Nuno Garcia, director-geral da Gesconsult
“Existem condições para uma retoma em força no primeiro trimestre de 2021”
Nuno Garcia, director-geral da GesConsult falou sobre a forma como a empresa se está a adaptar, ao mesmo tempo que mantiveram as obras em curso
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Nuno Garcia, director-geral da GesConsult falou ao CONSTRUIR sobre o período em que vivemos em plena Pandemia do Covid-19 e a forma como a empresa se está a adaptar. Entre medidas que seriam aconselháveis por parte do Governo e as respostas que o sector está a dar, Nuno Garcia acredita que, no melhor dos cenários, existem condições para uma retoma em força no primeiro trimestre de 2021
Deveriam as empreitadas ter sido suspensas?
A decisão não é fácil nem pode ser tomada de ânimo leve, porque estão em jogo muitos factores, obrigações contratuais entre promotores, banca e clientes, a sobrevivência de muitas pequenas e médias empresas e, acima de tudo, postos de trabalho que se tentam preservar. A saúde de cada um de nós é o mais importante e não existe economia sem saúde, mas sendo a construção um dos principais motores da economia, a sua paragem iria reflectir uma conta muito pesada no final.
É certo que vemos as obras com um outro ritmo, com as equipas ajustadas à situação em que vivemos, com algumas dinâmicas diferentes que não permitem dar a mesma resposta de há uns meses, mas também temos visto um esforço enorme para que as obras não parem e para que sejam criadas as condições mínimas de funcionamento – atitude que, a meu entender, será a mais acertada para esta fase que estamos a viver, para que se minimizem os riscos para as pessoas, para os negócios e para o sector.
Numa obra, com um elevado número de pessoas a trabalhar, é impossível não existir um certo risco de contágio, pelo que a pandemia exige um esforço extra de todos os envolvidos. Há que reforçar as regras de higiene e segurança, garantir equipamento de protecção individual para os profissionais (luvas, máscara) e sensibilizar todos, repetidamente, para que tenham os comportamentos mais adequados. Se isso for feito, acredito que temos condições para continuar a construir. Mas, claro, se for identificado algum caso positivo de Covid-19 numa obra, também é urgente parar e colocar a obra em quarentena, para segurança de todos.
Que medidas devem ser tomadas por parte do Governo para minimizar o impacto desta situação?
Sendo uma situação tão peculiar e para a qual nenhum de nós estava preparado, qualquer ajuda que possa vir por parte do Governo é essencial para que o sector se mantenha de pé.
É importante que se mantenham os investimentos públicos que estavam previstos, para que o sector se mantenha activo, e que se criem condições para que o investimento privado continue. Na crise de 2008, foi o capital privado que faz renascer o sector e agora não será diferente, pelo que é premente a manutenção de programas como os “vistos gold” e a isenção de taxas urbanísticas. Simplificar os processos e ser céleres nos licenciamentos também são prioridades se queremos continuar a cativar investidores. O lançamento recente do projecto Urbanismo Digital, por parte da Câmara Municipal de Lisboa, é um excelente exemplo do que se pode fazer para agilizar processos. Espera-se que esta novidade venha dar um novo ritmo aos licenciamentos e que surjam novas obras muito em breve – aliás, já se começaram a anunciar novos investimentos. O ideal seria que, agora, este exemplo fosse seguido por outra câmaras pelo País.
No caso concreto da Gesconsult como está a ser ‘vivido’ este período no terreno?
Na GesConsult, adaptámo-nos às circunstâncias e continuamos a garantir aos nossos clientes todo o leque de serviços que prestamos. As visitas às obras continuam com as devidas medidas de segurança, nomeadamente com a utilização de equipamentos de protecção individual, respeitando as distâncias de segurança. Tentamos também que as visitas às obras sejam feitas em horários em que a presença de trabalhadores é mais reduzida. Por outro lado, todas as reuniões com donos de obra, equipas de projecto e entidades licenciadoras são essencialmente feitas por teleconferência. A produção de todo o trabalho relativo à gestão administrativa das obras, controlos económicos, elaboração de atas e todo o trabalho intelectual que é produzido está a ser feito a partir casa por cada um dos nossos colaboradores. O espírito de grupo mantém-se com a realização de encontros por meios digitais, sempre com uma atitude positiva e com vontade de ultrapassar esta situação o mais rapidamente possível.
Que implicações teremos a médio/longo prazo tendo em conta as actuais condicionantes com que se trabalha?
Nos últimos meses, sentia-se um ambiente de confiança, tanto entre o sector, como dos investidores estrangeiros que procuravam o país para investir. Esta pandemia abalou de algum modo essa confiança, que só será retomada com o passar dos meses. O facto de nesta fase não se estarem a efectivar negócios faz com que exista uma quebra imediata na transacção de imóveis, elaboração de projectos e licenciamentos, o que levará, inevitavelmente, a uma quebra de obras novas a médio prazo, isto é, até início do 2021. Acredito que sendo ultrapassada a pandemia, e caso não exista uma segunda vaga com o mesmo impacto no final do presente ano, existam condições para uma retoma em força no primeiro trimestre de 2021. Portugal continua nos radares dos principais investidores estrangeiros: apresentámo-nos novamente como os “bons alunos” na forma como estamos a lidar com esta pandemia – seja pela forma como o país se organizou de forma pacífica e global para a fase de contenção da doença, como na celeridade da tomada de decisões para apoio à economia por parte do Governo – o que faz com a confiança dos investidores em Portugal se mantenha.
Por outro lado, os investimentos previstos têm sempre uma perspectiva de longo prazo, pelo que as tendências que verificávamos pré Covid-19 deverão regressar no início de 2021. O investimento publico também terá um papel fundamental na alavancagem e regresso à normalidade do sector e tenho a convicção que o investimento que estava previsto se irá manter. É muito importante que exista por parte do Governo e autarquias sinais de confiança e de vontade de continuar os projectos previstos.
O momento que vivemos não é fácil, todas as empresas foram afectadas por uma diminuição do volume de negócio esperado para este ano, o que poderá levar ao fecho de algumas empresas e, consequentemente, existir um aumento do nível de desemprego no curto/médio prazo. Serão as empresas com maior destreza em conseguir um equilíbrio entre a gestão de negócio e de equipa, garantindo a manutenção dos postos de trabalhos, que melhor estarão preparadas para a retoma que há inevitavelmente de surgir. Mas reconheço que conseguir esse equilíbrio não é fácil.
Qual o papel da Ordem dos Engenheiros?
A Ordem dos Engenheiros tem, nesta situação, um papel essencial na criação de directrizes gerais para serem seguidas pelos profissionais, mas também um papel de agente interventivo junto das entidades competentes e governamentais para criação de condições que permitam ao sector ultrapassar esta pandemia. É igualmente expectável que a Ordem tome uma posição relativamente a investimentos públicos estruturantes, incentive à criação de condições ao investimento, nomeadamente à isenção de taxas e impostos urbanísticos, e que sensibilize os órgãos decisores para a importância da celeridade das aprovações camarárias nos processos de licenciamento em curso, para que consigamos avançar com investimentos o mais rapidamente possível.
Tendo em conta o vosso trabalho e a percepção que têm do mercado actualmente é possível quantificar (aproximadamente) os prejuízos?
É, para já, imprevisível a duração desta pandemia, assim como os seus efeitos. Não sabemos se vai durar mais um mês, ou até ao inverno, e se existirá uma segunda vaga. E, por isso, também não sabemos como o próprio sector vai estar daqui a um mês ou daqui a dois meses, porque isso depende também da evolução da pandemia. Mas é certo que estará combalido. Existe um esforço grande de todos para que as obras não parem, mas o investimento nesta fase está parado, o que significa um retrocesso no sector e tudo isto vai culminar em perdas financeiras muito avultadas e, consequentemente, no aumento do desemprego – que tem um impacto imensurável.
Mas da experiência temos já de outros períodos de crise, sabemos que estas situação têm um prazo de validade e que retomaremos a actividade com a dinâmica que se verificava no início deste ano. Temos de estar preparados para o pior, mas esperar o melhor. Acredito que, com o empenho de todos, o sector vai conseguir retomar a normalidades já no início de 2021.