Rita Moura, presidente da Plataforma Tecnológica Portuguesa da Construção (PTPC)
Perspectivas 2024: “Inovação, Sustentabilidade e Confiança”
Juntos, podemos construir um futuro em que a indústria da construção portuguesa seja uma referência em inovação, eficiência e sustentabilidade. Uma indústria que esteja preparada para enfrentar os desafios do século XXI e contribuir para o progresso e bem-estar da nossa sociedade
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Investimento Público
O mais recente relatório da OCDE aponta para desafios significativos na economia portuguesa, prevendo um crescimento modesto de 1,2% em 2024, influenciado pelo enfraquecimento da confiança e pelo abrandamento económico na Europa. Embora também tenham sido feitas revisões em baixa pelo Governo português e pela Comissão Europeia, a OCDE faz uma perspetiva mais otimista para 2025, com a expectativa de crescimento de 2%, impulsionado pelos investimentos do Plano de Recuperação e Resiliência e medidas de estímulo fiscal.
Cerca de 40% destes investimentos são em construção o que são boas notícias para o setor, mas devemos ser cautelosos quanto aos resultados, a menos que haja uma mudança substancial em termos operacionais, na gestão pública destes investimentos. É manifesta a estagnação que as entidades públicas enfrentam, por um lado, devido à sobrecarga de processos, por outro, pela complexidade dos procedimentos, excessivamente burocráticos e pouco automatizados.
As pequenas e médias empresas (PMEs), que são (e bem) os principais alvos desses programas, emergem como as principais vítimas desta teia burocrática. Com estruturas reduzidas ficam limitadas na sua capacidade de lidar com a densidade de procedimentos administrativos.
Vivemos um momento único de investimentos públicos, que deveriam ser entendidos como instrumentos de criação de valor, do ponto de vista económico, social e ambiental.
Isto só se consegue com um trabalho conjunto, entre todos os stakeholders, desenvolvendo uma relação de grande abertura, transparência e sobretudo confiança, e este deveria ser um desígnio Nacional. Só com um trabalho conjunto entre entidades públicas, privadas e com incorporação do conhecimento das entidades do sistema científico e tecnológico, se conseguirá atingir um crescimento económico que nos coloque no 1º Mundo.
Investimento Privado
A crise na habitação não deixa dúvidas é necessário, construir novas habitações e reabilitar as existentes, melhorando as condições de segurança, resiliência, conforto. Simultaneamente as soluções adotadas deverão responder às metas ambientais e com custos comportáveis, para uma sociedade ainda com baixos salários líquidos. Esta é uma equação difícil de resolver sendo que a única resposta assenta na Inovação.
Para além do imperativo de dinamizar o investimento público em habitação, é necessário criar condições para o investimento privado. Para tal são bem-vindas medidas de estímulo fiscal e de simplificação administrativa, através eliminação de licenças, autorizações e atos administrativos desnecessários, como forma de diminuir custos de contexto e acelerar a execução dos projetos.
Votos para 2024 “Inovação, Sustentabilidade e Confiança”
A indústria da construção enfrenta desafios de produtividade, sendo um dos setores menos eficiente, devido ao inegável (ainda) conservadorismo dos métodos de trabalho e também à grande complexidade de um projeto de construção, que se torna um objeto único, realizado in situ, em contraponto com a produção em série de outras indústrias. Construir com custos comportáveis implica, na medida do possível, replicar o que acontece por exemplo na indústria automóvel. É necessário digitalizar processos, integrar a automatização, apostar em novas soluções (materiais e tecnologias), recorrer à pré-fabricação e à construção modular.
A digitalização é também essencial para resolver o desafio da eficiência energética e material permitindo a previsão de desempenho e a identificação e rastreabilidade dos componentes utilizados na construção e assim promover o uso eficiente de recursos do Planeta.
Juntos, podemos construir um futuro em que a indústria da construção portuguesa seja uma referência em inovação, eficiência e sustentabilidade. Uma indústria que esteja preparada para enfrentar os desafios do século XXI e contribuir para o progresso e bem-estar da nossa sociedade.
Nota: A Autora escreve segundo o Novo Acordo Ortográfico