Como serão os espaços de trabalho e de retail no futuro?
Os chefes e consumidores de amanhã serão nativos digitais e perante este desafio, urge repensar os espaços de trabalho, assim como os de retail. Que implicações esta nova geração terá na forma como se pensam e desenham?
Ana Rita Sevilha
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Em 2012, a geração Y, também conhecida por Millennials, representava cerca de 20% da população global. Em 2020, esta geração de nascidos após 1980, vai, segundo a 3G Office, originar cerca de 50% da força de trabalho no mundo inteiro, e até 2030 chegarão aos 70%. Falamos de uma geração que cresceu num mundo digital, que usa a tecnologia desde a infância, que está desde que se conhece familiarizada com dispositivos móveis e comunicação em tempo real e que originou consumidores exigentes, informados e com peso na tomada de decisões de compra. Os mais recentes estudos levados a cabo pela Deloitte, mostram ainda que esta geração hiperconectada, ágil, flexível e criativa, privilegia o teletrabalho e a flexibilidade de horário. Conclusão, os chefes e consumidores de amanhã serão nativos digitais e perante este desafio, urge repensar os espaços de trabalho, assim como os de retail. Posto isto, como serão estes espaços no futuro? Que implicações esta nova geração terá na forma como se pensam e se desenham?
Flexibilidade e mobilidade no trabalho
No sentido de perceber que modificações já se estão a sentir e tentar antecipar as transformações que estes espaços poderão vir ainda a sofrer, o CONSTRUIR abordou as consultoras imobiliárias e os seus departamentos de arquitectura e constatou que flexibilidade e mobilidade estão na ordem do dia. João Marques, director da Tétris Portugal, empresa do Grupo JLL para a área de arquitectura e construção de espaços interiores, referiu ao CONSTRUIR que “quando se desenha um espaço de trabalho, existem vários requisitos que devem ser tidos em conta, quer tenham a ver com novas formas de trabalho, novas tendências ou imperativos da própria marca e do sector em que actua. A questão da tecnologia é, de certa forma, transversal a todos os factores que determinam a concepção destes espaços, mas é possível identificar algumas tendências neste campo”. Segundo João Marques, “associada às novas tecnologias surge imperativamente a questão da mobilidade e flexibilidades no local de trabalho, ou seja, a tecnologia estanque imposta ao posto de trabalho físico é cada vez menor”. Nesse sentido, “cada vez mais, o escritório como espaço físico tende a ser um organismo vivo e tecnológico muito mais vasto e abrangente, onde o posto de trabalho (cadeira e secretária) nos moldes em que o conhecemos até agora será cada vez mais raro. Por um lado, porque as empresas começam a valorizar cada vez mais quer os chamados espaços colaborativos – salas de reunião fechadas, espaços informais de reunião, trabalho de equipa e zonas lounge – quer de concentração – quiet rooms e focus rooms – por oposição aos gabinetes e mesmo aos open spaces. Por outro lado, porque maioritariamente o ‘trabalho de secretária’ poderá ser feito fora do escritório. Estas novas formas de trabalho, têm implicações não só na organização do espaço, mas implicam também que a tecnologia seja omnipresente, já que trabalhar ‘onde quer que seja’ requer que estejamos sempre conectados”. Quanto ao facto de as empresas estarem ou não preparas para esta nova realidade, João Marques diz que “começam a estar”, mas “depende muito da cultura da própria empresa, da sua dimensão e do sector de actividade”. Contudo, sublinha, “produtividade, flexibilidade e mobilidade são questões que começam a estar na ordem do dia das empresas e todos eles estão relacionados com a concepção dos espaços de trabalho e com a tecnologia”. Para Paulo Silva, Managing Director da Aguirre Newman Portugal, “os espaços de trabalho apresentam a sua evolução condicionada por dois aspectos que lhe são extrínsecos: a natureza social dos indivíduos e a evolução tecnológica. Se a segunda tem permitido uma virtualização do posto de trabalho e conferido menor importância ao espaço físico propriamente dito, a primeira exige a necessidade dos indivíduos de relacionamentos, de socialização. Numa perspectiva mais macro coloca-se a especificidade da natureza das diferentes áreas de negócio, sendo que umas são mais permissivas que outras quanto à implementação de novos conceitos (Coworking, hotdesking, …)”.
Retalho repensado, reinventado, mas não extinto
“Efectivamente a nova geração de Millennials introduzirá alterações substanciais na relação consumidor produto e por consequência no sector de Retalho”, começa por dizer ao CONSTRUIR Carlos Récio, Director de Agência de Comércio da CBRE. “Muito se tem falado sobre e-commerce e o impacto que o seu desenvolvimento poderá ter no retalho tal como o conhecemos e em particular na eventual diminuição das lojas físicas”, contudo, assegura o mesmo responsável, “no sector específico do retalho, não se prevê nos próximos anos uma diminuição substancial do número de lojas físicas, até porque estas proporcionam uma experiência de compra que adaptada aos requisitos pretendidos pelas novas gerações (onde por exemplo o tema preço tem um papel importante) nunca poderá ser obtida no comércio online. O marketing sensorial é um bom exemplo disso mesmo e de como as marcas se adaptam à dinâmica do mercado e procuram capitalizar este aspecto, induzindo no consumidor o conceito experiência como um dos mais importantes. Comprar, ‘já não é só comprar’ e muitas vezes faz parte de uma experiencia mais vasta que leva à satisfação do consumidor”. De acordo com Carlos Récio, “o mercado de retalho vai tendo cada vez mais essa consciência e não acreditamos que o papel do comércio online e as características das novas gerações, nomeadamente a Millennials, possam levar a uma extinção das lojas físicas. Podem ser repensadas, reinventadas mas não extintas”.
Go Digital, Go Green e Go Healthy
“Construir espaços diferenciadores e surpreendentes”, é assim que a Sonae Sierra, especialista em centros comerciais, se posiciona face a esta nova geração de consumidores. “E é assim que queremos ver os nossos centros comerciais no futuro: espaços modernos, atractivos e perfeitamente alinhados com os estilos de vida dos nossos visitantes”, refere ao CONSTRUIR Manuela Calhau, Directora de Marketing e Inovação da Sonae Sierra para a Europa e Novos Mercados. Segundo a mesma responsável, nos últimos anos “uma das maiores evoluções foi a transformação do centro comercial num local mais vocacionado para a fruição e convívio social, evoluindo de um mero destino de compras para um local também de lazer, com espaços confortáveis, propícios à socialização e ao bem-estar. No futuro, consideramos que esta tendência irá manter-se”. A par desta evolução, Manuela Calhau sublinha que a Sonae Sierra está atenta à evolução tecnológica, este é aliás um caminho que têm vindo a explorar e que será um imperativo para o sucesso dos centros comerciais do futuro “que deverão ter a capacidade de encontrar soluções integradas que possibilitem combinar as mais-valias da oferta física com as potencialidades da tecnologia”. Segundo Manuela Calhau, “o desafio é encontrar e executar a fórmula certa para cada centro comercial e para cada oportunidade, de maneira a criar-se a melhor shopping experience para a área de influência e região”. Para isso, entre outras coisas, é necessário pesquisar e nesse sentido, a Directora de Marketing e Inovação da Sonae Sierra para a Europa e Novos Mercados aponta três macro tendências: “Go Digital, Go Green e Go Healthy”. No que diz respeito à abordagem digital, Manuela Calhau refere que a Sonae Sierra tem uma estratégia multi-disciplinar, com o objectivo de, através do digital, evoluirmos na área do produto físico, na relação com o consumidor, na proposta de valor para o nosso cliente lojista e na nossa forma de fazer. Exemplos práticos são a disponibilização de de wi-fi gratuito nos centros comerciais, pontos de carga móvel, ou os diretórios digitais. Quanto à tendência “Go Green”, a resposta é dada através do programa corporativo de Responsabilidade, em particular no que respeito á utilização responsável e sustentável de recursos. “Começámos com o nosso próprio exemplo, ao comunicar aquilo que fazemos a este nível na construção e operação de centros comerciais, e pelo qual temos recebido inúmeros prémios e distinções”, explica Manuela Calhau. Finalmente, no que concerne ao Go Healthy, a mesma responsável assegura a preocupação em integrar no mix comercial conceitos baseados nesta tendência.
Mudanças previsíveis
Paulo Silva, Managing Director da Aguirre Newman Portugal diz que, ao contrário dos espaços de trabalho, no retalho as mudanças são mais previsíveis. “Uma redução da importância dos espaços físicos, que não os centrais, para actividades como a moda, IT, papelaria, compras nos supermercados, por exemplo, com maiores e crescentes lumes de compra pela Internet serão o grande desafio para os próximos anos”. Na perspectiva de Paulo Silva o mercado imobiliário, irá adpatar-se a esta realidade, embora de uma forma lenta. “Estamos a reportar-nos a um sector normalmente conservador e que cuja capacidade de adaptação, também induzida pelo seu ciclo de produção, é lenta”, sustenta.