Obra de Fernando Távora revisitada no Porto
Duas décadas depois, Távora e a sua arquitetura continuam a despertar admiração
Lusa
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O arquiteto Fernando Távora, já falecido, e a sua obra inauguraram terça feira à noite, no Porto, o ciclo de vídeo “Discursos (Re)visitados” organizado com base nas Conferências ‘Discursos sobre Arquitetura’, FAUP, 1990.
A sessão inaugural atraiu cerca de 160 pessoas que lotaram o antigo Cinema Passos Manuel, no Porto, apenas para ouvir Távora e a conferência que ele deu então na Reitoria da Universidade do Porto, há 20 anos.
O arquiteto “falou” das suas obras, como a remodelação do Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto, a Escola Superior Agrária de Ponte de Lima, a esquadra da PSP em Guimarães, cidade onde aliás viveu e trabalhou muito.
Távora, considerado um dos fundadores da chamada Escola do Porto de arquitetura, mestre de Siza Vieira de Souto Moura, explicou, nessa conferência, que os seus projectos prestavam uma “atenção rigorosa às pré-existências”, ou seja, ao lugar e à sua história.
Souto Moura foi seu “aluno e amigo” e frisou que Távora foi o “percursor do movimento moderno em Portugal”, mas depois, com os anos, “foi-se desviando” e aproximou-se cada vez mais de uma arquitetura influenciada pelos valores locais e pela história.
Na conferência de há 20 anos, com efeito, Távora fez como que uma introdução histórica de cada um dos projetos apresentados, inclusive para os que diziam respeito a construções integralmente novas.
“No fim, quase só fez restauro”, completou Souto Moura.
Exemplos disso foram a recuperação do Convento de Santa Marinha, Guimarães, o trabalho desenvolvido no Centro Histórico da mesma cidade, que entretanto foi classificado Património da Humanidade, e o restauro do Palácio do Freixo, no Porto.
Souto Moura assinalou que Siza Vieira seguiu outra via, praticando “uma heterodoxia” que o fez ser “holandês na Holanda, alemão na Alemanha e português em Portugal”, por sinal com sucesso idêntico.
“Eu sou a arquitetura portuguesa”, costumava dizer Fernando Távora, que morreu em 2005, com 83 anos.
Para Souto Moura, não há dúvidas: “ Foi o expoente máximo” da arquitetura portuguesa.
Este ciclo – organizado pela Ordem os Arquitetos-Secção Regional do Norte, em parceria com a Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP) – pretende constituir-se como “um espaço de reflexão sobre a permanência dos discursos sobre arquitectura e a sua relação com a passagem do tempo”.
As conferências realizadas há 20 anos constituem um “material riquíssimo”, que ficou registado em vídeo e é agora apresentando, segundo disse à Agência Lusa o comissário deste ciclo, Jorge Figueira, como uma espécie de “revisitação” desse tempo.
Jorge Figueira realçou que em 1990 “a obra de Siza Vieira torna-se internacional e com ele vem também a fama da Escola do Porto” em vários países europeus, tendo-se verificado “um interesse generalizado pelo que estava a acontecer aqui”.
As Conferências ‘Discursos sobre Arquitetura’ foram ao encontro desse interesse e permitiram levar ao Porto vários grandes arquitetos estrangeiros, como David Chipperfield, James Stirling ou Rafael Moneo, além dos portugueses Távora e Siza.
Duas décadas depois, Távora e a sua arquitetura continuam a despertar admiração, pelo menos a avaliar pelas cerca de 100 pessoas que se mantiveram no Passos Manuel até quase às 02:00 de hoje, altura em que terminou a primeira sessão deste ciclo, que regressa já dia 9