Andreia Garcia, arquitectura e curadora
Créditos foto: Frameit
‘Fertile Futures’ ou uma viagem através de sete territórios da água
A presença portuguesa na Bienal de Veneza em 2023 percorre os caminhos da água em diferentes hidrogeografias. Identificadas pela importância que representam para o território, como pelas problemáticas ecológicas, sociais, económicas e políticas que têm levado à sua deterioração
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‘Fertile Futures’ expressa o entendimento sobre o “Laboratório do Futuro”, tema proposto por Lesley Lokko para a 18ª Exposição Internacional de Arquitectura – Bienal de Veneza 2023, que convoca, “mais do que a oportunidade de produzir conhecimento sobre um conjunto de temas urgentes à sociedade e ao planeta, também um modo específico de fazer”, discutindo e propondo estratégias para a gestão, reserva e transformação de água doce.
Contribuindo para uma discussão que é comum e global, ‘Fertile Futures’ problematiza a escassez e gestão deste recurso, a partir do território português. Com foco em sete hidrogeografias, ‘Fertile Futures’ apresenta no Palácio Sinel de Cordes, em Lisboa, os resultados desta investigação multidisciplinar, uma iniciativa coordenada por Andreia Garcia e explicada em entrevista à TRAÇO.
Os sete casos em estudo exemplificam a acção antropocêntrica sobre os recursos hídricos na Bacia do Tâmega, Douro Internacional, Médio Tejo, Albufeira do Alqueva, Perímetro de Rega do Rio Mira, Lagoa das Sete Cidades e nas Ribeiras Madeirenses.
De regresso a Lisboa
Um ano depois, ‘Fertile Futures’ regressa a Lisboa para partilhar, para além da exposição principal que esteve em Veneza, os conhecimentos acumulados ao longo das Assembleias de Pensamento, disseminadas pelo País, e do Seminário Internacional de Verão, realizado no Fundão.
Inaugurada em Janeiro, a exposição irá manter-se no Palácio Sinel de Cordes até 27 de Abril, onde se encontram expostos os trabalhos realizados pelas equipas artísticas Corpo Atelier, Dulcineia Santos Studio, Guida Marques, Ilhéu Atelier, Pedrêz, Ponto Atelier e Space Transcribers, bem como contributos que decorreram das Assembleia de Pensamento.
Andreia Garcia recebeu a TRAÇO neste espaço, onde nos fez uma visita guiada através dos territórios ali representados permitindo-nos conhecer uma versão “mais completa” da exposição.
Que tipo de exposição temos aqui?
Esta exposição não é exactamente a mesma que esteve em Veneza. É uma exposição mais completa. Além de todos os conteúdos que estiveram expostos no Palácio Franchetti desde Maio de 2023 em Veneza, conta, ainda, com a dimensão da segunda fase do laboratório, que correspondeu ao Seminário Internacional de Verão, situado no Fundão, onde, durante 15 dias, estivemos com alunos dos cinco Continentes a trabalhar, em contexto real e sobre a problemática da escassez de água doce com as mesmas sete equipas de arquitectura que estiveram representadas.
Mais do que mostrarmos projectos acabados, foi importante explicarmos as reflexões multidisciplinares que, aqui na exposição, estão representadas por imagens, textos e maquetes, assim como pelo documentário, desenvolvido pelo canal 180, com a direcção do Joaquim Mora, que nos acompanhou desde o início do projecto.
O Seminário, no fundo, foi o culminar do laboratório?
O Seminário foi a segunda fase deste laboratório, que contou ainda com cinco Assembleias de Pensamento que aconteceram no decurso do projecto. Exatamente um ano depois da primeira Assembleia de Pensamento, inauguramos aqui no mesmo espaço a itinerância da exposição. Por isso, esta exposicão, para nós, é muito importante, porque apresenta o culminar desse processo laboratorial que procurou ser inclusivo e aberto. Além de montarmos um projecto com equipas de trabalho multidisciplinares, procurámos representar todo o País e, onde estão, pela primeira vez, ambas as ilhas – arquipélago dos Açores e o arquipélago da Madeira.
É expectável que este ciclo tenha continuidade?
A itinerância pode trazer consigo outros momentos, outra produção de conhecimento, que naturalmente poderão depois verter noutras configurações e noutras mostras, noutros perfis e até noutras geografias. Esta é a ideia. Neste momento existem alguns convites para pensar o futuro do projecto noutros contextos, mas está tudo em aberto. Importará referir que têm sido muitas as investigações de carácter mais académico que se têm debruçado sobre os conteúdos desenvolvidos pelo Fertile Futures.
Aliás, para mim uma curadoria é isso. É a produção de conhecimento, e mais do que o resultado, importa o processo a partir da investigação.
Numa perspectiva de continuidade considera ser possível alargar este laboratório a outros territórios?
O projecto foi pensado nestes contextos a partir de sete hidrogeografias específicas, mas, como disse, há outros projectos de investigação que já derivam deste trabalho. Nesse sentido, poder-se-ia considerar que estamos a caminhar para uma nova fase. Ou seja, num curtíssimo espaço de tempo já há quatro dissertações de mestrado e uma tese de doutoramento que se focam no projeto ‘Fertile Futures’. Portanto, há uma contaminação positiva, de certa forma, e uma sensibilização para estas questões a vários níveis, também académicos.
Entendemos a Arquitectura como entidade mediadora, capaz de atentar a um problema, de o contextualizar e estudar e, depois, recorrer a múltiplas estratégias de acção algumas das quais a partir de cenários eventualmente ficcionáveis
Que mensagem pretendem passar com este projecto?
Aquela que será talvez a maior é alertar e sensibilizar para as consequências do consumo desenfreado, da extracção, da errada distribuição dos recursos hídricos, e de certas medidas politicas, que tendencialmente demonstram mais enfoque no capital do que na salvaguarda do nosso território.
O facto de entretanto percebermos que estas questões estão a despertar a atenção politica, mesmo que a um nível regional, é também positivo, porque nos dá a esperança de que possa haver permeabilidade para o diálogo entre as várias partes envolvidas, o que, aliás, foi o que sempre se pretendeu com o projecto.
Nesse sentido, importa referir, por exemplo, que algumas das equipas de arquitetura estão já a trabalhar com os municípios para pensar em estratégias que possam contribuir para a reversão de alguns dos problemas enunciados a partir de trabalhos de campo multidisciplinares.
Essa profunda preocupação é também importante para percebermos que precisamos de chamar até à arquitectura outros conhecimentos, outras áreas de especialidade com o propósito de trabalharmos em conjunto e, por isso, de um modo mais informado. No caminho que temos percorrido com esta Bienal de Veneza também conseguimos perceber que para encontrarmos mais respostas para os problemas enunciados, teremos de ensaiar novas perguntas capazes de complexidades múltiplas.
Que papel pode ter a arquitecto neste alerta?
Entendemos a Arquitectura como entidade mediadora, capaz de atentar a um problema, de o contextualizar e estudar e, depois, recorrer a múltiplas estratégias de acção algumas das quais a partir de cenários eventualmente ficcionáveis, mas que nos sugerem que, na prática, há ainda muito a fazer na ponderação da relação da humanidade com os escossistemas naturais.
Nesta exposição fica claro que a arquitectura também é política. E que os arquitectos devem ter um papel no planeamento do território e na gestão dos seus recursos, para lá de interesses meramente económicos.
Temos consciência que a arquitectura, individualmente, não tem capacidade para actuar sozinha na resolução dos problemas e, por isso, convocámos igualmente especialistas das áreas da geografia, da engenharia hidráulica, do paisagismo, da sociologia, da antropologia, da economia, entre outras áreas de conhecimento.
Com este projecto pretendemos alertar e sensibilizar para as consequências do consumo desenfreado, da extracção, da errada distribuição dos recursos hídricos, e de certas medidas politicas, que tendencialmente demonstram mais enfoque no capital do que na salvaguarda do nosso território
Porquê ter como ponto de partida diferentes hidrogeografias?
As diferentes hidrogeografias representam diferentes territórios onde é evidente a acção humana sobre os recursos hídricos. Os sete casos em estudo contam-nos sete histórias sobre o país. Às equipas de projecto foi pedido que se debruçassem sobre cada uma das problemáticas dessas histórias e ensaiassem futuros mais férteis.
Sendo caso específico do território português, podem, no entanto, ter múltiplos paralelos com outros semelhantes em outros pontos do Mundo. Lendo as hidrogeografias em Portugal e a partir do território português, percebemos claramente que queríamos apontar questões globais.
Quem está no poder politico actualmente está mais sensível a estas questões?
Naturalmente, há metas internacionais e essas metas apontam-nos objectivos concretos. Hoje em dia, se não mudarmos as nossas práticas, seja a nível científico ou profissional, ou até doméstico, essas metas não vão ser cumpridas. Definem-se muito objectivos, mas com o objectivo de os alcançarmos assistimos à implementação de medidas contraditórias que muitas vezes levam à exploração desmedida do solo e à errada distribuição dos seus recursos. O poder político necessita de uma prática consciente, focada no longo prazo e na preservação dos ecossistemas. Nenhuma prática é isenta de erros no seu caminho, mas terá de ambicionar fazer melhor e não repetir equívocos.
Lagoa das Sete Cidades (Ilhéu Atelier)
A Lagoa das Sete Cidades é o maior reservatório natural de água doce do arquipélago dos Açores e também uma das sete maravilhas naturais de Portugal. Apesar de romantizada, a atividade agropecuária é responsável pela degradação acelerada dos ecossistemas no território da bacia e na água das lagoas. O desmedido uso de fertilizantes para a produção de pastagens dá origem a processos de eutrofização, causando significativas emissões de dióxido de carbono para a atmosfera, bem como a deterioração do equilíbrio bio-físico-químico da água, inviabilizando a sua utilização. A proposta explora a (re)imaginação utópica da região, combatendo o principal foco de poluição das lagoas açorianas, ao reconsiderar criticamente o uso do solo, em direta articulação com as dimensões sociais, culturais, patrimoniais e naturais que definem a paisagem dos Açores.
Para repor a qualidade da água, o modelo propositivo apresentado considera remover do território o elemento poluidor das lagoas, ponderando todos os impactos em articulação interdisciplinar, de modo a garantir oportunidades mais sustentáveis. Manipulando as (in)tangibilidades do futuro, os diferentes discursos complementam-se e contribuem para outras visões do lugar, especulando sobre cenários fictícios. O granel, reconhecido elemento da arquitetura vernacular das Sete Cidades, é descontextualizado para albergar o símbolo da indústria agropecuária – a vaca. O arquétipo, tradicionalmente identificado como protetor dos bens agrícolas do solo, vê o seu propósito ironicamente invertido, para proteger o território dos efeitos nefastos da agropecuária.
Ribeiras Madeirenses (Ponto Atelier)
A repetida ocorrência das aluviões nas Ribeiras Madeirenses evidencia o preço a pagar pela urbanização rápida e não planeada do território, agravada pelos cada vez mais frequentes picos de precipitação, fruto das alterações climáticas, cuja responsabilidade redobrada caberá também ao desenfreado e carbonizado sector da construção. O desafio implica a reflexão crítica sobre o trauma associado a estes eventos, desenvolvendo hipóteses de revitalização das linhas de água, hoje fortemente artificializadas, recuperando a resiliência entretanto perdida.
A partir de uma releitura crítica das Ribeiras Madeirenses, quatro atos expectantes evocam quatro temporalidades que sinalizam transformações nas ribeiras da Madeira em resultado da ação antrópica. Unidos pela linha do desenho do corpo da água, esses atos reinscrevem: a imagem de um tempo pretérito em que a natureza vibrante das ribeiras participava verdadeiramente na vida da cidade; a imagem do tempo catastrófico das aluviões que, vindo do passado, atravessa o presente e ameaça o futuro; a imagem de um presente contínuo em que a vibração dessa vida urbana foi erradicada das ribeiras, numa tentativa de apagamento; e, por fim, a imagem de um tempo futuro que poderá existir e que procura recuperar o potencial latente destes corpos de massa líquida. Procurando na leitura territorial a possibilidade da experimentação de espaços de contenção, retenção e (re)condução para o redesenho do caminho da água, ensaiam-se, a várias cotas, construções topográficas de reconciliação entre o ser humano e a água.
Bacia do Tâmega (Space Transcribers)
A água da Bacia do Tâmega, outrora base de culturas de regadio, é hoje o principal recurso de uma das maiores instalações de energia hídrica verde da Europa. O Sistema Eletroprodutor do Tâmega, conhecido como Gigabateria, trouxe transformações significativas a esta região, tornando evidente o contraste entre dois modos de gerir água: como recurso e bem comum local e enquanto produto mercantil para a criação de energia. Ao explorar formas de articulação entre diferentes escalas e tempos presentes neste território, ativa-se o diálogo, a partir da capacidade mediadora da arquitetura, procurando mitigar o impacto da metamorfose do território, flora, fauna e da vida humana locais.
Uma hidro-metodologia, materializada em práticas espaciais críticas, combina a análise imersiva e o jogo performativo como proposta arquitetónica para reimaginar o conceito de comuns na gestão hídrica do Tâmega. A investigação analítica, aqui denominada de hipertexto do Tâmega, potencia os contrastes e as ligações entre arquiteturas hídricas da região, os distintos modos da sua gestão e as suas relações com humanos e não-humanos. Recorrendo a hidro-artefactos, a play tour – performada e jogada em Março de 2023 e registada em filme documental – revela métodos poéticos que procuram reconciliar tensões hídricas existentes, enquanto aponta caminhos para o desenho de diálogos que antecipam futuros mais comuns sobre o Tâmega e além.
Douro Internacional (Dulcineia Santos Studio)
A investigação concentra-se na cota alta das margens do Douro Internacional, região paradigmática da relação de dependência e partilha entre Portugal e Espanha, sublinhando a relevância da água na conservação do solo e dos ecossistemas, para além do seu uso enquanto recurso energético e bem essencial para consumo humano. Contribuindo para o combate à desertificação de uma zona crescentemente despovoada, propõe-se a reaprendizagem de técnicas ancestrais e sistemas naturais, e a recuperação da dimensão simbólica dos elementos naturais.
Uma visão para a preservação da água doce é contada através das raízes da árvore de um Freixo, sobre as quais peças cerâmicas foram moldadas para dar a ver o corpo invisível do chão, trazido aqui por meio de um substituto – um tapete de terra. O solo é o reservatório do futuro, para água e vida: um conceptáculo vivo, mineral e orgânico, onde raízes de árvores se entrelaçam num diálogo de formas que se complementam e desaceleram, espalham e infiltram a água. Trata-se de um sistema complexo e inteligente, de estrutura esponjosa e em permanente mudança, engendrado localmente, e cuja expressão resulta das forças dos diferentes ecossistemas coabitantes, na luta por comida e reprodução da espécie. O “chão como reservatório” é a lição do Douro Internacional para outros lugares, e a evidência de que apenas um saber local, partilhado e multidisciplinar, poderá conseguir ler e reconhecer o potencial de cada chão, daquilo de que é feito e de que precisa.
Médio Tejo (Guida Marques)
O impacto da indústria mineira é manifesto na região do Médio Tejo, nomeadamente na contaminação da água do rio Zêzere e lençóis freáticos de modo alargado. A constatação do elevado nível de metais pesados, acima do máximo recomendado pela Organização Mundial de Saúde, é particularmente grave num momento em que se considera a hipótese do seu transvase, para aumentar o caudal do rio Tejo e garantir o abastecimento de água na área metropolitana de Lisboa. Repensando as políticas e prioridades do extrativismo, a proposta defende a renaturalização progressiva da paisagem, num processo- -manifesto de recuperação e descontaminação, a partir das ferramentas políticas e ativistas da arquitetura.
A Arquitetura também se faz de manifestos e da coragem para reparar. A partir de registos escritos e performativos, expressa-se uma forte relação de proximidade e intimidade com o território, sensível ao passado e preocupada com um futuro expectante, na urgência de uma nova ação sobre o mundo. A partilha ambiciona unir dispositivos e formas, memórias, inquietações e angústias, para sensibilizar o pensamento e o corpo de quem lê, ouve e vê: a palavra também constrói, o corpo também é lugar. Pela partilha do sensível, reativa-se o afeto.
Albufeira do Alqueva (Atelier Pedrêz)
Apresentada politicamente como caso exemplar, a Albufeira do Alqueva é responsável pela transformação extrema de uma paisagem – de sequeiro a regadio –, com a criação do maior lago artificial da Europa. A sua água permite dar resposta às necessidades energéticas emergentes, incentivar a crescente atratividade turística e, sobretudo, contribuir para a alta produtividade do agronegócio instalado, simultaneamente responsável pela contaminação e superexploração dos solos. Operando sobre as consequências desta alteração e atenta aos impactos na diversidade dos ecossistemas, estruturas patrimoniais e desigualdades sociais, a proposta explora a dimensão operativa e técnica da arquitetura, no desenvolvimento de dispositivos de descontaminação e produção de solo, na antevisão do futuro daquela região.
De forma ficcional, encena-se um futuro próximo onde a albufeira do Alqueva deixará de existir, dando lugar a um barreiro deserto rodeado por uma floresta exuberante de características únicas: um manto vegetal, formado por um tecido de bolsas circulares de vegetação capazes de reter quantidades de água equivalentes à que existiu outrora no lago. Artefacto para regeneração do solo é um invento construído em aço pela Pedrêz que, a partir da transformação de resíduos decorrentes da agro-indústria em energia térmica, hidrogénio, e carvão, possibilita a purificação da água e a produção de biofertilizante. A resposta concreta de regeneração social e ambiental, através da ação simples e continuada do ser humano na paisagem, reposiciona-o como elemento consciente e gerador de fertilidade.
Perímetro Rega do Rio Mira (Corpo Atelier)
O Rio Mira é envolvido por um largo perímetro de rega atualmente dominado por investimentos e interesses exógenos, impostos aos modelos de exploração agrícola instalados, de menor escala ou ambição. Tirando proveito das redes preexistentes, as explorações de alto rendimento contribuem para o desigual acesso aos recursos hídricos, bem como para a contaminação de solos e água, pela introdução de agroquímicos aceleradores. Ao mesmo tempo, a sua viabilidade assenta na superexploração de trabalhadores imigrantes, agentes ocultos, sujeitos a condições precárias de trabalho e habitação. A proposta advoga o potencial político da arquitetura, a partir da denúncia das situações de exploração e sobreposição, alertando para a ausência de regulação deste sistema.
Aceitando a incapacidade da Arquitetura para encontrar uma resposta à complexidade desta problemática, avança-se uma instalação-denúncia que, pela sua dimensão poética, procura sensibilizar a consciência global para as questões sociais, ecológicas, administrativas e económicas em debate. Enquanto símbolo da distribuição desejavelmente democrática da água pelo território e pela população que o habita, o aqueduto, aqui incompleto, partido e fragmentado, evidencia a sua própria disfuncionalidade e despropósito. Este objeto mobilizador procura esclarecer a matriz da problemática no acesso à água nestas paisagens, imaginando três momentos distintos: junto à barragem de Santa Clara; num território natural e indefinido; e junto à foz do Rio Mira, onde a grande parte das explorações agrícolas de alto rendimento se aglomeram.