Xavier Vilajoana, presidente da CONSTRUMAT
“Trabalhamos para que a CONSTRUMAT seja um ponto de encontro para mostrar o presente e vislumbrar o futuro”
Em entrevista exclusiva ao CONSTRUIR, o presidente da CONSTRUMAT explica a importância de uma maior aposta em áreas como a industrialização ou a construção em madeira, atendendo a que Portugal e Espanha estão hoje perante um cenário de transformação. Xavier Vilajoana fala da importância da presença de empresas portuguesas num evento que procura aproximar-se da referência europeia na fileira da construção
Trancoso lança concurso para Museu da Cidade por 3,4 M€
AML tem luz verde para construir 10.500 casas
AICCOPN: Valores em concursos públicos atingem em 2024 máximos históricos
‘The Social Hub’ chega ao Porto com novo conceito de hotelaria híbrida
Município de Arganil investe 5M€ na requalificação de Escola Secundária
Engie investe e implementa centrais fotovoltaicas em 21 lojas Pingo Doce
C&W e Worx assessoram arrendamento para novo laboratório da Affidea
Fileira Casa leva perto de uma centena de empresas nacionais a Frankfurt
Porto: Antigo Mercado de S. Sebastião dá lugar a novo espaço público
Dossier “Máquinas e Equipamentos”: Num mercado em transformação, aluguer domina e ‘pequenas’ crescem
Ao CONSTRUIR, enquanto decorria a edição deste ano da CONSTRUMAT, o presidente do salão explicou que os expositores marcam presença no evento porque têm a garantia de que se trata de uma iniciativa de negócio, mais do que uma mostra de produtos. Xavier Vilajoana ainda digere a edição deste ano sem, no entanto, ambicionar que o evento, promovido pela Fira de Barcelona, possa crescer tanto em espaço como qualitativamente.
Abertas as portas da CONSTRUMAT deste ano, em que ponto do mercado estamos, da economia, no mercado deste negócio de construção?
Estamos num bom momento. Continuamos a crescer de forma sustentada e, além disso, estamos em plena transformação. Ou seja, estamos em um momento em que é preciso construir mais e de forma mais sustentável. É necessário construir pensando no presente, mas sobretudo no futuro. E, além disso, há muitas necessidades do nosso sector, tanto a nível residencial como a nível de infraestruturas. Portanto, estamos numa fase particularmente positiva, de crescimento. E mais: estamos numa fase de expansão tanto quantitativamente quanto qualitativamente, o que também é muito importante.
Esta foi há alguns anos uma das melhores e maiores feiras de construção na Europa. Que caminho importa percorrer agora para recuperar esse posicionamento?
Acho que ainda somos uma feira de referência. O que é certo é que, evidentemente, não estamos nos níveis em que estivemos no início do Século e estou certo de que esses são tempos que não voltarão mais. Mas também porque queremos voltar às origens. Procuramos ser uma Feira muito profissional, onde o networking e as oportunidades de negócio sejam muito fortes, tanto na perspectiva dos expositores como dos visitantes, mas que também seja uma montra de soluções tão transversal como era naquela altura. Aqui pode-se encontrar desde inovação em maquinaria, em materiais, novos sistemas construtivos, novas tecnologias, startups, ou seja, muitos subsectores da construção que são muito importantes estão aqui representados, neste que é um ponto de encontro para todos os que querem ver onde estamos e sobretudo para onde vamos.
Falando com alguns dos expositores, sublinharam que esta é uma feira muito especial porque, diziam, “aqui não somos meros expositores, somos negociantes. Aqui faz-se negócio”. É assim?
Exactamente. De facto, é um dos valores acrescentados que tem a CONSTRUMAT. Os expositores, no final, o que vêm procurar é isso. Campanhas de marketing e de promoção de marca quase todas as empresas já o fazem fora das Feiras. Portanto, aqui, principalmente, o que eles vêm procurar é negócio. E se crescemos em relação à edição anterior em 50%, é porque a resposta é muito positiva e a satisfação também. “De boca em boca” é o que melhor funciona quando se trata de uma campanha de marketing. E esperamos que a edição do próximo ano seja ainda melhor do que foi a deste ano e possamos ocupar, se possível, outro pavilhão maior. No final, se conseguirmos que os expositores e visitantes se sintam bem e estejam, pelo menos, tão satisfeitos quanto na edição anterior, eu acredito que continuaremos a crescer e poderemos voltar a ser o salão de referência de construção em Espanha e, por que não, rivalizar com outras feiras de referência na Europa como a Batimat (Paris, França) ou a Bauma (Munique, Alemanha).
Percorrendo a feira, percebi que há uma mudança efectiva até ao nível dos expositores.
Falamos de novos sistemas construtivos, construção em madeira, novos métodos de construção, industrialização da construção. Isso é mudança comum tanto em Portugal como em Espanha, desde logo porque partilhamos um problema derivado da falta de mão-de-obra. Seria também uma mudança na forma de fazer construção?
Sim. Veja: sempre disse que este é um sector muito resiliente. Sempre foi. É um sector que sempre olhou para o futuro, sempre antecipou as necessidades do futuro, tanto da sociedade como do planeta, e a industrialização é uma parte da solução. Além disso, a industrialização pode ter muitos níveis: pode ser na totalidade, pode ser em módulos, pode ser em pequenos detalhes ou espaços como cozinhas, casas-de-banho. Além disso, a industrialização tem uma vantagem, que é permitir a incorporação de mão de obra, por exemplo, do sector feminino, mas, além disso, reduzir tempos de obra. Por outro lado, em cidades muito consolidadas é mais complicado de fazer. Ocupar um espaço entre dois edifícios existentes é difícil recorrendo a um processo industrial. Mas é verdade que é um sector que é uma soma de muitas soluções. Felizmente, aqui na CONSTRUMAT, podemos ver muitas dessas soluções. E há mais: este é um sector onde os diferentes actores colaboram e cooperam muito entre si. Não é a primeira vez que vêm duas empresas diferentes, com produtos diferentes, e se olham, falam, trocam ideias e dessa colaboração surge um novo produto como consequência dessa transmissão de conhecimento. E isso para nós também gera um valor agregado muito alto. Depois, a sustentabilidade. É evidente que agora não só se olha os edifícios pensando no presente, ou seja, quando estiverem construídos, mas também se tem em conta a sua vida útil, o consumo que sustentam, as emissões de CO2, como também ao nível de manutenção. Ou seja, os edifícios têm que ser sustentáveis economicamente, ambientalmente e socialmente.
Há um ciclo de vida muito longo de um edifício…
Exactamente. E tem de ser levado em conta. As pessoas já olham quanto vai custar a manutenção e os custos que vai ter esse edifício, ou a casa, ou o apartamento onde vai morar.
E considerar também o processo de eventual demolição
A reciclagem e a reabilitação são muito importantes. Actualmente avançou-se muito. Há empresas de demolição que já implementam, no mesmo terreno onde se demoliu, pequenas estações de reciclagem dos materiais, que depois são reutilizados na nova construção. Isso já funciona há algum tempo e cada vez a economia circular na construção está mais difundida.
Procuramos ser uma feira muito profissional, onde o networking e as oportunidades de negócio sejam muito fortes, tanto na perspectiva dos expositores como dos visitantes, mas que também seja uma montra de soluções tão transversal como era naquela altura
O que Portugal pode trazer para CONSTRUMAT? Que valor acrescentado podem ter os expositores de Portugal?
Portugal e Espanha são pontos de união entre a América e a Europa. São pontos de entrada. Além disso, têm muitas semelhanças. Têm o mesmo tipo de cidades consolidadas mas, ao mesmo tempo, têm municípios afastados das grandes cidades que precisam dessa comunicação para que possam crescer de forma sustentável. Acredito que em Portugal também têm um problema de acesso à habitação principalmente em grandes cidades como Lisboa por exemplo, e esse é um problema comum. Isso só se resolve construindo mais e fazendo mais apartamentos, porque se a promoção de novas casas é mais célere que a construção dos mesmos é muito evidente que haverá tensões no mercado. Mas isso não se pode só limitar às grandes cidades. A resposta a estes problemas depende, também, da execução de boas redes de comunicação e de mobilidade. É importante considerar que o cálculo de distâncias seja feito em minutos e não apenas em quilómetros. Quando conseguirmos isso teremos mais facilidade para crescer.
Consolidar novas áreas urbanas…
Exacto, e bem comunicadas. Dou sempre este exemplo: se planificar agora uma viagem a Londres, vou ter vários aeroportos onde aterrar. Seja Luton, Gatwick, Stansted. Para termos uma ideia: Stansted está a uma distância quase equivalente à distância entre Barcelona e Girona. E, no entanto, quando tu vens a Barcelona e aterras em Girona, não pensas que estás a vir para Barcelona. E, no entanto, estás à mesma distância que, por exemplo, o aeroporto de Stansted. De Stansted ao centro de Londres demoras 25 minutos. Quando conseguirmos isso, aliviaremos o peso e a pressão que há nas cidades como Lisboa ou Barcelona, por exemplo, que são tão solidárias e tão maduras.
Este ano têm um país convidado, Marrocos. O que significa isso? Um piscar de olho ao Mundial, que Espanha organiza em conjunto com Marrocos e Portugal?
Sim, também. É o primeiro ano que temos um convidado de honra. Neste caso, a escolha acabou por ser Marrocos porque na edição anterior da CONSTRUMAT, quase 30% dos visitantes era desse País, naquela que foi a nacionalidade mais representativa entre os visitantes. Além disso, se considerarmos que Espanha passou a ser o primeiro país na relação comercial com Marrocos, ultrapassando a França, também nos fez pensar nesta opção. A isto junta-se, claro, o facto de Espanha, juntamente com Portugal, organizar conjuntamente o Mundial de 2030 de futebol. Então dissemos que este era o melhor momento. Mas evidentemente, nas próximas edições haverá outros países e porque não Portugal? É um dado curioso que muitas vezes olhamos para o perfil do visitante como um perfil europeu por estarmos tão perto. Mas há um número considerável de visitantes de outros continentes. Há uma conexão muito grande com estas feiras. Eles podem trazer e beber muito desta informação que nós partilhamos neste tipo de eventos. De facto, somos a porta de entrada para a Europa para o continente africano e, portanto, eles também têm de aproveitá-lo. Somos a porta de entrada para a Europa e eles são a nossa porta de entrada para África. Portanto, é normal que com os países do norte de África tenhamos este tipo de relação. Além disso, eles também precisam crescer muito em infraestruturas. As empresas europeias, e quase todas espanholas, são especialistas. Temos grandes empresas nacionais que trabalham por todo o Mundo, muito importantes, e, portanto, é um factor a ter em conta. Mas não só o continente africano, o continente asiático também traz muitos visitantes. E o americano. Tanto o norte-americano como o sul-americano. Realmente estamos num lugar, Barcelona neste caso, que é um nexo de união de muitas culturas, de muitos países e de muitos continentes. E temos de aproveitar isso.
Pode-se saber um pouco mais sobre a próxima edição? O que têm planeado?
De momento estamos a desfrutar desta. E estamos, felizmente, sobrecarregados porque o sucesso, por enquanto, está a ser muito alto. Está a corresponder às expectativas que tínhamos. E para o ano queremos crescer. Queremos alcançar um volume não só quantitativo, mas qualitativo, para podermos competir com feiras como a Batimat ou a Bauma. Porque se para o ano conseguirmos alcançar o volume que queremos, passaríamos a edições bienais para competir ombro a ombro com estas duas grandes feiras europeias. A intenção da CONSTRUMAT não é que se torne numa feira de mostra de produto. Ou seja, aqui tentamos que todos os expositores acrescentem valor, que apresentem soluções inovadoras, as novidades que saem no mercado, novas formas de construir. Trabalhamos para que a CONSTRUMAT seja um ponto de encontro para mostrar o presente e vislumbrar o futuro. E eu acho que isto é muito importante, porque se não, não te diferencias das outras feiras. É muito importante que haja essa diferenciação, como disse, qualitativamente em relação às outras feiras