Manuel Tainha (1922-2012): João Belo Rodeia recorda o “professor e mestre”
O presidente da Ordem dos Arquitectos reagiu, na página da Ordem à morte de Manuel Tainha, esta segunda-feira, aos 90 anos de idade. João Belo Rodeia recorda o seu “professor […]
AMP: Porto, Gaia e Matosinhos são os concelhos mais procurados por estrangeiros
Turismo nacional deverá manter tendência de crescimento em 2025
Matilde Mendes assume a direcção de Desenvolvimento da MAP Real Estate
Signify mantém-se pelo oitavo ano consecutivo no Índice Mundial de Sustentabilidade Dow Jones
Porta da Frente Christie’s adquire participação na mediadora Piquet Realty Portugal
Obras da nova residência de estudantes da Univ. de Aveiro arrancam segunda-feira
Worx: Optimismo para 2025
SE celebra a inovação centenária dos TeSys e dos disjuntores miniatura
União Internacional dos Arquitectos lança concurso de ideias destinado a jovens arquitectos
Filipa Vozone e Luís Alves reforçam área BPC & Architecture da Savills
O presidente da Ordem dos Arquitectos reagiu, na página da Ordem à morte de Manuel Tainha, esta segunda-feira, aos 90 anos de idade.
João Belo Rodeia recorda o seu “professor e mestre”, “aquele que fazendo sempre da arquitectura uma questão, soprou-me o ar que respiro como arquitecto, entre a inquietação ética inseparável ao ofício e, em larga medida, à própria vida”. Foi com Tainha que o presidente da Ordem dos Arquitectos tantas vezes partilhou “a interrogação e a preocupação sobre o papel reservado ao arquitecto, enquanto intelectual, num mundo dominado pela rapidez dos gestos, pela tecnocracia, pela desregulação ultra-liberal e por um sistema de produção que tende tantas vezes a exclui-lo”.
“Com ele, aprendi a ser resistente à espuma dos dias, procurando discernir o essencial do marginal e o fundamental do acessório, num pensar sempre em revelação, num fazer sempre em construção e num caminho sempre crítico”, acrescenta Belo Rodeia, sublinhando que com Manuel Tainha, “reconheci a importância do tempo lento no fazer de projecto, que a arquitectura aprende-se e não se ensina, que a arquitectura é mais do que uma qualquer caligrafia, estilo ou gosto, que o seu espaço é lido e vivido pelo corpo e não apenas uma imagem, que o processo criativo explica-se em muito do inexplicável, conjugando intuições e experiências”. “E que é a vida quotidiana, afinal, a grande protagonista de uma arquitectura que deve procurar humanizar-se. Sempre”.
Leia o texto integral:
Para MANUEL TAINHA: um pequeno depoimento
O desaparecimento de Manuel Tainha deixou-me vazio e sem palavras.
Socorri-me das suas para este pequeno depoimento e de algumas, poucas, que fui escrevendo de tempos a tempos, sempre certo de não estar à altura do tanto que nos deu. E de outro tanto que me deu como pessoa e como arquitecto.
Ainda assim, quero recordar aqui o meu professor e mestre. Aquele que fazendo sempre da arquitectura uma questão, soprou-me o ar que respiro como arquitecto, entre a inquietação ética inseparável ao ofício e, em larga medida, à própria vida. Aquele que nunca me faltou, amigo nos melhores e nos piores momentos – “conte sempre comigo” – mesmo quando nem sempre pude ou soube estar junto dele, entre conversas tantas vezes adiadas.
Com ele, porém, partilhei a interrogação e a preocupação sobre o papel reservado ao arquitecto, enquanto intelectual, num mundo dominado pela rapidez dos gestos, pela tecnocracia, pela desregulação ultra-liberal e por um sistema de produção que tende tantas vezes a exclui-lo.
Com ele, aprendi a ser resistente à espuma dos dias, procurando discernir o essencial do marginal e o fundamental do acessório, num pensar sempre em revelação, num fazer sempre em construção e num caminho sempre crítico.
Com ele, sobretudo, reconheci a importância do tempo lento no fazer de projecto, que a arquitectura aprende-se e não se ensina, que a arquitectura é mais do que uma qualquer caligrafia, estilo ou gosto, que o seu espaço é lido e vivido pelo corpo e não apenas uma imagem, que o processo criativo explica-se em muito do inexplicável, conjugando intuições e experiências. E que é a vida quotidiana, afinal, a grande protagonista de uma arquitectura que deve procurar humanizar-se. Sempre.
A propósito do escrever, dizia Manuel Tainha: “Escrever é ir não sei aonde para fazer não sei o quê. Mas não raro, o encontro com uma palavra fecha o ciclo de um raciocínio ou de uma experiência até aí inconclusa. E tudo fica mais claro. E não deixa também de ser verdade que a reflexão contida no escrever remove o sentimento, descola a emoção da sua prisão ao objecto do nosso trabalho, abrindo caminho a questões do ser e do fazer que uma vez descobertas já não se podem adiar”.
É este o homem generoso que agora parte. Uma pessoa de alma e corpo inteiros, quantas vezes em contra-corrente. Devemos-lhe muito, desde logo pela sua persistência no ser e pelo seu compromisso no fazer – em cada gesto, em cada reflexão, em cada projecto e em cada obra – um mundo mais feliz para todos os seus iguais.
Para muitos de nós, para mim, Manuel Tainha estará sempre bem vivo. Quero acreditar que continuará a iluminar, nestes tempos tão ingratos e na convicção de melhores vindouros, as linhas mais claras, mais curtas, menos insofridas e portanto mais inteligentes para a Arquitectura e para a vida.
Meu querido mestre, até amanhã, até sempre!
João Belo Rodeia
arquitecto