Matterpieces by studio8 ou um pequeno (grande) passo para a sustentabilidade
Uma solução de revestimentos e pavimentos produzidos a partir de resíduos de demolições é a proposta da Matterpieces by studio8, a marca criada pelo jovem gabinete de arquitectura nasceu da necessidade de maior sustentabilidade, e circularidade, da fileira construção. A marca já é uma realidade, mas são necessárias mais parcerias com a indústria para que possa crescer. ABB e DST estão entre os potenciais interessados

Manuela Sousa Guerreiro
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A urgência climática colocou uma nova enfase na sustentabilidade e a construção, uma das actividades com maior impacto ambiental no planeta, é uma das principais visadas. O sector é responsável por cerca de 38% das emissões de Co2 libertadas no mundo, por 50% de todas as matérias-primas extraídas e os seus resíduos, resultantes das actividades de demolição e construção, representam quase 1/3 dos resíduos gerados pela União Europeia. Estes mesmos dados são recordados na brochura da Matterpieces, a marca de revestimentos e pavimentos criada pelo gabinete de arquitectura studio8. “A Matterpieces é, simultaneamente, um produto e um movimento para a construção e arquitectura circular”, explica Patrícia Gomes, arquitecta e co-fundadora, a par de Luís Lima deste estúdio de arquitectura.
“Mais de 90% dos resíduos de construção/demolição são inertes (entre eles tijolo, pedra, cimento, telha, azulejo, etc..) na falta de um destino melhor estes resíduos são direccionados para enchimento de aterros, reduzindo o potencial da construção circular”. A marca enquadrasse, assim, entre a nova geração de materiais de revestimento que têm como base resíduos. Propõe a reutilização de inertes, transformando-os numa matéria-prima estratégica para a arquitectura e design de interiores, incorporando-os novamente no ciclo de vidas dos edifícios.
Esta não é uma solução em si inovadora, mas o que distingue os seus criadores foi o passarem das palavras aos actos e contribuírem efectivamente com uma solução que concorre para o upcycling de materiais que, de outra forma, seriam descartados.
“Este é um trabalho árduo porque falamos de um tema que ainda está a dar pequenos passos em Portugal. Partiu de uma necessidade do nosso atelier de incorporar resíduos dos nossos projectos e das nossas obras e começámos, de uma forma manual e puramente experimental a encontrar novas soluções que depois usávamos nos nossos próprios projectos”, conta Patrícia Gomes.
A marca vai agora a meio do percurso entra a experimentação a uma operação de larga escala. “O primeiro passo foi a vontade de querermos ter mais impacto no mundo da construção, de sermos capazes de processar toneladas de resíduos e para isso precisamos de ter escala”, sublinha a arquitecta.
Onde há vontade há caminho e já este ano o studio8 foi um dos finalistas do Triggers, um programa que pretende estimular a geração de novas ideias de impacto ambiental e a sua transformação em soluções tecnicamente viáveis e financeiramente sustentáveis. A Matterpieces foi uma das três soluções inovadoras seleccionadas, passando a integrar a incubadora da Santa Casa da Misericórdia, Casa do Impacto. “Este foi de facto um trigger do crescimento da Matterpieces, permitiu-nos chegar a muitas empresas e assim estabelecer as primeiras parcerias num mundo que às vezes nos fecha muitas portas”, considera Patrícia.
Pelo caminho foram contactando com muitas empresas fechadas sobre si, com os seus ritmos e métodos de trabalho e ainda aliadas à urgência da mudança. Mas também encontraram quem já está a pensar mais à frente. “Aliámo-nos a empresas de gestão de resíduos e demolições e que já estão a pensar no futuro destes resíduos a que têm que dar vazão, cumprindo regras e legislação, cada vez mais rígidas, de aproveitamento de resíduos”, sublinha a co-fundadora da Matterpieces.
As parcerias com a indústria
“Tudo o que é resíduo inerte é misturado em obra e ninguém sabe muito bem o que vai fazer com aquilo. Aqui o primeiro passo foi arranjar uma parceria com uma empresa de gestão de resíduos, que já faz demolição, para conseguirmos controlar internamente a forma como a demolição é feita e separarmos os resíduos na demolição para depois ser mais fácil tratá-los e incorporar novos materiais”, refere Patrícia Gomes.
Ambigroup, Costa Almeida Demolições são algumas das entidades parceiras do Matterpieces by studio8 e que imprimiram uma nova dinâmica e dimensão à operação. Outras parcerias estão em vista já que a marca chamou a atenção de grupos como a dst ou ABB. “Temos falado com outras grandes empresas por forma a incluí-las neste projecto, em especial na vertente da demolição e do processamento e trituração dos resíduos”.
Já firmada está a parceria com a RMC – Produtores de Mármore Compacto, com quem a marca tem estado a trabalhar para desenvolver os produtos que hoje já disponibiliza. “Temos uma gama de produtos de revestimento, pavimentos, com vários tipos de acabamento e que têm características semelhantes ao material cerâmico”, especifica a arquitecta.
Os primeiros blocos já foram produzidos para satisfazer as encomendas que, entretanto, vão chegando. “Ainda não temos grandes stocks, para isso é preciso tempo, parceiros e algum financiamento. Neste momento, trabalhamos por encomendas o que funciona porque estes tipos de materiais são pensados numa fase inicial do projecto de arquitectura para serem aplicados numa fase já final do projecto. Mas a nossa intenção é crescer”, sublinha Patrícia Gomes.
Em catálogo
Através de técnicas digitais e manuais são combinadas com design contemporâneo para obter texturas esteticamente atraente para pavimentos, revestimentos de paredes, móveis e bancadas de cozinha ou espaços de banho. Actualmente, a marca trabalha de duas formas. A primeira permite ao comprador utilizar os seus próprios resíduos de demolição para criar peças que melhor se adequam ao seu projecto de reabilitação. A segunda, mais comum, é disponibilizar o catálogo da marca que coloca actualmente mais de uma dezena de texturas diferentes.