“Rehab Nation” vai animar Lisboa com cinema e arquitectura
Em entrevista ao CONSTRUIR, Sofia Mourato, Directora e Fundadora do Arquiteturas Film Festival, deixa uma lista de 10 filmes imperdíveis onde Arquitectura e outras formas artísticas se tocam e influenciam
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“Rehab Nation” é o foco da edição de 2016 do Arquiteturas Film Festival. Sofia Mourato, Directora e Fundadora do festival, explica que a escolha do tema “surgiu inequivocamente da análise da situação portuguesa actual. Na última década, a reabilitação de espaços tornou-se um processo muito presente, sobretudo na cidade de Lisboa, mas também por todo o país, com impactos a nível individual, cultural e social”.
O que podemos esperar da próxima edição do Arquiteturas Film Festival?
A edição de 2016 do Arquiteturas vai voltar a animar, pelo quarto ano consecutivo, várias salas e locais emblemáticos da cidade de Lisboa com uma programação onde a arquitectura assume o papel principal e é o mote para uma nova experiência de cinema, baseada no cruzamento de disciplinas e na reflexão em torno da criação contemporânea, seja na arquitectura, no cinema, nas artes visuais, no design ou noutras áreas. Este ano, cada dia do festival será dedicado a uma temática específica – Casa, Bairro, Cidade e Território, serão os quatro sub-temas a partir dos quais se abordará e desenvolverá a reflexão em torno do tema principal da edição – “Rehab Nation”. Os sub-temas orientarão o cartaz diário de filmes, bem como todo o programa do festival que integra conversas, exposições, master classes, visitas-guiadas, workshops, entre outras actividades. Além disso, teremos peritos, criadores e investigadores convidados a fazerem a contextualização e análise da temática do dia na perspectiva da reabilitação, com base na partilha das suas experiências pessoais e profissionais com o público. O cartaz de filmes em competição, seleccionados a partir do open call internacional que temos em curso até Maio, permitirá também ao público descobrir talentos e obras com apresentação inédita em Portugal. O que o público pode esperar da quarta edição do Arquitecturas é um festival que apresenta um cartaz e programa singulares, onde será possível descobrir, reflectir e debater a forma como hoje vivemos, num convite que parte dos pressupostos de que todos somos capazes de arquitetar e imprimir movimento ao mundo que nos rodeia, ser ou vir a ser arquitectos deste.
Porquê a escolha do tema “Rehab Nation”?
O tema surgiu inequivocamente da análise da situação portuguesa actual. Na última década, a reabilitação de espaços tornou-se um processo muito presente, sobretudo na cidade de Lisboa, mas também por todo o país, com impactos a nível individual, cultural e social. A democratização dos espaços públicos e a utilização de edifícios antigos para novos usos, o turismo massivo e a gentrificação dos bairros históricos, as novas formas de associação das comunidades, são alguns dos temas que apoiam esta discussão e que são amplamente abordados nos discursos arquitectónicos, académicos, sociais ou institucionais, que por sua vez motivam e são ilustrados pelo cinema contemporâneo. “Rehab Nation” funciona assim como um extenso pretexto para pensar e debater os nossos espaços e as nossas cidades, no fundo a forma como actualmente vivemos. Trata-se de uma oportunidade para questionar e reflectir sobre a ideia de reabilitação, enquanto processo e até arquétipo de cura, transformação ou mudança permanente a que todos somos permeáveis e estamos sujeitos.
Como o público português tem recebido o evento?
O Arquiteturas é um festival de cinema dedicado à intersecção de disciplinas de criação, integra-se numa rede internacional de festivais de cinema motivados pela arquitectura. Neste contexto e como público base, o festival atraí sobretudo profissionais, peritos, investigadores e estudantes da área da arquitectura. Contudo, temos assistido e é o nosso propósito chegar a públicos mais alargados, como é o caso dos designers, artistas visuais, realizadores e pessoas que de um modo em geral acompanham e se interessam por cinema, pela cultura e artes. É comum as pessoas ficarem surpreendidas com o festival, muitas vezes vêm por curiosidade ou a acompanhar amigos que já conhecem o projecto, e deparam-se com filmes e actividades que ampliam quer a sua visão da própria arquitectura, quer o seu conhecimento em torno da criação contemporânea, permitindo-lhes descobrir e contactar com criadores e obras de relevo que em Portugal só estão presentes no Arquiteturas. Além disso, temos um programa anual de itinerâncias que permite levar os filmes premiados em cada edição do festival a universidades, espaços e eventos culturais, o que permite levar o Arquiteturas a novos públicos e reforçar a missão do evento no que respeita à promoção dos criadores envolvidos e circulação das obras. No final do ano passado estivemos na Universidade de Évora e até Julho temos confirmadas sessões no Porto, Açores, Madeira, Florença, Montreal e Istambul.
De que forma o cinema ou outras expressões artísticas se ligam, tocam e influenciam a arquitectura?
O propósito do Arquiteturas é descobrir e apresentar filmes dirigidos por cineastas, artistas e outros criadores, que através da imagem em movimento intersectem ou ampliem as linguagens do cinema, da arquitectura, do design e das artes visuais. Ou seja, acreditamos que a arquitectura e as artes estão em permanente diálogo e intersecção e é exatamente este espaço de intersecção que interessa e é tratado pelo Arquiteturas. Procuramos e mostramos filmes que proporcionam visões ricas e transdisciplinares do contexto contemporâneo, resultantes de processos de contaminação mútua e que estão libertos de hierarquias disciplinares.
Consegue dar-me uma lista de 10 filmes imperdíveis onde esta relação esteja patente?
– La Notte – Michaleangelo Antonioni
– In The Mood For Love – Wong Kar Wai
– The Cook, the ThieF his Wife & Her Lover – Peter Greenaway
– Gattaca – Andrew Niccol
– The Grand Budapest Hotel – Wes Anderson
– The Conformist – Bernardo Bertolucci
– Verdes Anos – Paulo Rocha
– Rear Window – Alfred Hitchcock
– The Shining – Stanley Kubrick
– The Panic Room – David Fincher