Construção em terra é alternativa económica e sustentável, defende especialista
Até algumas fragilidades, como a resistência a sismos, tem vindo a ser melhorada, com técnicas que aconselham uma construção o mais equilibrada possível, a utilização de redes de malhas plásticas nas paredes e o escoramento com vigas em madeira
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A construção em terra é uma boa alternativa económica e sustentável para a arquitetura contemporânea, nomeadamente a habitacional, defende uma especialista da Universidade de Coimbra, organizadora de um seminário internacional sobre o tema.
“É de baixo custo e acessível em qualquer parte do mundo”, disse à agência Lusa Maria Fernandes, arquiteta, ligada ao Centro de Estudos Arqueológicos da Universidade de Coimbra e membro da organização do 6.º Seminário de Arquitetura de Terra em Portugal/9.º Seminário Ibero-Americano de Arquitetura e Construção com Terra, a realizar nos dias 21 e 22 na sua instituição.
Na sua perspetiva, trata-se de uma construção de custos muito mais baixos, que permite a produção dos materiais e tem custos energéticos menores, dada a sua elevada eficiência térmica.
Até algumas fragilidades, como a resistência a sismos, tem vindo a ser melhorada, com técnicas que aconselham uma construção o mais equilibrada possível, a utilização de redes de malhas plásticas nas paredes e o escoramento com vigas em madeira.
Embora seja um tipo de construção muito utilizada para resolver problemas em países pobres, a arquitetura de terra tem vindo a integrar projetos contemporâneos, designadamente nos Estados Unidos da América (Texas, Califórnia e Novo México), na Suíça ou na Alemanha.
Também em Portugal se assiste a um recuperação desta técnica milenar na arquitetura contemporânea, nomeadamente em projetos de Alexandre Bastos, Graça Jalles, Henrique Schreck ou Teresa Beirão.
A arquiteta Maria Fernandes considera que em Portugal os exemplares mais significativos de arquitetura de terra são as construções de castelos em taipa militar, do período de islâmico, do domínio Almóada, como os de Alcácer do Sal ou de Paderne.
Do século passado, nomeadamente no Alentejo, há exemplos de um cineteatro em taipa ou de montes, mas este tipo de construção está disseminada por Portugal.
No património classificado pela UNESCO encontram-se núcleos habitacionais onde a arquitetura de terra é utilizada, como nos centros históricos de Évora, Porto, Guimarães e Angra do Heroísmo.
No resto do mundo são mais de 100 os sítios e perto de um milhar os bens com a classificação como património da humanidade, nomeadamente no Brasil, México, Gana, França, Azerbaijão, Japão, Guatemala, Argélia ou Irão.
Neste seminário, a decorrer em Coimbra, a 21 e 22, estarão presentes cerca de duas centenas de investigadores e profissionais estrangeiros ligados a áreas como a arqueologia, arquitetura, engenharia, antropologia e história.
O programa do evento, no qual serão apresentados mais de uma centena de artigos, está estruturado em quatro painéis – “Arqueologia, Arte e Antropologia”, “Património e Conservação”, “Técnicas, Construção, Investigação e Desenvolvimento” e “Arquitetura Vernácula e Contemporânea”.
A preceder o seminário, no dia 20, realiza-se uma oficina teórico-prática de construção com terra, e para o dia 23 estão programadas visitas a Conímbriga e ao património arquitetónico em adobe no concelho de Ílhavo.
A 24 realiza-se a 9.ª Assembleia Geral da Rede Ibero-Americana PROTERRA, uma organização de cooperação técnica que promove a investigação e o desenvolvimento da construção em terra e que conta com mais de 100 membros da Argentina, Brasil, Bolívia, Colômbia, Cuba, Chile, Equador, El Salvador, Espanha, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Peru, Portugal, Uruguai e Venezuela.
O 6.º Seminário de Arquitetura de Terra em Portugal/9.º Seminário Ibero-Americano de Arquitetura e Construção com Terra é promovido pelo Centro de Estudos Arqueológicos da Universidade de Coimbra, Fundação para a Ciência e Tecnologia, Escola Superior Gallaecia, Fundação Convento da Orada, Associação Centro da Terra e Rede Ibero-Americana PROTERRA.