Catástrofe na Madeira foi natural mas teve “ajuda humana”, diz investigador
O geógrafo defende, no rescaldo da intempérie madeirense, que o território não pode ser pensado “da mesma maneira, o paradigma futuro terá de ser outro”
Lusa
Espanhola ARC Homes tem plano de investimento de 180 M€
“Um futuro sustentável para a Construção” domina programação da 31ªConcreta
Casa cheia para a 31ª edição da Concreta
Signify ‘ilumina’ estádio do Sporting Clube de Portugal
Savills comercializa 2.685 hectares de floresta sustentável em Portugal e Espanha
Tecnológica Milestone com 36% de mulheres nas áreas STEM supera média nacional
Sede da Ascendi no Porto recebe certificação BREEAM
KW assinala primeira década em Portugal com videocast
LG lança em Portugal nova gama de encastre de cozinha
CONCRETA de portas abertas, entrevista a Reis Campos, passivhaus na edição 519 do CONSTRUIR
O investigador e geógrafo Raimundo Quintal afirmou que a intempérie de Fevereiro na Madeira foi de origem natural mas teve “ajuda humana”, de “quase seis séculos na desertificação das montanhas”.
“Quando comparamos o que aconteceu na Madeira com o que aconteceu na Islândia, [verificamos que] na Islândia a catástrofe foi puramente natural, e na Madeira [a catástrofe] tem muito de natural embora haja alguma indução humana. Não é uma catástrofe unicamente natural e qualquer pessoa que estude estes problemas só inconscientemente é que o diria”, defende o geógrafo madeirense e antigo vereador do ambiente da Câmara Municipal do Funchal.
Raimundo Quintal falava à agência Lusa após a intervenção no debate “Uma Visão do Ordenamento Biofísico”, realizado na Sociedade de Geografia de Lisboa e dedicado ao temporal recente que assolou a ilha da Madeira.
O geógrafo defende, no rescaldo da intempérie madeirense, que o território não pode ser pensado “da mesma maneira, o paradigma futuro terá de ser outro”, assumindo também “sérias dúvidas” quanto à divisão de fundos estipulados pela comissão paritária do Governo Regional e do Governo central, “entre a recuperação das grandes obras das ribeiras e todo o reordenamento do território”.
“Nos dois grandes ícones das cheias, que foram a Serra de Água e a baixa do Funchal, não morreu ninguém, mas perto da Serra de Água, numa pequena aldeia que ninguém viu, o Colar da Rocha, morreram sete pessoas”, sublinhou Raimundo Quintal, alertando também para “a falta de uma cultura de prevenção”.
Para Raimundo Quintal, desde 20 de Fevereiro, todos aqueles que “diziam que eram domadores da Natureza”, sentem-se hoje “pigmeus” perante a mesma e os seus possíveis efeitos.
Segundo o investigador, desde o início do século XX até agora ocorreram 35 aluviões (inundação provocada por grande volume de água) na Madeira, sendo que oito foram no século XIX, 22 no século XX e cinco já em pleno século XXI.
A crescente ocupação dos solos, a pressão demográfica, a ausência de uma política de reflorestação e também as alterações climáticas foram questões centrais num debate sobre os aluviões na Madeira subordinado à máxima “Ler o passado, compreender o presente, prevenir o futuro”.
O debate “Uma Visão do Ordenamento Biofísico” contou também com participações do arquitecto paisagista Fernando Pessoa, e dos professores Rodrigo de Oliveira, Delgado Domingos e Domingos Rodrigues.
O temporal que assolou a Madeira a 20 de Fevereiro provocou 43 mortos, oito desaparecidos e 600 desalojados.