Uma arquitectura que parla italiano
Monica Ravazzolo e Leonardo Paiella chegaram a Lisboa para fazer Erasmus e não quiseram sair mais.
Ana Rita Sevilha
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Monica Ravazzolo e Leonardo Paiella chegaram a Lisboa para fazer Erasmus e não quiseram sair mais. O resultado? O Paratelier. O Construir foi conhecer o colectivo
Como é que dois italianos acabam por formar atelier em Portugal?
Monica Ravazzolo: Tudo começou com uma formação de Erasmus aqui em Lisboa. Começou como uma brincadeira de querer ir para fora, sair do País, deixar de viver com a família, num sentido mais lúdico, mas acabou por ser uma marca muito grande porque gostámos muito de cá estar durante o ano de Erasmus, conhecemos muitas pessoas, ficámos encantados com a cidade, com a vida e com a experiência em si e não conseguimos voltar para a Itália. Foi uma experiência tão marcante que quando voltámos a Itália começamos a pesquisar formas de vir outra vez, através de bolsas, estudos, trabalhos de final de curso…e assim começou a nossa história aqui. Começou tudo muito por acaso, mas foi tudo muito natural. Hoje brincamos e dizemos que ainda estamos em Erasmus.
O mercado em Itália não estava mais receptivo do que o português?
Leonardo Paiella: Independentemente de existir ou não mais mercado, há mais trabalho no que diz respeito a novos edifícios, em Roma é difícil conseguirmos um trabalho que compreenda projectar um edifício de raiz, de nos conseguirmos exprimir através de um novo volum. Aqui por acaso, por mercado ou por ser o momento certo, tivemos a sorte de poder trabalhar em coisas mais interessantes, e esperamos continuar. Mas também não colocamos de parte voltar a Roma mas agora com mais experiência.
Monica Ravazzolo: Sim, até porque os concursos que fazemos, procuramos que sejam em Itália, até para não perder a ligação. Porque embora estejamos a trabalhar cá gostávamos de entrar no mercado italiano. Já conseguimos alguns resultados, mas não sei, em Itália parece tudo mais lento, mais difícil, mais fechado. Nós também não temos uma grande experiência de trabalho lá, logo não podemos fazer uma grande comparação. Em Itália, a arquitectura tem um grande teor teórico. Escreve-se muito, há muita crítica, história e investigação.
Leonardo Paiella: Também existe outra diferença importante: Portugal dá oportunidade aos jovens, porque olham para nós como a força do País. Em Itália, quem tem prestígio é quem está de professor para cima, pelos 60 ou 70 anos. E depois o que se verifica é que chegam a essa idade e a esse cargo, e têm experiência mas muito pouca obra construída, e essa é uma grande diferença entre Itália e Portugal.
Monica Ravazzolo: Uma coisa que achei fantástica foi o facto de ter tido o Manuel Mateus como coordenador. Às tantas dei para mim a trocar ideias com uma pessoa que tinha imensas obras construídas.
Do vosso percurso constam nomes sonantes da arquitectura nacional. Alguma experiência a destacar?
Leonardo Paiella: No meu caso, como tinha a ideia que a minha experiência em Portugal podia ser breve, tentei absorver um pouco de várias vertentes que queria conhecer mais a fundo, e acabei por aprender de todos, não sei se há algum que me marcou mais…aprendi principalmente uma atitude, que era a de trabalhar em equipas, que é uma coisa que também não existia em Itália, há um medo de mostrar o próprio trabalho, fecham-se nos ateliers e não sabem que uma colaboração com, por exemplo uma equipa de arquitectos paisagistas, ou de artistas plásticos, é muito benéfico. Se um dia voltar a Itália vou levar isto comigo, porque já não consigo fazer sozinha nem uma linha.
Monica Ravazzolo: Talvez a tua [Leonardo Paiella] experiência mais marcante tenha sido com a Fernanda Fragateiro, que foi uma colaboração muito mas que abriu muito a visão. A Fernanda trabalha o espaço e a sensação. Eu tive uma experiência diferente, trabalhei no atelier de paisagismo do João Gomes da Silva, o Global, e foi uma experiência incrível porque aprendi muito, e coloquei-me mesmo numa situação difícil, porque a minha formação era em arquitectura e não em arquitectura paisagista, e tive quase de arrancar do zero. Durante o tempo que trabalhei com o João percebi que a arquitectura paisagista é uma profissão completa, que é diferente do arquitecto e que ambos devem colaborar.
Os concursos ocupam lugar de destaque. Por agora, têm em vista alguma participação?
Hugo Amaro: Não, por enquanto não. Acabámos de entregar o “A House in Luanda”, no âmbito da Trienal de Arquitectura de Lisboa, mas mais no registo de “lufada de ar fresco”.
Leonardo Paiella: Quase tínhamos desistido, mas depois resolvemos fazê-lo na manhã da entrega,mesmo para ter esse sentido de dar umas ideias no imediato. Não era para ganhar, era para ficarmos satisfeitos com as ideias que queríamos materializar.
Um dos projectos que têm em curso é a organização de um estaleiro naval. Do que se trata?
Monica Ravazzolo: Neste projecto estamos a trabalhar em colaboração como gabinete Ternullomelo Architects. Esse é um projecto de reorganização do espaço que tem que ver com algumas problemáticas que existem, nomeadamente ao nível do uso. Depois não existem zonas de sombras e zonas frescas, fica tudo a 45º, sendo que o ideal seria terem menos 3º, por isso chamamos a este projecto “Menos 3º”.De uma forma geral é uma reorganização do espaço e uma optimização do mesmo.
Outro é uma intervenção num edifício residencial em Alfama. Como é intervir num bairro histórico?
Leonardo Paiella: Estamos a falar de um prédio no centro histórico de Lisboa, em Alfama. É um projecto que está há um ano parado. É uma situação difícil porque há regras a manter mas existe uma nova forma de habitar. Quando o IGESPAR tenta preservar o edifício – que eu até acho bem, tenta também manter as características do edifício no seu interior. Claro que não vamos criar um pé direito triplo, mas manter o mesmo espaço significa manter assoalhadas de poucos metros quadrados, queprimeiro não estão a cumprir o Plano Director Municipal de Lisboa, e depois o cliente que está a fazer o investimento fica com vontade de desistir do projecto. Porque não vai querer um espaço que fique com as mesmas características.
Existe algum programa que gostassem muito de fazer?
Hugo Amaro: Acho que não é tanto uma vontade nem um programa, mas sim um interesse do atelier na utilização de tecnologias e processos construtivos. Não tanto um programa, mas a oportunidade de trabalhar sobre temas que para nós são bastante graves. Estamos também muito atentos a técnicas construtivas que estão relacionadas com o uso da madeira, da terra, de materiais que possam ser simultaneamente acabamento e estrutura. Portanto acho que este é um tema muito interessante, até porque trabalhamos muito com clientes que têm pouca capacidade financeira, trabalhamos sempre com uma certa escassez de recursos, e isto é por isso também uma coisa muito interessante, porque uma vez que o mesmo material é estrutural e acabamento, traduz-se numa poupança.
ficha técnica
Nome: Paratelier
Morada: Estaleiro Navalrocha – Cais Rocha Conde Óbidos, 1350-352 Lisboa
Telefone: 212 489 725 Fax: 213 915 997
URL: www.paratelier.com
Mail: info@paratelier.com