Um século no feminino
O MoMoWo quer tirar da sombra mulheres pioneiras do Movimento Moderno. Maria Keil, Teresa Nunes da Ponte, Olga Quintanilha e Inês Lobo são algumas das referências portuguesas do projecto
Ana Rita Sevilha
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Trata-se do primeiro projecto seleccionado e financiado pela União Europeia dedicado a mulheres arquitectas, engenheiras civis e designers e pretende dar a conhecer e tirar da sombra mulheres pioneiras do Movimento Moderno. Podia ser só um estudo de género, mas não é. Com um universo temporal de quatro anos (que termina em 2018), o MoMoWo – Women’s Creativity since the Modern Movement, tem objectivos bem definidos e um vasto programa, do qual fazem parte duas exposições que inauguram em Lisboa no próximo dia 15 de Setembro e um conjunto de três itinerários turísticos que mostram obras de arquitectura, design e engenharia civil onde mulheres tiveram um papel importante.
MoMoWo
O projecto nasceu em Itália em 2014, no Politécnico de Turim, pelas mãos de Emilia Garda e Caterina Franchini, às quais se juntou Helena Souto, professora do IADE – parceiro português deste projecto -, e estudiosa da história da criatividade no feminino em Portugal e ainda representantes de mais quarto países europeus: Espanha (da Universidade de Oviedo), França (da Universidade de Grenoble), Holanda (da Universidade de Leiden), e Eslovénia (da Universidade de Ljubljana).
O projecto, que teve desde logo a ambição de não ser apenas de cariz académico, pretende ser um meio de comunicação, dando visibilidade às grandes referências femininas europeias da cultura de projecto, desde 1918 até à actualidade.
“Ainda hoje as pessoas associam muito a arquitectura, o design e a engenharia civil a profissões masculinas e de facto muitos dos arquitectos ditos estrelas são fundamentalmente homens. Basta lembrar que o primeiro Prtizker feminino foi atribuído em 2004 a Zaha Hadid, o que mostra que foi preciso desbravar muito caminho”, refere Helena Souto ao CONSTRUIR. “A nossa pretensão é mostrar que muitas mulheres foram ofuscadas por aqueles que apoiaram. É o caso paradigmático de Charlotte Perriand (1903 –1999) que ficou na sombra de Le Corbusier ou de Lilly Reich (1885 – 1947) que trabalhou com Mies Van der Rohe. Queremos dar-lhes a relevância que merecem e também dar a conhecer outras mulheres que foram igualmente importantes mas que nem sequer são conhecidas ou mesmo sublinhar as que se conseguiram impor, como é o caso de Inês Lobo, que em 2014 foi a segunda mulher a ganhar o prémio ArcVision – Women and Architecture, dado pela multinacional italiana Italcementi Group”.
Para Helena Souto, este projecto aparece no momento certo, numa altura em que tanto nas universidades como no mercado de trabalho, as mulheres estão a ganhar o seu espaço, embora os lugares de topo e os grandes ateliers continuem a ser maioritariamente masculinos. “Mas é um panorama que está a mudar, porque existem cada vez mais mulheres nas instituições de ensino e no mercado de trabalho. Estamos num momento de viragem”, lembra.
Referências portuguesas
“Felizmente Portugal é rico em referências femininas na cultura de projecto, nomeadamente em design e arquitectura”, sublinha Helena Souto, evidenciando uma das pioneiras, Maria Keil. Com uma obra muito diversificada e pioneira do design, Maria Keil trabalhou nas artes gráficas, em publicidade (no final dos anos 30 e princípios de 40) e naturalmente com o marido, o arquitecto Francisco Keil do Amaral, com quem cruzou a sua obra, juntando a azulejaria à arquitectura moderna. São exemplos disso, em Lisboa, o painel Mar (1956) na Avenida Infante Santo e os azulejos daquelas que são hoje as estações antigas do Metropolitano de Lisboa (anos 60). Em conversa com o CONSTRUIR, Helena Souto lembra também que “a partir de Abril de 1974, apareceu o ensino privado e com ele abriram muitas escolas ligadas ao ensino da arquitectura, do design e mesmo da engenharia e isso fez com que mais mulheres surgissem no mercado de trabalho. Toda esta transformação política e social originou o momento em que as mulheres começaram a criar os seus ateliers em nome próprio. Havia a vontade e as condições para tal. É o caso da arquitecta Teresa Nunes da Ponte, que abre o seu atelier e não menos importante, o facto de ser uma mulher a principal responsável pela passagem da Associação dos Arquitectos a Ordem dos Arquitectos, Olga Quintanilha, que é autora de uma obra icónica da capital, as Torres de Lisboa”.
Segundo nos explicou Helena Souto, “a engenharia civil é o campo, ainda hoje, mais difícil de mapear ao nível europeu, o mais difícil de encontrar referências que se conseguiram impor, por ser um meio muito marcadamente masculino e que implica grande dureza. Contudo, “existem referências curiosas e no caso português há uma engenheira civil, Maria Amélia Chaves, que é um caso exemplar. Foi a primeira graduada de engenharia civil pelo Instituto Superior Técnico, nos anos 40, e tornou-se a primeira professora do curso na mesma instituição”, recorda.
Exposições
Em Portugal, o projecto estará bem visível a partir de 15 de Setembro, através das duas exposições que irão inaugurar na cidade de Lisboa e que integram a Travelling Exibition – uma mostra itinerante que compreende duas secções (exterior e interior) e que partindo de Oviedo, irá percorrer as cidades dos parceiros do projecto, ficando em Lisboa até 31 de Outubro e seguindo depois para França e, já no ano de 2017, para as cidades de Amesterdão em Março, Liubliana em Abril e por fim, a partir de Junho, em Turim, onde se encontra o parceiro líder do projecto.
A parte exterior desta mostra, resultou de um Concurso Internacional de Fotografia, alusivo ao quotidiano destas mulheres e à relação entre o lado doméstico e profissional, que foi da responsabilidade da equipa MoMoWo do IADE, liderada por Helena Souto. A exposição de fotografia estará patente no Largo Vitorino Damásio (perto do IADE).
A Fundação Portuguesa das Comunicações será o palco da secção interior da mostra que através de uma exposição interactiva vai dar a conhecer as grandes contribuições das mulheres para a afirmação do género feminino na política, cultura e na sociedade em geral e também os contributos decisivos de várias mulheres em vários pontos para estas disciplinas do projecto.
Para além das exposições, o projecto MoMoWo convida ainda a conhecer Lisboa por um olhar feminino, através de três percursos que vão levar o visitante a descobrir 19 edifícios emblemáticos da cidade pensados também por mulheres designers, arquitectas ou engenheiras civis. Os Cultural Touristic Itineraries são ao todo 18, três para cada um dos países parceiros e em Portugal foram escolhidos por Helena Souto. “From the Downtown Lisbon to the Hills”, “From Santos to Belém”, e “Modern Lisbon” são os três trajectos que colocam em destaque edifícios como o MUDE – Museu do Design e da Moda, o Museu Nacional dos Coches, o anfiteatro da Fundação Calouste Gulbenkian, o Teatro Tália ou as Torres de Lisboa.
De salientar que, a equipa liderada por Helena Souto é também a responsável pelo sítio da Internet (https://www.momowo.eu/) onde é possível encontrar toda a informação sobre o projecto e que o layout do endereço electrónico foi escolhido através de um concurso lançado pela equipa MoMoWo do IADE e ganho por uma portuguesa, formada pela Faculdade de Belas Artes do Porto.