Flexibilidade e pragmatismo para o Mercado de Santa Clara
Em entrevista ao CONSTRUIR, Filipe Madeira e Vânia Saraiva, vencedores do Concurso de Ideias para o Mercado de Santa Clara, explicam o projecto
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A proposta assinada por Filipe Madeira e Vânia Saraiva, foi a vencedora do Concurso de Ideias para o Mercado de Santa Clara. Ao desafio lançado pela Trienal de Arquitectura de Lisboa em Julho de 2017, responderam 26 propostas apresentadas por arquitectos ou colectivos de arquitectura. O concurso procurava encontrar a melhor solução de adaptação do mais antigo mercado coberto da capital a negócios da economia cultural e criativa associados ao Design, Media, Artes, Cultura e Inovação. No Concurso, foram ainda distinguidas duas outras propostas com menções honrosas.
Pragmático e flexível
A proposta é a de um “sistema de compartimentação pragmático e flexível de telas reguláveis em altura, que permite facilmente diferentes configurações, tipologias e transformações do espaço do mercado”. Mas para chegarem ao desenho final, Filipe Madeira e Vânia Saraiva, começaram por um conceito que por sua vez, norteou o desenvolvimento da ideia. Como explicam ao CONSTRUIR, “no edifício do Mercado de Santa Clara persistiram, ao longo do tempo, duas características principais: o eixo longitudinal, que liga os dois extremos do edifício e permite o atravessamento físico e visual de exterior a exterior e, em paralelo, a unidade da grande nave central. A nave central tem uma qualidade espacial em si que, a nosso ver, se perderia se deixasse de poder ser apropriada como um todo. A axialidade das entradas permite integrar o edifício no percurso urbano, dotando-o de um carácter de passage e reforçando o seu papel de catalisador do Campo de Santa Clara. A intenção que guiou a proposta foi a de manter e valorizar estes dois aspectos”.
Para responder à intenção de que falam, o projecto baseou-se em duas operações. “A primeira é a de inserir uma estrutura modular que alberga os espaços fixos — cozinha, apoio da loja e espaços de arrumação — ao longo de toda a lateral da nave, o que permite manter livre o espaço central.
A segunda operação, o referido ‘sistema de compartimentação’, consiste em instalar uma grelha de telas de rolo suspensas nas vigas metálicas existentes. Estas telas acentuam o ritmo da estrutura do edifício, favorecem o intimismo quando necessário e permitem o controlo da escala do(s) espaço(s). Contribuem ainda beneficamente para o problema da acústica, para o controlo da luz directa e para a eficiência térmica do edifício. Nas imagens apresentadas ilustramos algumas das várias configurações possíveis através da sua regulação em altura: sucessão de salas expositivas atravessáveis axialmente; três espaços de utilização independente (restaurante, sala polivalente, loja); grande espaço para eventos”.
“Esta proposta é a que melhor viabiliza o programa”
Segundo a apreciação do júri do Concurso, a proposta de Filipe Madeira e Vânia Saraiva, é a que “melhor viabiliza o programa resolvendo também algumas questões técnicas do edifício como o controlo da luz natural abrindo a possibilidade de leitura da nave na sua totalidade até à sua múltipla compartimentação. A solução proporciona a futuros utilizadores a possibilidade de economia de meios de suporte na realização de uma diversidade de eventos”. No entender dos autores da proposta, “o júri valorizou o nosso objectivo principal de, com uma intervenção controlada e flexível, continuar a viabilizar a utilização da totalidade do espaço central”.
O júri decidiu atribuir ainda menções honrosas a Rui Mendes – que apresentou uma proposta que “promove a utilização pública do edifício em conjunto com o espaço urbano” -, e, à equipa composta por João Pedro Cravo, Bernardo Sousa, Diogo Lafaia e Pauline Gasqueton com uma proposta que pretendeu “musealizar o edifício propondo pequenas intervenções construídas que serão a âncora dos núcleos programáticos”.
Plano Municipal dos Mercados de Lisboa
Recorde-se que, a iniciativa foi promovida no quadro do programa de revitalização dos mercados da Câmara Municipal de Lisboa, que tem como objectivo integrar o Mercado de Santa Clara na rede de espaços dedicados a empresas e projectos no sector das indústrias criativas como o Mercado do Bairro Alto, o FabLab Lisboa, o Pólo das Gaivotas, a incubadora criativa municipal a funcionar na Mouraria, entre muitos outros.
Esta aliás, foi uma das razões que levou a dupla vencedora a participar no Concurso. “O Concurso para a adaptação do Mercado de Santa Clara foi apresentado como o que nos pareceu ser uma procura genuína e bem estruturada de ideias de arquitectura. Para além da informação base fornecida, interessou-nos especialmente o Plano Municipal dos Mercados de Lisboa 2016-2020, que inseria as propostas numa estratégia alargada para a cidade. De resto, o próprio edifício tem – pela sua espacialidade, pela sua posição no bairro e na cidade e pela relação com a Feira da Ladra – um grande potencial para o qual quisemos contribuir”, explicam ao CONSTRUIR.
De salientar ainda que, adicionalmente, o mercado será também a nova sede do Clube dos Criativos de Portugal (CCP) que assume este ano “a programação, activando exposições, formação, festas, concertos e uma biblioteca criativa, ajudando também a que o renascido mercado se torne um espaço de referência para a comunidade local e criativa”, refere Ana Castanho, vogal CCP.