Digitalização do mármore para acelerar a competitividade da indústria nacional
Com recurso à Inteligência Artificial e a modelos matemáticos, o novo “digitalizador” de blocos de mármore vai permitir antecipar os diferentes desenhos dos veios, antes do corte, possibilitando a criação de catálogos. A tecnologia, desenvolvida pelo DER do Instituto Superior Técnico, está prestes a ser testada nas pedreiras do Alto Alentejo do Grupo Galrão
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Inserido na agenda mobilizadora ‘Stone4.0: Artificial Intelligence for Stone Products Valorization’, o novo projecto do Departamento de Engenharia de Recursos Minerais (DER) e Energéticos do Instituto Superior Técnico (IST), promete acelerar a competitividade das empresas do sector, através do recurso à Inteligência Artificial. Técnicos do DER estão a desenvolver um digitalizador de blocos de mármore, que podem chegar às 25 toneladas, o qual usa a IA para prever a textura interior, antecipando cortes e os desenhos dos veios que as placas poderão apresentar depois de cortadas. Uma funcionalidade que promete revolucionar o mercado global do mármore, com impacto directo na competitividade nas empresas portuguesas.
“Como o padrão visual das placas depende do lado pelo qual se começa a cortar a pedra, a simulação digital que o DER está a preparar, através de modelos matemáticos, irá permitir visualizar, com precisão, toda a variedade de padrões diferentes que pode ser obtido a partir de um só bloco”, afirma Gustavo Paneiro, investigador e docente do DER. “Esta funcionalidade permitirá que, no futuro, os clientes das empresas portuguesas de pedra natural, sejam eles arquitectos, decoradores ou consumidores finais, tenham à sua disposição milhares e milhares de padrões num catálogo virtual. Será a sua escolha que irá determinar exactamente a forma como cada bloco será cortado, o que tornará as empresas parceiras muito mais eficientes e, por isso, competitivas no mercado mundial da pedra natural”, sustenta o investigador.
O projecto está a ser desenvolvido em escala laboratorial nas instalações fabris do Grupo Galrão, em Pêro Pinheiro, pelo DER e pelo seu Centro de Recursos Naturais e Ambiente (CERENA). É financiado pelas verbas europeias das Agendas Mobilizadoras do PRR, programa de apoio a consórcios de empresas, universidades e centros de investigação para a inovação e criação de novos produtos e serviços de alto valor acrescentado. Para além do Grupo Galrão, estão envolvidos no projecto os grupos A. Bento Vermelho e Marmocazi, todos com grandes pedreiras no Alentejo Central. Participam também as tecnológicas Sevways Portugal e FrontWave, especializadas em pedra natural.
Primeiro “digitalizador” nasce no Alto Alentejo
O primeiro objectivo desta fase do projecto é montar um digitalizador de blocos nas pedreiras do Grupo Galrão em Estremoz e Vila Viçosa. Quando esse equipamento começar a funcionar, só sairão da pedreira para a fábrica em Pêro Pinheiro os blocos que, no seu interior, contenham padrões previamente seleccionados digitalmente e escolhidos pelos clientes.
“A solução que está a ser desenvolvida DER permitirá a criação de um vasto stock virtual, apresentando duas vantagens fundamentais: a optimização do processo de transformação, ao possibilitar que os clientes escolham e comprem cada bloco no local de extracção, antes de ser transportado e cortado, e a significativa redução de desperdício. Este será, portanto, um processo mais eficiente e sustentável”, afirma Paulo Diniz, administrador do Grupo Galrão. “Esta é para nós uma vantagem competitiva significativa e que dá um novo sentido ao ‘Tudo Começa na Pedra’ da nossa assinatura”, sublinha o responsável.
Eficiência que favorece a competitividade
O trabalho dos engenheiros do DER e do CERENA começou muito antes, com a observação do mercado mundial das rochas ornamentais. “Chamou-nos muito a atenção o uso que foi dado a placas de mármore português com veios para o revestimento do novo Perelman Performing Arts Center, em Nova Iorque, construído no Ground Zero das Torres Gémeas, uma obra da Granoguli, uma empresa do grupo A. Bento Vermelho”, afirma Amélia Dionísio, professora e investigadora do DER. “Como há uma tendência crescente na arquitectura mundial para usar as características visuais naturais do mármore para fins de design na construção, o digitalizador que estamos a construir irá oferecer muitas mais pré-opções aos arquitectos e decoradores”, afirma. “Irá, sobretudo, permitir à indústria oferecer aos seus clientes peças que eles escolheram com uma precisão notável”, descreve Amélia Dionísio. “E irá fazê-lo quase sem desperdícios, o que era impensável até há muito pouco tempo”.
A indústria percebe bem o potencial que o DER está a construir. “À medida que a aplicação industrial deste projecto se for tornando funcional, iremos usá-las nas plataformas electrónicas para comércio de pedras naturais em todo o mundo”, afirma Jorge Galrão, director de Exportação do grupo. “Prever o que está dentro dos blocos será útil em todos os segmentos de mercado, mas é nos mercados ‘premium’ muito exigentes dos Estados Unidos da América e do Médio Oriente, e em parte nos do Canadá, da Alemanha e de França, que ela pode ser mais valiosa: para corresponder a pedidos muito precisos e bem pagos, já não será preciso cortar blocos atrás de blocos para encontrar os padrões certos”, explica. “Bastará escolhê-los primeiro e, a seguir, cortá-los da forma certa para obterem exactamente as chapas pretendidas”.
Este projecto do Departamento de Engenharia de Recursos Minerais e Energéticos do IST vai, a prazo, baixar radicalmente a matéria-prima necessária para cada encomenda, quer pela redução dos desperdícios, quer pelo aumento do valor comercial do mármore habitualmente subvalorizado. “Será mais um contributo do nosso ramo da engenharia para os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e para a descarbonização deste sector da indústria mineral”, afirma a investigadora Amélia Dionísio.