Pese embora façam parte de gerações diferentes, tanto Inês Moreira como João Paulo Rapagão têm um especial interesse pelos espaços da industria. Espaços esses muitas vezes com conotações pejorativas que os comissários do Open House Porto pretendem desmistificar com uma programação que conta com 65 edifícios – mais 5 do que na edição anterior -, 70% deles inéditos.
Depois do sucesso das três primeiras edições, com 11 000 visitas realizadas em 2015, 30 000 em 2016 e 25 000 no ano passado, a 4ª edição do Open House Porto tem data marcada para os dias 30 de Junho e 1 de Julho e um vasto conjunto de espaços do Porto, Gaia e Matosinhos que, “oferecem uma oportunidade única para se descobrir e usufruir de locais singulares, novos ou antigos, prostrados no tempo, recuperados ou reconstruídos”, garantem os comissários.
“As cidades devem-se à industria”
“As cidades habitualmente escondem a industria, parece haver uma certa vergonha”, começa por dizer João Paulo Rapagão ao CONSTRUIR, clarificando de seguida que, contudo, “as cidades se devem à industria, deram grandes saltos qualitativos nos períodos de afirmação da mesma”. Para os comissários da 4ª edição do Open House, estes são acima de tudo espaços de oportunidade para as cidades e é isso que querem mostrar.
“A industria nas três cidades – Porto, Gaia e Matosinhos -, foi um motor de desenvolvimento, que começou no final do século XIX e afirmou-se ao longo do século XX. Nessa altura foram construídas estruturas industriais novas e infra-estruturas que lhes deram apoio, como linhas de caminhos-de-ferro, novas estradas e pontes. Grandes infra-estruturas foram desenvolvidas quase por convite da industrialização, vieram a montante dela. A industrialização também aconteceu numa escala mais pequena –ainda existirem oficinas e espaços que estão a laborar nestas cidades, outras que estão abandonadas e outras que foram reconvertidas. Isto mostra que o ciclo de vida de um edifício industrial não é apenas enquanto está na primeira versão da industria. Muitas vezes reconvertem-se, transformam-se os usos e a arquitectura tem um papel muito importante aqui”, completa Inês Moreira.
Alinhados em ideias e propósitos, ambos sublinham que se complementam e garantem que a escolha da Casa da Arquitectura para que fossem comissários desta edição foi “rica”. “Somos duas gerações diferentes, logo, envolvemos também diferentes gerações de arquitectos, de espaços e de entendimentos e de alguma forma não nos sobrepomos, completamo-nos naquilo que pode ser o leque de opções”, refere João Paulo Rapagão.
Sobre a escolha dos edifícios, a lista oficial ainda não pode ser revelada, mas Inês Moreira e João Paulo Rapagão adiantam desde já que vão abranger diferentes tempos, épocas e estados de conservação – “desde edifícios que estejam em vias de transformação mas onde ainda se perceba que existiu actividade industrial e sejam visíveis testemunhos disso mesmo, até espaços que já foram transformados, nomeadamente que tenham hoje outros usos, desde habitação, escritórios, pequenas empresas, hostels”. João Paulo Rapagão salienta ainda que a selecção de edifícios vai mostrar “que os espaços industriais são bastante versáteis na adaptação aos tempos modernos e que é possível ocupar estes espaços com vários usos diferentes”. Nesse sentido, continua, o papel do arquitecto é muito importante, uma vez que “valida espaços que estariam votados à demolição, mostrando que são recicláveis e reutilizáveis para os tempos de hoje”.
Porque não se pode perder o Open House Porto 2018?
“Não podemos perder o Open House nunca!”, sublinha João Paulo Rapagão. Para o comissário desta edição “este é o maior evento de arquitectura que acontece no nosso País”. “É o momento em que a arquitectura abre as suas portas aos cidadãos e por isso é uma oportunidade única para as pessoas contactarem com o que é a arquitectura, com espaços de qualidade, espaços bem desenhados e qualificados. É uma oportunidade única para a arquitectura, para os arquitectos que a produzem e principalmente para os cidadãos que podem usufruir dos espaços que habitualmente estão vedados”.
Para Inês Moreira é imperdível “porque várias das industrias que estarão abertas são espaços privados, que funcionam dentro de um princípio empresarial. Ter acesso a estes espaços e compreender a escala, a dimensão, os processos de produção que põem em marcha a economia da sociedade através da arquitectura industrial é uma oportunidade muito peculiar”.
Organizado e produzido em exclusivo pela CASA DA ARQUITECTURA (CA) – Centro Português de Arquitectura, o Open House Porto, à semelhança da edição anterior, decorrerá também em alguns espaços do roteiro num conjunto de acções paralelas denominadas “Programa Caleidoscópio”. Este programa tem por objectivo apresentar outras perspectivas de exploração e ocupação dos espaços, voltando a apostar na dinamização de actividades e visitas que pretendem valorizar a acessibilidade, a inclusão, as crianças e famílias, assim como os cruzamentos interdisciplinares com outras artes.
Contando com a parceria estratégica das Câmaras Municipais do Porto, Gaia e Matosinhos, o Open House Porto “pretende continuar a afirmar-se como um dos momentos culturais mais significativos do ano”, sublinha a organização.