Exposição no Rio de Janeiro desperta olhares para múltiplas feições de Brasília
“A exposição fala não só da construção da cidade, mas das construções simbólicas de Brasília e da representação da cidade”
Lusa
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No ano em que Brasília comemora o seu cinquentenário, a exposição “As construções de Brasília”, patente no Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro, promete despertar uma reflexão sobre as múltiplas feições da capital federal brasileira.
“A exposição fala não só da construção da cidade, mas das construções simbólicas de Brasília e da representação da cidade, ela é viva e está em transformação”, disse à Lusa a curadora Heloísa Espada.
Com 157 imagens de fotógrafos e uma selecção de 44 obras de artes visuais modernas e contemporâneas, o destaque da exposição vai para as fotografias de Marcel Gautherot, Peter Scheier e Thomaz Farkas realizadas em Brasília entre 1958 e a década seguinte.
Essas imagens estão entre os mais importantes testemunhos visuais sobre a construção da capital e hoje integram o acervo do Instituto Moreira Salles.
“Gautherot foi o tradutor das obras modernas de Oscar Niemeyer e acompanhou todo o processo de construção de Brasília. O seu foco é na arquitectura, nos prédios como obras de arte”, explica a historiadora de arte.
Já Thomaz Farkas fez registos da população no dia da inauguração da cidade, a 21 de abril de 1960. “Ele fez um registo épico do momento, os candangos a caminhar pelos edifícios públicos”, descreve Heloísa Espada.
O alemão Peter Scheier, por sua vez, “fotografou os primeiros habitantes do plano piloto e tentou mostrar que Brasília não era um lugar inóspito”, ressaltou.
Para além do documento histórico, a exposição dedica-se a abordar, a partir de 11 fotógrafos e artistas plásticos, diferentes perspectivas da transformação de Brasília da década de 60 até a actualidade.
“Queremos criar um contraponto. Fazer com que o visitante fique entusiasmado com a beleza da arquitectura de Niemeyer, mas que provoque um questionamento do devir”, analisa a curadora.
Segundo Espada, Brasília não é como “qualquer outra cidade” e, por ser a capital, ela apresenta uma “arquitetura sui generis, tornando-a num ícone nacional”.
Os 50 anos da cidade, salienta a historiadora, representam um momento de reflexão para repensar o urbanismo, a arquitectura monumental nos dias de hoje e Brasília como um centro político.
A junção entre estética e poder nos espaços públicos torna a exposição, por si só, “cheia de contradições”, resume Espada, a partir dos diferentes pontos de vista apresentados pelas lentes fotográficas em relação aos pioneiros, aos seus fundadores e à imagem de como a cidade se modificou ao longo das décadas.