Manuel Tainha (1922-2012): João Belo Rodeia recorda o “professor e mestre”
O presidente da Ordem dos Arquitectos reagiu, na página da Ordem à morte de Manuel Tainha, esta segunda-feira, aos 90 anos de idade. João Belo Rodeia recorda o seu “professor […]

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O presidente da Ordem dos Arquitectos reagiu, na página da Ordem à morte de Manuel Tainha, esta segunda-feira, aos 90 anos de idade.
João Belo Rodeia recorda o seu “professor e mestre”, “aquele que fazendo sempre da arquitectura uma questão, soprou-me o ar que respiro como arquitecto, entre a inquietação ética inseparável ao ofício e, em larga medida, à própria vida”. Foi com Tainha que o presidente da Ordem dos Arquitectos tantas vezes partilhou “a interrogação e a preocupação sobre o papel reservado ao arquitecto, enquanto intelectual, num mundo dominado pela rapidez dos gestos, pela tecnocracia, pela desregulação ultra-liberal e por um sistema de produção que tende tantas vezes a exclui-lo”.
“Com ele, aprendi a ser resistente à espuma dos dias, procurando discernir o essencial do marginal e o fundamental do acessório, num pensar sempre em revelação, num fazer sempre em construção e num caminho sempre crítico”, acrescenta Belo Rodeia, sublinhando que com Manuel Tainha, “reconheci a importância do tempo lento no fazer de projecto, que a arquitectura aprende-se e não se ensina, que a arquitectura é mais do que uma qualquer caligrafia, estilo ou gosto, que o seu espaço é lido e vivido pelo corpo e não apenas uma imagem, que o processo criativo explica-se em muito do inexplicável, conjugando intuições e experiências”. “E que é a vida quotidiana, afinal, a grande protagonista de uma arquitectura que deve procurar humanizar-se. Sempre”.
Leia o texto integral:
Para MANUEL TAINHA: um pequeno depoimento
O desaparecimento de Manuel Tainha deixou-me vazio e sem palavras.
Socorri-me das suas para este pequeno depoimento e de algumas, poucas, que fui escrevendo de tempos a tempos, sempre certo de não estar à altura do tanto que nos deu. E de outro tanto que me deu como pessoa e como arquitecto.
Ainda assim, quero recordar aqui o meu professor e mestre. Aquele que fazendo sempre da arquitectura uma questão, soprou-me o ar que respiro como arquitecto, entre a inquietação ética inseparável ao ofício e, em larga medida, à própria vida. Aquele que nunca me faltou, amigo nos melhores e nos piores momentos – “conte sempre comigo” – mesmo quando nem sempre pude ou soube estar junto dele, entre conversas tantas vezes adiadas.
Com ele, porém, partilhei a interrogação e a preocupação sobre o papel reservado ao arquitecto, enquanto intelectual, num mundo dominado pela rapidez dos gestos, pela tecnocracia, pela desregulação ultra-liberal e por um sistema de produção que tende tantas vezes a exclui-lo.
Com ele, aprendi a ser resistente à espuma dos dias, procurando discernir o essencial do marginal e o fundamental do acessório, num pensar sempre em revelação, num fazer sempre em construção e num caminho sempre crítico.
Com ele, sobretudo, reconheci a importância do tempo lento no fazer de projecto, que a arquitectura aprende-se e não se ensina, que a arquitectura é mais do que uma qualquer caligrafia, estilo ou gosto, que o seu espaço é lido e vivido pelo corpo e não apenas uma imagem, que o processo criativo explica-se em muito do inexplicável, conjugando intuições e experiências. E que é a vida quotidiana, afinal, a grande protagonista de uma arquitectura que deve procurar humanizar-se. Sempre.
A propósito do escrever, dizia Manuel Tainha: “Escrever é ir não sei aonde para fazer não sei o quê. Mas não raro, o encontro com uma palavra fecha o ciclo de um raciocínio ou de uma experiência até aí inconclusa. E tudo fica mais claro. E não deixa também de ser verdade que a reflexão contida no escrever remove o sentimento, descola a emoção da sua prisão ao objecto do nosso trabalho, abrindo caminho a questões do ser e do fazer que uma vez descobertas já não se podem adiar”.
É este o homem generoso que agora parte. Uma pessoa de alma e corpo inteiros, quantas vezes em contra-corrente. Devemos-lhe muito, desde logo pela sua persistência no ser e pelo seu compromisso no fazer – em cada gesto, em cada reflexão, em cada projecto e em cada obra – um mundo mais feliz para todos os seus iguais.
Para muitos de nós, para mim, Manuel Tainha estará sempre bem vivo. Quero acreditar que continuará a iluminar, nestes tempos tão ingratos e na convicção de melhores vindouros, as linhas mais claras, mais curtas, menos insofridas e portanto mais inteligentes para a Arquitectura e para a vida.
Meu querido mestre, até amanhã, até sempre!
João Belo Rodeia
arquitecto