Ateliê à lupa
Brute DeluxeActuam entre Lisboa e Madrid por opção própria, por considerarem ser uma vivência enriquecedora. Repartindo a criatividade entre a arquitectura e as instalações efémeras, a luz e a criação […]

Ana Rita Sevilha
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Brute DeluxeActuam entre Lisboa e Madrid por opção própria, por considerarem ser uma vivência enriquecedora. Repartindo a criatividade entre a arquitectura e as instalações efémeras, a luz e a criação de atmosferas é sempre uma referência. Nome de código: Brute Deluxe
À luz da experimentação
Como nasceu o atelier e porque "Brut Deluxe"?
Isabel Barbas (IB): Nós começamos a trabalhar fazendo pequenos concursos de iluminação, aliás é por isso que hoje em dia ainda estamos a fazer iluminações de Natal, nomeadamente em Madrid onde vamos inaugurar as iluminações na Avenida de Recoletos. Este tipo de trabalho foi iniciado há quatro anos quando ganhámos um pequeno concurso lançado a jovens artistas e arquitectos. Nós ganhámos nessa altura o concurso e ficámos muito contentes, mas não sabíamos muito bem como é que as coisas iam correr. E aí, de repente perguntaram-nos qual era o nome do atelier e nós não tínhamos nome, tínhamos apenas pensado que teria graça falar em "Brut Deluxe". Porque fazíamos arquitectura mas também tínhamos umas intervenções assim mais de território, que eram mais brutas e tínhamos a questão da luz, que nos encaminhava para o Deluxe. Era assim um trocadilho de palavras que tinham a ver com a questão dos ambientes
Repartem actividade entre Lisboa e Madrid, como é que o atelier funciona em termos de trabalho?
IB: Nós trabalhamos mais em Madrid, mas vamos fazendo trabalhos cá também e gostávamos de ter mais, mas a maior parte do trabalho é em Espanha. Logo, é lá que temos colaboradores e uma sede mais estruturada.
Bem Busche (BB): Temos gabinete nas duas cidades por vontade própria, pelas mais-valias de estar em dois países, o que na hora de organizar requer um esforço extra. Em qualquer caso, não só é uma decisão profissional como também pessoal, queremos desfrutar a viver as duas cidades com suas respectivas diferenças. É algo que nos enriquece.
Qual a filosofia pela qual se rege o gabinete?
IB: No acto criativo é muito pessoal, e nisso temos sinergias que se acabam por complementar, eu e o Ben, porque há uma atitude mais pragmática, de racionalizar o que é que se pretende. Portanto partimos de um conceito e depois desenvolvemos muito através do desenho, também temos muito esta actividade artística, existe muito a necessidade de experimentar através de outros suportes.
BB: A filosofia é a de que o projecto tem de nos interessar. Não é que recusemos projectos, mas é essencial do ponto de vista do processo criativo encontrar algo especial em cada projecto, que nos interesse a nós e aos outros. O processo experimental desenvolve-se focando o projecto a partir de diferentes pontos de vista – artístico, politico, ecológico, funcional, entre outros – e tentamos encontrar respostas diferenciadas, nuns casos de uma forma intuitiva, de outros de maneira mais consciente e progressiva.
Trabalham com equipas multidisciplinares. São sempre formadas por arquitectos?
BB: Trabalhamos de uma maneira multidisciplinar com uma equipa multinacional. A equipa interna forma-se mediante cada ocasião, mas somos pequenos o suficiente para que todos possam contribuir com o seu ponto de vista. Interessa-nos a parte "ingénua" destas colaborações, por exemplo alguns dos desenhos de iluminação inspiraram-se em desenhos que pedimos a crianças para fazer.
"Integram estratégias científicas e aproximações artísticas no processo criativo". Como se processa essa integração?
IB: Quando se fala em intervenções científicas tem a ver mais com a análise de dados concretos, como por exemplo no caso da instalação para a EDP, os ventos que existiam, como trabalham esses ventos, como trabalha o moinho com estes ventos, uma investigação deste tipo, mais científica, porque como gostamos de trabalhar com questões atmosféricas, muitas vezes estas questões tem a ver com ambientes que se criam. A parte artística é a parte da criação, que nós, pelo menos no começo, gostamos de ser mais artísticos porque nos inspira essa componente.
BB: De uma forma geral e aparte do resultado final, o processo criativo é para nós fundamental. Geralmente partimos de uma ideia atmosférica que elaboramos através do diálogo. O projecto para a EDP ou para a porta da feira de Málaga são bons exemplos disso. Na busca de uma atmosfera, a nossa memória, recordações e paranóias tem um papel essencial. Posteriormente tentamos encontrar uma estratégia e decidir qual a ferramenta mais adequada que nos acompanhe e inspire ao longo do processo criativo.
Acham que a arquitectura deveria ser mais plástica?
IB: Não, acho é que há lugar para todos. Que a arquitectura funcional e racional e com menos plasticidade também é muito importante, até porque se as cidades fossem todas peças de excepção, estou a lembrar-me do Guggenheim em Bilbao, gosto muito dele pela sua plasticidade, mas não faz disso uma escolha primária. Agora se me perguntarem o que é que eu prefiro fazer, se calhar eu diria que prefiro fazer um edifício assim, como o Guggenheim, singular, mas acho que a arquitectura nunca pode ser uma escultura ou um objecto artístico, existe sempre a componente funcional, da utilidade e da utilização das pessoas, e portanto tem de ter uma missão e tem de funcionar. E a boa arquitectura é sempre uma peça artística, independentemente de ser mais ou menos plástica.
BB: Não deve ser mais plástica. Cada projecto é um mundo e requer uma resposta diferenciada. Mas é verdade que a plasticidade é um tema que nos interessa.
Que tipo de relação se cria com um projecto de arquitectura efémera?
IB: Lida-se muito bem. O peso de ter de ficar para sempre não existe, portanto podemos arriscar mais, podemos ser menos preocupados com algumas questões, porque sabemos que mesmo que possa falhar alguma coisa nunca vai ser um erro tremendo com o qual vais levar durante 50 anos. O nível de erro não é o mesmo, é uma coisa estética, inócua do ponto de vista construtivo, mas que também tem muita responsabilidade. Não existe um sentimento de perda porque já sabemos que é efémera e a forma como nos debruçamos sobre o assunto é totalmente diferente.
Como definiria a arquitectura que se faz no "Brut Deluxe"?
IB: Pretende ser boa arquitectura. Não há propriamente uma linha ou um conceito base, gostamos muito de experimentar, agora os resultados acabam inevitavelmente por se tocar. Mas acho que não estamos agarrados a um estilo, nem nos interessa, e acho que existe uma evolução. Para nós é importante trabalhar o espaço e a matéria.
BB: A nossa arquitectura é produto da sobreposição das nossas paranóias pessoais com as necessidades específicas do projecto. Evidentemente, somos conscientes só de uma parte das obsessões e traumas que nos perseguem, como por exemplo a preocupação com a criação de atmosferas artificiais intensas, a textura, a adaptabilidade dos materiais, entre outros. O outro lado, mais oculto, revela-se com o tempo e através do trabalho. Nesse sentido, e mantendo a mesma linguagem pode-se definir a nossa arquitectura como psicosomática, psico=alma e soma=corpo.
ficha técnica
Nome: Brut Deluxe
Morada (Lisboa): Rua Maria Veleda 4, 8 A, 1500 Lisboa
Telefone/ Fax: 271 15 18 77
Morada (Madrid): C/ Alburquerque, 5-5 Izq, 28010 Madrid
Telefone/ Fax: (+34) 91 559 33 95
URL: www.brutdeluxe.com
Mail: info@brutdeluxe.com
Projectos: Plaza de la Luna, Madrid; Reforma do antigo depósito de água Fuencarral, Espanha; Iluminação do Bairro das Letras, Madrid (2006-2007); Iluminação da Gran Via, Madrid (2006-2007); Iluminação do Passaioe Recoletos, Madrid (2006-2007); Instalação para a fachada da EDP, Lisboa (2006); Casa das Artes, Cádiz; Feira do Livro, Madrid