Largos dias têm 500 edições
Em quase 21 anos de edições ininterruptas, muito coube nas páginas do CONSTRUIR. 500 edições do jornal de negócio da fileira da Construção, um marco histórico na imprensa especializada. Repassámos alguns dos temas em destaque na primeira edição e, por coincidência, há matérias que ainda hoje continuam na ordem do dia
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Atingir as 500 edições não é, garantidamente para todos. E não o escrevo por soberba, antes pelo contrário. Sublinho, sim, que atingir número tão redondo, em 21 anos de existência, e considerando que falamos de uma publicação de negócio sectorial, exposta aos altos e baixos da economia numa fileira tão particular, é um marco histórico.
Recuperando algumas das ideias que constam do primeiro número do CONSTRUIR, lançado em Abril de 2003, não deixa de ser curioso que alguns dos artigos publicados então continuam, mais de 20 anos volvidos, a fazer parte do quotidiano do Sector.
Arco ‘até hoje’
O Jornal CONSTRUIR nasce num período em que Durão Barroso liderava o XV Governo Constitucional, um executivo que resultou de um entendimento entre PSD e Partido Popular. Uma semana antes da publicação do nº1 do jornal, então dirigido por Ruben Obadia, António Carmona Rodrigues assumia a pasta das Obras Públicas, Transportes e Habitação, sucendendo a Luís Valente de Oliveira que, alegando motivos de saúde, deixa o Governo, poucos dias antes de se assinalar um ano de mandato. Na primeira página, destaque para a proposta do Governo que pretendia colocar nas mãos da Parque Expo a reabilitação urbanística dos terrenos industriais da Margem Sul do Tejo, criando para o efeito uma empresa conjunta entre o Fundo Margueira, a Quimiparque e a Siderurgia Nacional. À margem dos planos de urbanização que foram feitos entretanto, nomeadamente dos terrenos da Quimiparque, no Barreiro, pouco mais que nada foi feito. Aliás, o ambicioso projecto motivou, em 2023, um novo impulso com a aprovação em Conselho de Ministros do investimento para a requalificação urbana que nasce da vontade de revitalizar e requalificar as zonas ribeirinhas entre os concelhos de Almada, Seixal, Barreiro, Moita, Montijo e Alcochete, que pretende “devolver a este território um ambiente seguro, sustentável e atractivo para quem visita a região e para quem nela habita e cresce”. Além da construção de um passeio Arco Ribeirinho Sul, numa via junto ao rio, pedonal e ciclável, com estrutura verde e uma extensão de 38 quilómetros que ligará, sem interrupções, Almada a Alcochete, do reforço das condições de oferta de transporte fluvial e da expansão da operação do Metro Sul do Tejo a todos os concelhos do Arco Ribeirinho Sul, o projecto prevê ainda a criação de um Plano Geral de Mobilidade, a construção de habitação pública com arrendamento acessível e a criação de um novo Pólo de emprego qualificado que beneficie toda a Área Metropolitana de Lisboa. Os projectos previstos ascendem a 350 milhões de euros.
A reforma do 73/73
Pelo primeiro número do CONSTRUIR, num artigo sobre a apresentação do Ano Nacional da Arquitectura, onde o programa procurava reflectir sobre a revolução urbanística por que passou a cidade brasileira de Curitiba e a forma como o modelo podia ser seguido em Portugal, a presidente da Ordem, Helena Roseta, manifestava interesse em promover “o direito à arquitectura”, sensibilizando os cidadãos para a importância da arquitectura na qualidade de vida, decorrente do espaço construído e do ordenamento do território, no quadro dos direitos consagrados na Constituição. Na altura, Roseta sublinhava a importância da revogação do decreto 73/73 e a sua reforma por um quadro normativo que considerasse que os actos próprios da profissão fossem feitos ‘exclusivamente por arquitectos’. O decreto em causa, surgido numa altura em que eram pouco mais de 500 os arquitectos inscritos na Ordem, estabelecia que as autarquias aceitassem projectos assinados por técnicos não qualificados. A lei acabaria por ser revogada com a aprovação da Lei 31/2009.
Às voltas com a habitação
Na primeira de 500 edições do CONSTRUIR, o grande destaque foi dado ao então secretário de Estado da Habitação. Em entrevista, Jorge Magalhães Costa assumia o compromisso do Executivo para com a reabilitação de edifícios, procurando inverter os baixos índices de recuperação de edifícios, preteridos em detrimento da construção nova. “Isto levou a um processo de abandono do que estava construído nomeadamente nos centros das nossas cidades, com consequentes fenómenos paralelos de desertificação, abandono, insegurança e vandalismo”, dizia o governante. Dados oficiais apresentados pelo Instituto Nacional de Estatística registam que número de fogos concluídos no país em 2003 registou um decréscimo de 34% relativamente ao ano anterior. Olhando para o número deo fogos concluídos em obras de construção nova e reabilitação, 2003 terminaria com 93 mil fogos concluídos em construção nova e ‘apenas’ 5964 em operações de reabilitação. Jorge Costa explicava, na altura, que cabia, também, às associações profissionais a missão de alertar os seus associados [leia-se ‘as construtoras’] da importância de diversificar actividade e não concentrar as estratégias apenas na construção nova. “Há lugar para tudo”, explica Jorge Costa em entrevista ao CONSTRUIR, acrescentando que “há lugar para a construção nova com mais qualidade, mas o grande nicho de mercado será o da reabilitação. As empresas de construção vão também dar mostras de que é possível redimensionarem-se para apostar nesta área da reabilitação, seguindo aquilo que se fez noutras cidades europeias, com sucesso”.
Crise na Construção
O primeiro número do CONSTRUIR fica igualmente marcado pelo pontapé de saída numa profícua relação com a Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas, hoje liderada por Manuel Reis Campos mas que, na altura, era presidida por Rui Viana. Em artigo de opinião, o responsável da associação chamava a atenção para uma “crise profunda, tanto no segmento da construção civil como no das obras públicas. Se no que ao primeiro concerne a crise está, de alguma maneira, à vista de todos, por força da estagnação reinante no mercado imobiliário, já no que toca às obras públicas poderá não passar tão facilmente para a generalidade das pessoas”. Para Rui Viana, “no que toca ao imobiliário, a crise tem, naturalmente várias motivações. E se o fim do crédito bonificado é uma das mais óbvias, é igualmente verdade que o clima de incerteza e mesmo de angústia que se apoderou da generalidade dos portugueses travou muitas decisões de aquisição de habitação própria. Ora, se o que está construído não se vende ou se vende pouco, naturalmente não há investimento em novas edificações, logo não há obras para executar”, acrescentava o então presidente da AICCOPN. “Tal não significa, porém, que não haja inúmeras famílias a necessitar de uma nova habitação. E é aqui que entra a necessidade de se criar em Portugal um verdadeiro mercado de arrendamento destruído há mais de 30 anos – primeiro com o congelamento das rendas – e assim mantido, depois, pela falta de coragem política de alterar profundamente a legislação que regula este mercado”. Contudo, Rui Viana destaca a importância da recuperação deste importante sector. No entender do presidente da AICCOPN, “o grande impulso à recuperação do sector e da economia nacional tem de ser dado pela via das obras públicas”. “É vital e urgente”, acrescenta, “uma aposta forte neste domínio, já que sem infraestruturas de qualidade, sem boas estradas, sem uma ferrovia moderna e capaz de receber comboios rápidos, sem melhores portos e aeroportos, Portugal será incapaz de ser competitivo na economia global em que vivemos”. C