“Se a obra não se mostrar importante e prestável, nada tem especial relevância”
“Penso e creio que pratico (e transmito) a ideia de que o rigor e a responsabilidade do que fazemos tem uma certa dimensão absoluta”
Ana Rita Sevilha
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Luís Pedro Silva é o autor do Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões, um projecto que nos últimos tempos tem sido nomeado para vários prémios e que já arrecadou algumas distinções. Em entrevista ao CONSTRUIR, o arquitecto fala sobre o projecto, os desafios e o futuro
O Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões tem sido recorrentemente destacado e premiado nacional e internacionalmente. Foi o projecto que mais gozo lhe deu fazer?
Os prémios ampliam a visibilidade sobre o trabalho mas se a obra não se mostrar importante e prestável para as pessoas, entre os quais os passageiros, os investigadores e o público em geral, nada tem especial relevância. O prémio mais estimulante é o encontro com as pessoas que habitando o edifício ou em visita anónima, nos transmitem gratidão sentindo-se muito tocadas pela obra. Este projecto foi o mais demorado que tivemos. Como transporto um “quase infantil” e permanente entusiasmo por tudo o que toca a organização do espaço, entreguei-me com muitas pessoas valerosas a este trabalho.
Que grandes desafios estiveram presentes nesta obra?
Talvez o maior de todos tenha sido o primeiro, o de ter lançado a ideia à Administração Portuária de Leixões durante o Plano Estratégico e, após tê-lo feito, sendo merecedor do convite inicial, sem ter garantias de estar à altura do desafio. A proposta foi sendo sistematizada com muitos agentes e momentos de escrutínio mas também de carinho e envolvimento de muitas pessoas (clientes, fornecedores, colaboradores, projectistas, artesãos e construtores). A coordenação de tudo, ou a relação entre a complexidade programática e a complexidade formal e construtiva foram outros dois desafios importantes… Isto sem esquecer o cumprimento do budget, a obra ficou quase 2 milhões de euros abaixo do valor estimado, o que aconteceu com esforço de muitos.
Olhando hoje para o edifício o que lhe apraz dizer?
Sobre o que está realizado a sensação é ambivalente. Há uma certa admiração por algo concreto como uma síntese de tantas decisões e de tantos momentos, desenhos, perguntas e respostas mas em simultâneo fica uma natural insatisfação por tudo o que deveria ter ficado melhor, aspectos que sabemos que não foram conseguidos e já não serão. Mas há coisas importantes em perspectiva. Salientamos a importância de ver o edifício ligado à cidade de Matosinhos, intervenção que necessita de se concretizar e que esperamos que aconteça a curto prazo. Desejávamos também ver em funcionamento o porto de recreio e os seus espaços de apoio na parte jusante do molhe sul. É muito importante ainda a instalação do espelho de água na parte inferior do núcleo central que não foi realizado, superando a tela provisória que agora se encontra instalada. Tudo isto é do interesse da APDL e será implementado faseadamente.
Acha que o facto de o edifício ser mediático poderá causar alguma sombra a projectos futuros, no sentido de que recaí sobre si uma grande expectativa relativamente a obras futuras?
Penso e creio que pratico (e transmito) a ideia de que o rigor e a responsabilidade do que fazemos tem uma certa dimensão absoluta, isto é, está mais dependente da exigência que colocamos sobre nós a partir do que conhecemos, a partir da nossa formação e das nossas convicções do que fora pois se assim procedermos há fortes probabilidades de isso ser reconhecido pelos outros. Se procurarmos logo o reconhecimento poderemos não ter referências para o caminho a percorrer. Por outras palavras o gosto e empenho no nosso trabalho deve ir de encontro aos que dele esperam algo, mas também aos que nada esperam. No final não agradamos a todos, mas é uma dádiva própria e genuína.
Os Prémios e a visibilidade têm-se traduzido em encomenda?
De facto há algumas distinções, no Canadá, em Amsterdão e em Lisboa mas o restante são nomeações, no Brasil, em Berlim e em Londres. Sim, lentamente tem contribuído e gerado novos convites e desafios, o que nem sempre são encomendas seguras. Vivemos um período de transição, exigência e cuidado redobrados para uma pequena empresa como a nossa que dá pequenos passos em desafios internacionais cujos custos, encargos e tempos implicam um método e gestão específicos e renovados. São processos lentos que exigem maturação.
Como olha para a profissão e a prática em Portugal actualmente e que expectativas tem para o futuro?
A profissão sofre esta transição. Havia muito poucos arquitectos enquanto era estudante. Depois já como docente acompanhei um “boom” expressivo até que veio a crise, a pulverização trazida pela globalização e uma certa estagnação interna. A reabilitação surge entretanto. É agora uma moda mas também um campo fértil de trabalho. Penso que está demasiado apegada ao fachadismo e menos à tipologia e ao espaço público. Por outras palavras, é como se mantivéssemos a carroceria de um automóvel mas mudássemos tudo no interior desde o motor, aos estofos, à tecnologia, ao número mesmo de ocupantes e o voltássemos a por em marcha com uma velocidade imprópria para as vias em que circula…Não fica bem. Mas há muitos casos de muita qualidade e muitos colegas e promotores a fazerem algo de muito meritório face ao estado a que havia chegado uma parte importante dos núcleos urbanos.
Em que outros projectos está a trabalhar actualmente?
Neste momento estamos a trabalhar em projectos públicos e privados em África, na América do Sul e na Asia, longe ainda das obras. Temos um grande edifício de ensino e um pequeno equipamento em vias de construção. Mas estamos bastante disponíveis para novos desafios