Investimento e turismo dos EUA consolidam posição e batem recordes em Portugal
“Mais turistas, mais investimento e um número de voos como nunca antes visto”. Momento actual das relações Portugal – EUA é marcado pelo crescimento: do comércio, do investimento e do número de turistas, ainda que ao primeiro faltem infraestruturas, do aeroportuárias e não só, e agilidade burocrática, alertaram especialistas durante a conferência “Turismo & Imobiliário no âmbito das relações Portugal / EUA”, decorrida no hotel Pestana Palace Lisboa
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As relações comerciais, de investimento e trânsito de turistas entre os EUA e Portugal vivem um clima de grande entusiasmo, com indicadores perto de recordes históricos, ou já mesmo em máximos. A conclusão provém da conferência “Turismo & Imobiliário no âmbito das relações Portugal / EUA”, organizada pelo Pestana Hotel Group e Câmara de Comércio Americana em Portugal (AmCham) e moderada por José Roquette, Board Member & Chief Development Officer do grupo hoteleiro português.
O peso deste país na formação do PIB português é crescente, designadamente no chamado “motor da economia” portuguesa, o turismo, em que os norte-americanos foram a nacionalidade que mais cresceu em 2022, face a 2019. Do total de hóspedes de mercados internacionais em Portugal, cerca de 10% provêm daquele país, um ganho de quota resultante do crescimento de 25,3% face ao ano pré-pandémico, ao passo que o balanço da generalidade dos turistas internacionais em Portugal aponta um decréscimo de 6,7%. “Foi a origem de turistas que mais cresceu”, explicou António Martins da Costa, presidente da AmCham, desvendando ainda que os cidadãos dos EUA reforçaram as despesas turísticas em 52%, crescimento superior ao de qualquer outra das nacionalidades acolhidas no país.
Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, revelou um crescimento de dormidas de norte-americanos em Janeiro e Fevereiro para mais do dobro, comparado com os dois meses homólogos de 2019. ‘Portugal está tão próximo de Nova Iorque quanto a costa leste daquele país’, nota Luís Araújo.
Numa análise mais lata, a balança comercial revela-se claramente favorável a Portugal, explicou António Martins da Costa: os EUA evoluíram para primeiro destino das exportações portuguesas fora do espaço comunitário, e são hoje “um parceiro incontornável, pelo que tudo o que seja incrementar esta relação transatlântica traz benefícios para ambos os lados”. Sinal deste posicionamento, a transacção de bens e serviços terão registado 9.000 milhões de euros de exportações nacionais para o outro lado do Atlântico e 5.200 milhões de euros no sentido inverso, segundo dados provisórios recolhidos pela AmCham.
Beneficiando do reforço do número de ligações aéreas directas entre os dois países, os 27 milhões de desembarques de norte-americanos em Portugal (metade dos quais em Lisboa) ao longo de 2022 deverão acelerar ainda mais este ano, antevê o presidente da AmCham. Comparando com dados de 2016, Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, explica que os lugares disponíveis em ligações directas são hoje o dobro: 2 milhões. Isto faz dos EUA o maior mercado de long haul para Portugal, seguido do Brasil, Canadá, Israel e Austrália. Entre os efeitos colaterais encontra-se o reforço no imobiliário e a exportação de vinhos, conta o presidente do Turismo de Portugal. Neste caso, o crescimento da exportação vínica é proporcional ao do número de turistas.
EUA superam França e são agora os maiores investidores internacionais em Portugal
Sofia Lufinha, Chief Strategy Officer da TAP, apontou um crescimento de 40% nas frequências de voos dos EUA para Portugal, face a 2019. Com mais norte- americanos nos voos da TAP, aumentam também as receitas para a companhia. Na relação entre o primeiro trimestre de 2019 e o período homólogo de 2023, o número de passageiros mais que duplicou, e a receita triplicou.
Apesar do reforço, há ainda muito caminho para andar, nota John Calvão, investidor luso- americano que liderou a Arrow Capital em Portugal de 2010 a 2015, e que aponta ao país o excesso de burocracia. “Somos muito, muito, muito burocráticos. Mudamos de opinião a todo o tempo, há alterações fiscais de ano para ano. Os investimentos feitos a 5, 10, 20 anos, como desenvolvimento imobiliário ou hotéis, não podem dar-se ao luxo da inconsistência das leis, especialmente fiscalidade”.
No imobiliário, área muito associada aos ‘Golden Visa’ (ARI, Autorizações de Residência para Actividade de Investimento), os cidadãos dos EUA valeram 12% do investimento em imobiliário realizado nos últimos dez anos em Portugal. A confiança depositada em Portugal resultou, em 2022, no posicionamento dos norte-americanos como maior investidor internacional (muito por via das ARI), ultrapassando, inclusive, os franceses. “Os americanos não só são a fonte que está a aumentar mais o número de turistas e despesa de turismo induzida em Portugal com crescimento mais acelerado, como em termos de investimento imobiliário são os que têm maior presença, tendo passado para primeiro lugar”, explicou António Martins da Costa.
Patrícia Barão, Diretora do Departamento Residencial da JLL Portugal, enalteceu o papel dos norte-americanos em Portugal num passado recente, culminando num recorde de investimento alcançado em 2022, explicou. “Descobriram Portugal nas várias vertentes de imobiliário”, notou, com uma “evolução grande nos últimos cinco a seis anos em investimento no imobiliário comercial. No total, em 2022, o investimento americano foi de 1150 milhões de euros, representando 33,7% do total investido em Portugal no imobiliário comercial. Tivemos portfolio com pesos grandes – o portfolio Crow, de hotelaria, representou 850 milhões de euros. Grandes fundos, como Blackstone, investiram no total 300 milhões de euros em portfolio industrial e de logística”.
Números relativos ao primeiro trimestre de 2023, apresentados por Patrícia Barão, mostram os norte-americanos como intervenientes em 67% do investimento imobiliário comercial em Portugal, crescimento exponencial face à quota de 6% em 2016. No segmento do imobiliário residencial, das 170 mil transacções no ano passado, apenas 6% foram responsabilidade do mercado internacional. Os EUA representam 15% desta quota internacional, quando em 2016 eram apenas 2%.
Apesar de constrangimentos como a burocracia e as longas demoras na aprovação de projectos, Portugal apresenta a tetralogia hospitalidade/segurança/clima/gastronomia, a que se juntam preços abaixo dos praticados nos EUA. Patrícia Barão deu disso nota com o exemplo de uma família que vendeu um imóvel na Florida e com a receita adquiriu uma casa em Cascais e ainda lhe restou um aforro para uma vida confortável em Portugal. “Não há dúvidas de que estamos no radar dos americanos”, aponta a especialista.
A conferência “Turismo & Imobiliário no âmbito das relações Portugal / EUA”, organizada pela AmCham, contou com o apoio do Turismo de Portugal, Pestana Hotel Group, Arrow, TAP Air Portugal, KLM, Air France, Delta Air Lines e JLL.