de facto esse crescimento, esse interesse”, destaca João Gavião. Seja por que as empresas se querem “diferenciar da concorrência ou porque querem estar associados a um padrão de desempenho que é o máximo em termos de desempenho dos edifícios”, isso “é visível no número de componentes certificados”, com certificação passiva, e cuja presença tem aumentado, nomeadamente, nos sistemas de fachadas, sistemas de janelas, sistemas de equipamentos de ventilação ou sistemas de estanquidade ao ar.
“Muitas vezes essa indicação vem por parte da casa-mãe, quando se trata de multinacionais, exactamente porque têm que cumprir determinados requisitos que no estrangeiro já são obrigatórios. Mas depois há também fabricantes locais, marcas nacionais, que estão connosco, algumas desde o início da criação da Passivhaus. Isto depende muito, também, da mentalidade do sector”, acrescenta João Gavião.
Basta ver que em Espanha, por exemplo, o desempenho em termos de permeabilidade ao ar ou de estanquidade ao ar já é uma realidade, o que vem mudar por completo a forma de se olhar para esta questão.
“Defendemos que em Portugal a avaliação da permeabilidade ao ar ou da estanquidade ao ar seja obrigatória, para que possamos começar a olhar e a ter mais consciência sobre esse problema, o que hoje em dia não acontece”, considera.
Qualidade e não tamanho
Que uma boa construção e o seu desempenho térmico e energético é bem mais importante que a sua dimensão não é propriamente novidade. Mas ainda assim, esta é uma questão que continua a ter que se falada e abordada se o objectivo for atingir a eficiência energética numa habitação. O conceito da “suficiência” foi já abordado anteriormente pelo arquitecto canadiano Lloyd Alter, que retomou na conferência de encerramento do evento, a ideia de que temos que “prescindir do que não é assim tão essencial numa casa para privilegiarmos o conforto e a saúde”. E deixou uma mensagem final: “Há uma coisa que é absolutamente clara: estão disponíveis as tecnologias e normas necessárias para realmente levar a uma mudança nas questões climáticas, e o único real obstáculo são as políticas e os interesses associados aos combustíveis fósseis”.
Esta consciencialização deve passar não só pelo cliente final, mas também pelos próprios arquitectos, daí a necessidade de formação, uma das questões também muito abordada na conferência.
Neste sentido, abriu este ano o Passive House Center, o centro de formação prática para Passive Houses, em Pombal. “Além da comunicação que deve passar para os profissionais do sector, esta está cada vez mais voltada também para o cliente final e assenta na estratégia de “avivar” a consciência do consumidor final, monitorizar o desempenho dos edifícios Passive House para evidenciar a sua qualidade e transmitir confiança”, afirmou João Marcelino, presidente da Passivhaus Portugal.