(@Ricardo Gonçalves)
City Cortex desce à cidade (c/ galeria de imagens)
De um programa de pesquisa que assume a cortiça como “paradigma de matéria-prima sustentável” nasce o City Cortex, onde um grupo de arquitectos e designers de renome internacional, desenvolveram um conjunto de projectos originais à escala urbana desenhados para as cidades do presente e do futuro. Esses projectos tomaram, finalmente, forma e poderão ser vivenciados, até Novembro, num circuito que começa em Belém e atravessa o Tejo até à Trafaria
Manuela Sousa Guerreiro
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O City Cortex tem a chancela da Corticeira Amorim e já leva uns bons anos de desenvolvimento. Lançado em 2019 o projecto teve como objectivo central explorar o uso da cortiça em contexto urbano, tendo na altura sido lançado um desafio a vários gabinetes internacionais. A pandemia atravessou-se no caminho e a apresentação do projecto foi adiada, mas o trabalho de desenvolvimento ganhou um novo impulso.
Seis anos volvidos, o City Cortex irá fez a sua apresentação, em Lisboa, num contexto de crescente sensibilização para a importância de consumir, produzir e vender produtos que ajudem a mitigar os impactos das alterações climáticas. Um contexto onde a cortiça ganha, naturalmente, protagonismo.
Através do contributo de seis arquitectos e estúdios de design, com nome reconhecido internacionalmente – Diller Scofidio + Renfro, Eduardo Souto de Moura, Gabriel Calatrava, Leong Leong, Sagmeister & Walsh e Yves Béhar – o City Cortex cria e oferece oito projectos originais para espaços públicos e semi-públicos, os quais exploram a relação deste material natural e sustentável com o design e a arquitectura.
O programa encara a cidade como um organismo vivo e dinâmico, respondendo aos desafios urbanos do século XXI, onde questões como fruição, protecção, intergeracionalidade, coesão social, conforto, sustentabilidade e gestão de recursos são essenciais. Propondo, simultaneamente, uma experiência lúdica ao cidadão, transformando espaços urbanos comuns um espaço de interacção multidisciplinar e multicultural.
O City Cortex é concebido e comissariado pela experimentadesign e tem o apoio à produção da ArtWorks.
Uma proposta de circuito para experimentar a cortiça na cidade
O proposto por City Cortex é colocar “a cortiça como mote para repensar a experiência do espaço público urbano, despertando o interesse para uma utilização de materiais sustentáveis, que possam fazer parte de uma economia circular e tenham um papel fundamental na activação participada e lúdica do espaço”, descreve a organização.
Esta “experiência” propriamente dita arranca a 6 de Junho e irá unir, num circuito, a freguesia de Belém, em Lisboa, à Trafaria, em Almada. Arrancamos neste percurso com a “Life Expectancy”, que tem a assinatura de Sagmeister & Walsh, localizada na passagem pedonal, por baixo da via férrea, para o Padrão dos Descobrimentos. A proposta explora as propriedades de isolamento sonoro e térmico da cortiça, através da colocação de painéis deste material no tecto do túnel, “proporcionando uma melhor atmosfera sonora e experiência estética”.
A segunda participação da equipa de designers da Sagmeister & Walsh neste projecto poderá ser vista no Museu de Arte Popular e transforma a cortiça em garrafas onde as rolhas são vidro. Abordando, com sentido de humor, os ruídos num espaço de lazer e a flexibilidade da manipulação deste material. Também com assinatura deste gabinete o “Humpbacks”, um colchão flutuante ecológico produzido a partir de esferas de cortiça, estará localizado no Espelho d’Água, na Av. Brasília.
Avançamos um pouco mais adiante e na mesma margem do Tejo, junto dos jardins do MAAT, encontramos a instalação “Port_ALL”, do designer Yves Béhar, que tem como inspiração a Torre de Belém e a histórica ligação do local como ponto de chegada e partida da capital portuguesa.
Do ponto de reflexão que “Port_ALL” oferece passamos, ainda nos jardins do MAAT, à paisagem sensorial que as esculturas urbanas que o estúdio de arquitectura e design nova iorquino Leong Leong criou, inspirado pela ideia da cidade como espaço lúdico e de recreio. O arquitecto recorre de um aglomerado natural de cortiça para criar elementos esculturais que definem uma nova paisagem micro‑urbana. Uma reflexão sobre a utilização da cortiça nos equipamentos urbanos, como “forma de amenizar a dureza da paisagem da cidade, tendo em conta as diferentes exigências de cada corpo para se sentir confortável nos espaços urbanos”, justifica Leong Leong.
Com assinatura do arquitecto Souto de Moura, a “Conversadeira”, surge do lado Oeste do MAAT, entre este e o Museu de Electricidade. Souto de Moura utiliza a cortiça “para criar um ambiente de calma e refúgio, possibilitando o encontro entre duas pessoas, quase privado originando um espaço quase privado, num local onde passam centenas de pessoas. O ângulo relativamente ao rio e as duas alturas dos assentos fazem com que cada uma das pessoas tenha uma perspectiva distinta sobre a mesma vista, promovendo também uma proximidade física invulgar entre as duas”. A cortiça não é um material estranha ao arquitecto que desde o início de actividade a usa. “Este protótipo vai funcionar como um teste para vermos o seu comportamento, que já sabemos que é altamente resistente e isolante, contra o tempo e o uso”, sublinha.
Ainda na mesma margem do Tejo, no pequeno jardim público junto à Biblioteca Municipal de Belém, que integra também o projecto, encontramos a “Second Skin”. A peça criada pelo estúdio de design nova-iorquino Diller Scofidio + Renfro foca-se na importância da leitura e da literacia, bem como na relevância dos espaços verdes nas cidades.
“Second Skin” utiliza a cortiça como principal material para a construção de uma pequena biblioteca comunitária ao ar livre. O projecto cria uma segunda pele de cortiça que envolve o tronco das árvores, desenhando estantes e bancos.
Quase a terminar este percurso precisamos de atravessar o Tejo, para a Trafaria, onde está localizada a intervenção do arquitecto e engenheiro Gabriel Calatrava e do colectivo CAL. A “Onda” utiliza a cortiça como componente central de um sistema de ocupação, temporário ou permanente, com o objectivo de criar um novo espaço colectivo num terreno público na Trafaria, a sul do Tejo. “Onda” premeia o encontro e o convívio da comunidade local e dos visitantes da Trafaria e em parceria com uma associação local, a comunidade da Trafaria participa na instalação, trazendo de suas casas para o espaço expositivo cadeiras já sem uso que serão renovadas através de uma membrana de cortiça, não só numa óptica de reutilização e reciclagem, mas também com o intuito de que a população local se relacione emocionalmente com o espaço, criando as suas próprias referências.