Jorge Nandin de Carvalho, presidente da Associação Portuguesa de Projectistas e Consultores (APPC)
Difícil de antever, 2024!
Tememos que passem 6 meses sem definição clara das prioridades do futuro próximo governo. O país vai parar? Claro que não, mas a tomada de decisões importantes vai ser mais complexa e tenderá a ser procurada a consensualização entre os principais partidos, sendo que, como sabemos, essas tentativas têm sido historicamente difíceis

CONSTRUIR
Plano de Urbanização de Campanhã avança para discussão pública em Março
Iscte lança pós-graduação em ‘Mediação Imobiliária Profissional’
Lisboa recebe primeira edição da Deco Out
Daikin lança nova gama de unidades ERA
CICCOPN recebe Acreditação Erasmus+
Radisson Hotel Group expande presença na Península Ibérica
Grupo Casais inaugura primeiro hotel híbrido em Espanha
IP lança concurso de 150M€ para alargar ferrovia Contumil-Ermesinde
CCB quer alcançar a neutralidade de carbono até 2030
Trienal: ‘Conversas et Al’ junta fundador da Noarq e ilustrador Gémeo Luís
Que 2024 vai ser desafiante não tenhamos dúvidas, mas será também arriscado e difícil de prever certamente.
Vamos entrar em 2024 com a certeza de que a lista de objetivos de realização e necessidade de concretização é extensa e exigente. Estamos a confrontar-nos com o PRR, a implementação do Portugal2030, o final do Portugal2020, o caminho para a definição da localização do novo aeroporto de Lisboa, o lançamento da alta velocidade Lisboa-Porto, o final do Ferrovia 2020 e a implementação dos planos de aceleração da construção de habitação, etc.
O nosso setor é constituído por empresas que produzem consultoria, projetos de arquitetura e de engenharia e fiscalização de empreendimentos e tem estado em pleno uso das suas capacidades de operação. Porém, continua a confrontar-se com más práticas na contratação pública, onde se destaca a continuidade da contratação ao mais baixo preço, desprezando os critérios relativos à qualidade das propostas colocando entraves na formação e desenvolvimento das nossas equipas e desafios à indispensável modernização do modo de produzir, materializado pelas novas ferramentas digitais. Cúmulo dos cúmulos, o setor tem estado impedido de fazer a revisão de preços, não conseguindo recuperar das perdas que sobrevêm das elevadas taxas de inflação que vamos tendo desde há mais de 2 anos.
A novidade mais recente tem a ver com a instabilidade governativa que se instalou no país, culminando com a demissão do governo, a dissolução da Assembleia da República e a convocação de eleições legislativas para março de 2024. Tememos que passem 6 meses sem definição clara das prioridades do futuro próximo governo. O país vai parar? Claro que não, mas a tomada de decisões importantes vai ser mais complexa e tenderá a ser procurada a consensualização entre os principais partidos, sendo que, como sabemos, essas tentativas têm sido historicamente difíceis.
A APPC desde sempre vem pugnando pela previsibilidade dos planos de investimento público e pela estabilidade das decisões, para que as empresas possam planear os diferentes ciclos de investimento.
Esta necessidade de planeamento e de estabilização da procura pública em níveis tanto quanto possível regulares e de acordo com as nossas capacidades, ao invés de altos e baixos extremos na procura, como regularmente temos vindo a assistir, é essencial para a programação a médio e longo prazo das empresas associadas.
No nosso caso esta estabilidade até nem é difícil pois o investimento em estudos e projetos não ultrapassa os 2,5% do investimento total. Precisamos de agir com determinação e coragem para preparar as empresas para o futuro, para motivar a concentração e o aparecimento de empresas de arquitetura e engenharia portuguesas, capazes de competir na Europa. Para tal é necessário que os jovens arquitetos e engenheiros, quer os nacionais quer estrangeiros que procuram Portugal, encarem este setor como moderno e relevante, como uma aposta de futuro para eles, um sector de prestígio onde se crie valor quer profissional quer remuneratório. Para tudo isto precisamos de previsibilidade e estabilidade, justamente o que não se vislumbra antes do primeiro semestre do ano.
Em síntese, esperamos que o país tenha capacidade de decidir rapidamente o que se impõe decidir e que não se crie mais um interregno, um território de dúvidas e interrogações, que podem comprometer as capacidades de gestão e desenvolvimento das empresas. Neste setor, as pessoas são essenciais, pelo que é preciso tempo, segurança e capacidade financeira para prosseguir uma política de captação, reforço e qualificação das equipas.
É por isso que entendemos que, hoje, é muito difícil fazer a antevisão de 2024, não estando clara a estabilidade das opções estratégicas em relação a assuntos essenciais na esfera de investimentos públicos de enorme dimensão e impacto.
Fazemos votos de que, entretanto, possa haver sinais de estabilidade que suportem o plano de atividades e o plano de investimento das empresas do setor que representamos.
Nota: O Autor escreve segundo o Novo Acordo Ortográfico