“Estamos num momento crítico para o sector da construção”
Constituído em 2006, o Instituto de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico para a Construção, Energia, Ambiente e Sustentabilidade (Itecons), funciona como uma ponte entre a comunidade científica e a indústria, focando-se em áreas como construção, energia, ambiente e sustentabilidade. Um papel cada vez mais relevante como explica António Tadeu, presidente do Itecons ao CONSTRUIR

Manuela Sousa Guerreiro
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O Itecons tem vindo a consolidar a sua posição como um parceiro estratégico no sector da construção, combinando inovação, proximidade com a indústria e uma visão alinhada com os desafios actuais e futuros. Em 2024, o instituto registou os melhores resultados da sua história, um reflexo do crescimento contínuo que tem sido sustentado por investimentos em equipamentos de ponta e na contratação de recursos humanos especializados. António Tadeu, presidente do instituto, acompanha o percurso e o crescimento deste desde a sua formação em 2006. Um percurso alinhado com o apoio à indústria e, em particular ao sector da Construção, na sua transição verde e digital. Em 2024, o Itecons apoiou cerca de meio milhar de empresas sendo, incontornavelmente um motor de inovação e sustentabilidade no sector da construção
Em termos orgânicos como é que o Itecons está hoje estruturado? Quais os resultados registados em 2024?
Do ponto de vista organizacional, as áreas de actividade do Itecons agrupam-se em seis unidades: Investigação e Desenvolvimento Tecnológico, Medição e Ensaio, Metrologia, Consultoria, Avaliação Técnica e Formação e Eventos. Estas seis unidades são apoiadas transversalmente por órgãos de staff que constituem a Gestão Administrativa e Financeira, Gestão de Infraestruturas e Meios Informáticos, Gestão da Qualidade, Segurança e Ambiente, Manutenção de Equipamentos, bem como a Promoção e Apoio ao Cliente.
Os resultados em 2024 foram os melhores de sempre. O Itecons ainda não parou de crescer, o que, em parte, resulta de o Itecons continuar a efectuar investimentos em equipamentos e a contratar recursos humanos especializados que visam reforçar as suas competência e capacidades em novas áreas emergentes.
Quais são as áreas de actividade que mais cresceram recentemente, e como é que o Itecons se está a posicionar para acompanhar as tendências emergentes no sector da construção?
Como seria de esperar, as áreas que revelam maior tendência de crescimento estão intrinsecamente ligadas às prioridades da União Europeia relacionadas com a transição digital, transição verde, eficiência energética, hídrica e circularidade de recursos, adaptação às alterações climáticas, para referir apenas algumas. Como já referi, o Itecons tem reforçado transversalmente os grupos de trabalho que actuam nestas áreas, quer através da contratação de recursos humanos altamente qualificados, quer através da actualização de infraestuturas e equipamentos.
O Itecons destaca-se pela sua ligação próxima com a indústria. Como é que esta relação tem sido construída e mantida ao longo do tempo, e de que forma ela beneficia tanto as empresas como o próprio instituto? Quantas empresas trabalham hoje com o Itecons?
O Itecons envolveu sempre as empresas desde a sua criação. O Itecons foi criado em 2006 com o apoio, na altura, de cerca de 50 empresas e o caminho feito até hoje tem sido em parceria com a indústria. Faço notar que o Itecons não tem orçamento de estado, pelo que a receita provém quase exclusivamente dos serviços que presta e de fundos competitivos, maioritariamente obtidos de projectos em colaboração com a indústria. O número de clientes que recorre aos serviços do Itecons tem crescido, tendo sido superior a 500 no ano passado.
Pode dar-nos exemplos concretos de projectos ou parcerias com a indústria que ilustram este papel de apoio e transferência de conhecimento?
Os exemplos que poderiam ser dados são muitos e variados. Estes incluem o desenvolvimento de novos sistemas construtivos com incorporação de resíduos, novos materiais com elevado desempenho, novas técnicas de monitorização da condição de estruturas (nomeadamente de modo remoto e usando sinais transmitidos via satélite) e técnicas inovadores de impressão de compósitos cimentícios. Estamos num momento crítico para o sector da construção, com desafios como a sustentabilidade, a digitalização e a eficiência energética a ganharem destaque.
Quais são, na sua perspectiva, as exigências mais prementes que o sector enfrenta actualmente?
Estes desafios são transversais a todos os agentes do sector da construção, sendo que os materiais e produtos de construção exercem um papel determinante. Os fabricantes deparam-se com a necessidade de implementar medidas de melhoria essenciais numa perspectiva de economia circular, atenta à racionalização de recursos, minimização de resíduos e aumento da vida útil dos produtos, sem descurar a inovação. O ciclo de vida dos produtos e das obras de construção passam a ter um papel preponderante, trazendo com ele a necessidade de pensar e repensar os processos, os materiais, o transporte ou distribuição, a utilização, o tratamento de fim-de-vida e o destino final dos produtos de construção e dos edifícios.
Os desafios são diversos, e a publicação do novo Regulamento dos Produtos de Construção, publicado em finais de 2024, vem de alguma forma fazer mexer o sector em todas essas vertentes. O novo quadro regulatório estimula as empresas a procurarem soluções de sustentabilidade e eficiência que se traduzirão, mais à frente, em vantagens competitivas e a uma melhor aceitação por parte dos consumidores.
Quais são as áreas mais dinâmicas e promissoras que o Itecons está a explorar para responder a esses desafios, e como é que o instituto está a preparar o terreno para o futuro da construção?
Ocorre-me destacar três áreas no Itecons. A primeira é a Unidade de Avaliação Técnica que detém o conhecimento em todo o processo de marcação CE de produtos de construção e onde está operacionalizado o Organismo de Avaliação Técnica. É através desta Unidade que há transferência de conhecimento no âmbito da marcação CE de produtos de construção para a indústria. Neste, âmbito, existe um importante contributo da Unidade de Medição e Ensaio, enquanto Organismo Notificado Sistema 3 para produtos de construção.
Outra área, é a da Sustentabilidade, onde se realizam as análises de ciclo de vida que vão permitir aos fabricantes dar resposta aos novos requisitos neste âmbito e onde damos apoio aos fabricantes na desclassificação de resíduos, sendo o Itecons reconhecido pela APA para efeitos de aplicação do Novo Regime Geral de Gestão de Resíduos no que se refere à Atribuição da Classificação de Subproduto.
Importa, ainda destacar a área da digitalização, que tem contribuído para transformação e modernização do sector da construção.
As empresas que conseguirem adaptar-se mais rapidamente a todos estes desafios estarão, certamente, mais bem posicionadas para prosperar num mercado cada vez mais exigente.
Novo regulamento dos produtos da construção alinhado com as metas europeias de sustentabilidade
Adoptado a 27 de Novembro o novo regulamento europeu 2024/3110, que saliente o presidente do Itecons, introduz várias inovações significativas no sector dos produtos de construção. Estabelece as regras harmonizadas para a comercialização dos produtos de construção, revogando a legislação de 2011. As novas regras alinham o sector com as metas europeias de sustentabilidade e aceleram a digitalização
Entre as alterações que o novo regulamento vem ditar destaque para o incentivo de práticas sustentáveis e a digitalização no sector da construção, visando reduzir o impacto ambiental dos produtos de construção e promover a eficiência energética.
O diploma estabelece a criação de um passaporte digital para produtos de construção, facilitando o acesso a informações detalhadas sobre as suas características, desempenho e conformidade, e centra o seu foco na reutilização e a remanufactura, promovendo a economia circular e a redução de resíduos no sector. O critério de sustentabilidade poderá também ser aplicado na selecção de fornecedores em procedimentos de contratação pública.
Este regulamento entra em vigor 20 dias após a sua publicação no Jornal Oficial da União Europeia, com a maioria das disposições aplicáveis a partir de 8 de Janeiro de 2026. No entanto, alguns artigos e anexos específicos serão aplicáveis a partir de 7 de Janeiro de 2025, e outros a partir de 8 de Janeiro de 2027.