Cidades e alterações climáticas. O que urge fazer?
Para Lívia Tirone, “falamos há muito de processos participativos – mas não tem sido o que verdadeiramente acontece em muitos que se definem como tal”
Ana Rita Sevilha
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No âmbito da apresentação do concurso “Europan 13 – A Cidade Adaptável”, em Lisboa, o ministro do Ambiente defendeu que as cidades portuguesas têm de se adaptar às alterações climáticas, através de projectos de arquitectura com “uma fortíssima componente de sustentabilidade e eficiência energética”. Na altura, João Matos Fernandes, expressou ainda a vontade de “ter cidades o mais sustentáveis possível também com o uso frequente do transporte colectivo e com grande eficiência energética por parte dos edifícios”. À luz das declarações e intenções do ministro, o CONSTRUIR falou com Lívia Tirone, arquitecta, consultora dedicada ao alargamento de boas práticas na construção com vista à resiliência urbana e à prosperidade renovável e pessoa que há muito vem alertando para este facto.
Cidade
Ao CONSTRUIR, Lívia Tirone lembrou que “as cidades são compostas sobretudo pelas pessoas (e os demais seres vivos), também pelos edifícios, pelos sistemas (incluindo infra-estruturas), pelos recursos, também naturais … e a capacidade de adaptação individual e colectiva destas componentes é um desafio que reconhecemos como importante. Da importância do meio edificado não há dúvidas, nem que seja porque as pessoas passam 90% do seu tempo em edifícios”. Para a arquitecta, “sendo nas cidades que se concentram as pessoas e, também, os edifícios, é nestes espaços que precisamos certamente de intervir”. Livia Tirone recordou que “Lisboa foi integrada no programa 100 Resilient Cities da Rockefeller Philathropy Advisors para desenvolver o seu plano para a resiliência. No âmbito deste trabalho ficará bem claro quais as medidas principais em que precisamos de investir”. Contudo, acrescenta, “falamos há muito de processos participativos – mas não tem sido o que verdadeiramente acontece em muitos que se definem como tal. Na perspectiva que tenho, a capacitação do processo participativo para a adaptação é o que mais urge fazer”. Passando para a escala do edifício, Lívia Tirone explica ao CONSTRUIR que é preciso “colocar a escala do edifício no primeiro plano da adaptação” e “Simultaneamente explorar ao máximo o potencial renovável que o nosso privilegiado contexto climático nos oferece – o que passa primeiro pela visão e coragem política de partilhar com esta escala o direito de acesso ao sol e à chuva”.
Agentes de mudança
Mas então, quem são os principais agentes desta mudança e qual o papel do arquitecto? “Os agentes são todos os habitantes e utilizadores do meio edificado e da cidade! O que poderá ser feito precisa de ser resultado de um trabalho participado pelo mais largo quanto possível leque de intervenientes urbanos. Apenas as decisões participadas e que se constroem sobre consenso (ou pelo menos confiança), serão verdadeiramente aptas para serem colocadas em prática”, esclarece Lívia Tirone. Quanto ao arquitecto, o seu papel é o de “facilitar a comunicação entre actores relevantes, identificar e comunicar as possibilidades de cada espaço a intervencionar, colaborar nos processos como um entre muitos actores importantes, acrescentar valor com o seu conhecimento no que respeita a sustentabilidade do edificado”.
Programas
Sobre a importância dos Programas IFRRU – Instrumento Financeiro para a Reabilitação e Revitalização Urbanas, FNRE – Fundo Nacional de Reabilitação do Edificado e Casa Eficiente, para alavancar a concretização das mudanças que se urgem fazer, Livia Tirone coloca a pergunta: “para que serve disponibilizar uma chave de fendas (útil sem dúvidas) a um Golfinho (inteligente sem dúvidas)?”. Para a arquitecta, estão “mais que comprovadas as soluções que asseguram um excelente desempenho energético-ambiental do edificado, porém ainda na infância do seu respectivo desenvolvimento. É necessário realizar o importante trabalho de fundo de capacitação, envolvendo os sectores e actores relevantes, muito antes de colocar os instrumentos financeiros à disposição. Torna-se necessário abrir as redes (inteligentes e bidirecionais) e as cidades às renováveis e, através delas, a uma prosperidade alargada, na qual todas as pessoas consigam participar e beneficiar”. Lívia Tirone conclui, referindo que “todos nós, precisamos de assumir a nossa parte da responsabilidade para nos tornarmos mais prósperos de modo resiliente”.
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