Qual o futuro de Lisboa num cenário Post-Oil City?
A Casa da Vizinha e a Secção Regional Sul da Ordem dos Arquitectos estão a lançar o desafio “Post Oil Cities” em Lisboa,
Ana Rita Sevilha
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A Casa da Vizinha e a Secção Regional Sul da Ordem dos Arquitectos estão a lançar o desafio “Post Oil Cities” em Lisboa, um repto que consiste numa série de actividades que terão como objectivo pensar a cidade do futuro e que se dirige não só a arquitectos mas a todos os que tenham vontade de reflectir sobre a cidade, e que está subordinado à seguinte questão: “Qual o cenário futuro para Lisboa numa época de mudança de paradigmas energético e de mobilidade?” Neste âmbito, de Junho a Setembro, sessões de debates e workshops vão levar a que duas equipas desenvolvam “uma proposta de melhoria concreta da cidade de Lisboa ou uma intervenção que contribua para uma transição para uma “Post-Oil City” em qualquer dos seus âmbitos e escalas desde um ponto de vista ecológico (meio-ambiente, social ou económico) e/ou energético”. Até à data, a 28 de Maio, Lluis Sabadel Artiga artista plástico e director da organização Post Oil Cities, abriu o caminho ao exercício de reflexão, e na sua apresentação lembrou como o petróleo influi na nossa vida e como estamos ligados em praticamente tudo. Na mesma sessão, Artiga apresentou uma série de diagramas de um conjunto de cientistas de várias multinacionais sobre o PIC, que é o momento em que essa dependência vai descer e vai acabar, um momento que alguns apontam como sendo em 2010, outros em 2030 e outros em 2050. O mesmo responsável deu ainda a conhecer exemplos em outras cidades, nomeadamente intervenções em espaços públicos e a apropriação dos próprios cidadãos desses espaços, lembrando que mais do que uma mudança de paradigma energético, é uma mudança na forma de viver e de estar. No passado dia 7 de Junho os trabalhos prosseguiram com uma conversa entre João Nunes (arquitectura paisagista), Maria João Rodrigues (energia), Mário Alves (transportes e mobilidade), João Seixas (geógrafo) e Miguel Nery (arquitectura) e sobre o tema do POC2010 Lisboa.
As cidades pós-petróleo
“As cidades, onde mais de 50% da população mundial vive, são campos abertos para explorar novas possibilidades de diferentes modos de vida e têm um grande potencial para criar os melhores ambientes que podemos imaginar para viver”, pode ler-se na apresentação do evento no portal da Casa da Vizinha. O Post-Oil Cities (POC) “procura imaginar como podemos transformar as nossas cidades nesses lugares agradáveis que necessitamos para viver, com acções presentes no campo do urbanismo e arquitectura. Sabemos perfeitamente que se queremos manter a vida humana neste planeta temos que mudar o nosso estilo de vida. Podemos aceitar ou negar, mas mais cedo do que mais tarde a realidade mostrar-se-á de modos diversos. Quanto mais esperamos, menos oportunidades e possibilidades de escolha podemos ter, e por isso é tão importante pensar e planear as cidades não dependentes do petróleo, estudar alternativas e avaliar os diversos modos de intervir”. No seu portal, a Casa da Vizinha explica o conceito, explicando que há duas razões fundamentais para que as cidades pós-petróleo sejam o futuro: “porque necessitamos de combater as alterações climáticas e pelo esgotamento do petróleo e a escassez de outros recursos num planeta materialmente não-infinito como é o nosso”. Contudo, este combate não se resume ao consumo energético, “temos que mudar a nossa mobilidade, as nossas casas, os nossos hábitos alimentares, e os nossos hábitos energéticos para conseguir viver em cidades independentes do petróleo. Esta é uma grande fonte de energia e materiais, mas simultaneamente mau para o planeta e para a nossa sociedade”, alertam. Para que as nossas vidas se tornem mais independentes do petróleo, temos de ser capazes de mudar todos esses aspectos, porque o facto de dependermos do petróleo faz com que o nosso sistema seja muito frágil. E como “vivemos numa época de incertezas, de mudanças nos paradigmas energéticos e nas perspectivas de crescimento, torna-se necessário procurar o uso de ferramentas que permitam visualizar as tendências de futuro para podermos tomar decisões estratégicas com base em conclusões sustentadas”. Nesse sentido, o POC veio desafiar Lisboa a analisar a cidade dentro deste cenário, e a apontar desafios e oportunidades, bem como pontos fortes e fracos, no sentido de desenvolver uma proposta de melhoria da cidade ou uma intervenção que contribua para uma transição para uma Post Oil City desde um ponto de vista ecológico e/ou energético. Em conversa com o Construir, Nadir Bonnaccorso, director da Casa da Vizinha explicou: “o petróleo mudou a nossa forma de viver, de viver a cidade. Depois a cidade transformou-se. Hoje temos o centro histórico e temos o oil, que são as periferias, e aqui também a própria escala da cidade é diferente. No dia em que retirarmos carros porque haverá outras soluções, temos de pensar o que fazer. Um dia, num imaginário qualquer em que a Avenida da Liberdade passe a não ter carros ou uma faixa de carros para cada sentido, temos espaço sobrante, e é um espaço que já não tem uma escala que se adapte à nossa escala humana, e temos de claramente reavaliar essa noção de espaço, e voltar ao tema da socialização, da cidadania”. O arquitecto disse revelou ainda que no decorrer desta iniciativa a gostavam de “ continuar a fomentar a discussão e até ao final deste mês organizar mais um debate com outro tipo de profissionais”, nomeadamente, “um filosofo, um arquitecto paisagista, alguém ligado às águas e seus recursos e talvez pudesse ser interessante alguém ligado à ADENE”. De forma a que qualquer pessoa possa seguir de perto esta discussão, haverá um blog, onde as equipas e os tutores irão actualizar com informações resultantes das discussões e dos trabalhos que em conjunto estão a desenvolver.
Quem somos?
O Post Oil Cities (POC) é um projecto criado por Lluis Sabadel Artiga, que investiga as relações entre o ser humano e a sua envolvente de um ponto de vista ecológico. De acordo com o portal da organização do POC, “este projecto aproveita a capacidade visionária da criatividade para pensar, imaginar e idealizar as nossas cidades depois do petróleo (Post-Oil Cities). Desta forma, vai gerando um novo imaginário para o século XXI que nos sirva de referência no presente”. Para isso, basicamente centram-se em actividades educativas e na sua divulgação, através de workshops e de uma exposição. Os POCWorkshops consistem, num programa internacional de workshops em universidades, escolas e centros de arte e de arquitectura, dirigidos a arquitectos, artistas, desenhadores, engenheiros e a todos os que se interessem por esta temática e que queiram pensar em soluções e transformações que nos libertem do uso do petróleo. No que diz respeito à POCExpo, a mesma é itinerante e incluí projectos, ideias, utopias, acções urbanas, movimentos sociais e modelos de transformação deste paradigma que estão a ser experimentados em diversas cidades.
A importância das cidades
No seu portal, o POC lembra que as cidades são os lugares onde se concentra o maior potencial de transformação da sociedade deste século. No momento que atravessamos, de plena crise energética, alimentar e económica, torna-se fundamental que tenhamos a habilidade de nos organizar, de gerar comunidades que nos permitam munir-nos de conhecimento, de materiais, de técnicas e de tecnologias necessárias para promovermos um bom nível de vida, e é nas cidades que podemos encontrar a maior diversidade de pessoas que nos podem ajudar a chegar lá. Como podem o urbanismo, a arquitectura e o desenho ajudar a criar comunidades mais auto-suficientes? Esta é uma das muitas perguntas que o POC pretende responder. Contudo, de antemão a organização revela que a arquitectura o urbanismo e o desenho não podem oferecer todas as soluções a estas questões mas têm um papel fundamental. E nesse sentido, o POC mostra e promove uma ampla variedade de projectos de investigação que propõem soluções para enfrentar os aspectos mais preocupantes deste século.