Falhanço de Copenhaga leva a debate na Fundação de Serralves
O falhanço das negociações da Cimeira de Copenhaga, realizada no final do ano passado, com vista a obter compromissos dos países envolvidos, no âmbito da redução de gases de efeito de estufa,
Pedro Cristino
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O falhanço das negociações da Cimeira de Copenhaga, realizada no final do ano passado, com vista a obter compromissos dos países envolvidos, no âmbito da redução de gases de efeito de estufa, levou a que a COGEN Portugal e a Associação Portuguesa de Gestão e Engenharia Industrial (APGEI) se reunissem a fim de realizar nova conferência, a nível nacional, para alertar para a realidade das alterações climáticas. Decorrido na Fundação de Serralves, na cidade do Porto, este certame reuniu várias personalidades, de diversos sectores de actividade, para debaterem a situação e apresentarem novas ideias e soluções. Aberta pelo presidente da APGEI, Rui Guimarães, e concluída por Jorge Borrego, presidente da COGEN Portugal, a conferência “Alterações Climáticas: o Desafio Após Copenhaga” contou com a colaboração de vários interlocutores, destacando-se Keith Curtis, assessor sénior na área da Energia do Gabinete de Operações Internacionais do Departamento do Comércio dos Estados Unidos da América, que demonstrou como o seu país poderá ser um importante mercado para as empresas que operam no campo das energias renováveis.
Custos a curto prazo
No seu discurso de abertura, Rui Guimarães começou por alertar para a necessidade da “redução das emissões de dióxido de carbono” e do “desenvolvimento de uma economia global com baixas emissões de gases com efeitos de estufa”, a fim de não se comprometer “as gerações vindouras”. O presidente da APGEI mostrou-se preocupado com “a forma pouco atenta como o tema tem vindo a ser encarado por muitos de quem se espera uma actuação pautada por preocupações de ética e de responsabilidade social”. Estes comportamentos poderão ter na sua origem o facto de se tratar de “um problema cuja resolução tem, do ponto de vista social, custos de curto prazo e benefícios de médio e longo prazo”, o facto de as alterações climáticas constituírem “um problema à escala do nosso problema”, carecendo de “soluções globais” e o facto de esta ser uma questão de “extrema complexidade, cuja interpretação requer inputs de diferentes domínios, não dominados globalmente por nenhuma pessoa ou instituição consideradas isoladamente”.
Invistam nos “negócios verdes”
Apesar das acusações proferidas durante a Cimeira de Copenhaga, entre os países da União Europeia e os Estados Unidos, o representante norte-americano na conferência de Serralves iniciou a sua participação com a declaração de que o departamento que representa está pronto a prestar apoio às empresas que queiram investir nos “negócios verdes”. Keith Curtis revelou que a missão do seu departamento consiste em “criar prosperidade através do reforço da competitividade da indústria dos EUA, e da promoção do comércio e do investimento”, assegurando um comércio justo, dentro do âmbito das leis e dos acordos. Neste sentido, o responsável estado-unidense revelou um país que hoje se encontra mais sensibilizado na área da sustentabilidade ambiental, esperando obter, neste campo, um volume de negócios de 20 mil milhões de dólares (quase 15 mil milhões de euros) em 2010. Numa altura em que só alguns dos 50 estados que compõem este país têm implementados os Renewable Portfoloio Standards (regulamentos que exigem um incremento da produção de energia proveniente de fontes renováveis) e apenas 10 têm condições para o aquecimento de águas por via da energia solar, os EUA poderão ser um importante e interessante mercado para as empresas que operam neste campo – de ressalvar que empresas portuguesas como a EDP e a Martifer já operam no território norte-americano.
Um mercado com vasto potencial
Segundo Curtis, os EUA são líderes mundiais em capacidade de produção energética pelas vias eólica, geotérmica, da biomassa e solar. O fotovoltaico representa um dos mercados de tecnologia com maior crescimento, registando-se um aumento anual de 35% e a Advanced Energy Initiative, uma iniciativa implementada com o objectivo de financiar a tecnologia referente a energias renováveis, prevê a redução do custo da tecnologia fotovoltaica, de forma a que se tornem competitivas em 2015. Por sua vez, a Costa Leste do país retém recursos, a nível da energia solar, “dos melhores do mundo”. “Sete estados do Sudoeste têm recursos combinados e território disponível suficientes para gerar 6.800 gigawatts”, referiu o responsável norte-americano. No campo das energias eólicas, o território dos Estados Unidos dispõe de recursos que permitem gerar 2347 gigawatts de energia. Segundo o fundamento da Advanced Energy Initiative, “as áreas com bons recursos eólicos têm potencial para fornecer mais de 20% do consumo de electricidade” de todo o país. O estudo apresentado por Curtis considera que, neste campo, os países líderes em capacidade máxima instalada são, para além dos EUA, a Alemanha, a Espanha, a China e a Índia, classificando o Brasil como um mercado a observar com atenção. Em termos de energia geotérmica, o estudo identifica, para além dos Estados Unidos, as Filipinas, a Indonésia, o México, a Itália e a Finlândia no lote de países com capacidade máxima instalada, enquanto considera o Chile, o Quénia e a Etiópia mercados com potencial. Também no sector da produção eléctrica através da biomassa os EUA são um país líder no que se refere à capacidade máxima instalada, fazendo parte de um lote que inclui o Brasil, as Filipinas, a Alemanha, a Suécia e a Finlândia, e classificando a Indonésia, o Vietname, a Malásia e a China como mercados a analisar. Por outro lado, os EUA ganham também um especial interesse na área do investimento, se for considerado que, em 2009, foram um dos países que mais emissões de dióxido de carbono libertou no mundo, uma situação que o actual Governo do país pretende alterar.
Alterações climáticas: um desafio político
As conclusões deste certame ficaram a cargo de Jorge Borrego, após intervenções de vários oradores que abordaram a questão da eficiência energética a vários níveis, desde a sociedade de informação aos transportes. O presidente da COGEN Portugal afirmou que a Cimeira de Copenhaga “nos deixa uma herança difícil”, com grandes desafios de dois tipos: “por um lado há um desafio institucional”, que consiste em “inventar, ou reinventar, instituições capazes de gerir um problema que só pode ser resolvido a nível mundial”, enquanto que o outro desafio reside na alteração “dos equilíbrios políticos a nível mundial”. Segundo este responsável, “as alterações climáticas foram, e irão continuar a ser, um pretexto para o jogo político” que considera que será “muito duro”.