Vítor Poças, presidente AIMMP. foto de Nelson Garrido
Paixão pela Madeira [c/galeria de imagens]
Em vésperas da cerimónia de entrega de mais uma edição, a sétima, do Prémio Nacional de Arquitectura em Madeira, PNAM’23 falámos com Vítor Poças, presidente da Associação dos Industriais da Madeira e Mobiliário Nacional (AIMMP) sobre a crescente utilização da madeira na construção. O 7º vencedor do PNAM será conhecido no próximo dia 22 Setembro
Manuela Sousa Guerreiro
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Nunca se falou tanto da utilização da madeira na construção em Portugal como agora. O actual contexto ambiental, económico e social leva à procura por outras soluções que rompem com a que tem sido a construção tradicional portuguesa das últimas décadas. Acrescem as exigências europeias mais apertadas no domínio ambiental para criar um contexto propício à expansão da construção em madeira no país. Mas esta “paixão pela madeira”, enfrenta ainda estigmas e exige compromissos… com a floresta e com ensino, só para referir alguns. Por entre a muita desconfiança do mercado, há quem vá abrindo o caminho para que se acelere em Portugal a utilização deste material. Sendo certo que não estamos a “inventar a roda”, este é o início de um caminho já há muito traçado por outros países onde a construção predominantemente em madeira permite viver melhor e com um menor custo ambiental.
“As empresas nossas associadas nunca tiveram tanto trabalho como agora”, afirma a propósito Vítor Poças, presidente da Associação dos Industriais da Madeira e Mobiliário Nacional. É claro que seria leviano um paralelismo directo entre este crescimento industrial e a utilização da madeira na construção, já que a associação abrange toda a fileira – desde o corte e abate de árvores, à sua transformação e comercialização, incluindo aqui o mobiliário e as carpintarias interiores – mas não há dúvida que se assiste a uma maior utilização da madeira “enquanto elemento estrutural”, assegura Vítor Poças. Uma tradição que Portugal foi perdendo nos últimos 50 anos, inclusivamente “no ensino e desenvolvimento do conhecimento das universidades, a favor da construção em betão e em ferro. Curioso é que podemos aplicar aqui o provérbio que o meu pai me dizia… ‘atrás do Tempo, tempo vem’ para o que se passa actualmente”. O presidente da AIMMP sublinha que se assiste a “um novo impulso, uma nova corrente que vem dar peso à madeira naquilo que é a sua utilização como elemento estrutural, hoje começamos a ter o uso da madeira na construção doméstica e na construção industrial e na construção pública, noutro tipo de equipamentos, passadiços, bares de praia, restaurantes, nos parques de diversão, nos parques infantis… mas também uma maior utilização na construção de infraestruturas de hotelaria e turismo”.
A montra da arquitectura nacional em madeira
Uma visão de quem acompanha o sector “por dentro”, e que se tornará talvez mais evidente para o público geral em mais uma edição, a 7ª, do Prémio Nacional de Arquitectura em Madeira, PNAM. Este que já se tornou uma montra da arquitectura em madeira no País, premeia obras com carácter permanente, realizadas em Portugal, que evidenciem o uso da madeira como material relevante na arquitectura e que sejam da autoria de arquitectos inscritos na Ordem dos Arquitectos. A iniciativa, que arrancou em 2011, tem periodicidade bienal, e já premiou nomes como Carlos Castanheira, Francisco Vieira de Campos, ou mais recentemente, João Mendes Ribeiro.
No dia 22 de Setembro, serão conhecidos os vencedores desta edição, numa cerimónia que terá lugar na Casa da Arquitectura, em Matosinhos. A organização do PNAM incluí a realização de um catálogo com uma short list das obras candidatas e seleccionadas pelo júri, de entre as cerca de três dezenas de candidatas o Júri, presidido pelo arquitecto João Mendes Ribeiro, vencedor da última edição do PNAM, 2022, com o projecto “Casa no Castanheiro”, 16 foram seleccionadas para integrar o catálogo da 7ª edição.
“Cada edição do PNAM é um case study, ou um conjunto de case study´s, de exemplos de construção em madeira que são um contributo para enriquecer o conhecimento em torno deste tema. Neste conjunto de 16 obra que foram pré-seleccionadas temos exemplos de construção nova, de equipamentos, de obra pública. A cada edição do prémio nota-se uma evolução onde a madeira assume um papel estrutural num conjunto de projectos que vão sendo cada vez mais diversificados”, refere Vítor Poças.
A este propósito o responsável sublinha o envolvimento das universidades nesta iniciativa. “Enquanto polo de saber, estas têm que acompanhar as necessidades do mercado e, de facto, temos vindo a assistir nos últimos anos ao intensificar do ensino do uso da madeira e das suas capacidades, domínios e estruturas. Estou convencido que esta procura pela construção em madeira irá continuar e com ela a procura de formação. E por terem este importante papel temos a preocupação de incluir em cada edição duas universidades na comissão organizadora do concurso”.
Valorizar a floresta nacional é obrigatório
Falar da Madeira e do seu uso crescente na construção, é falar de recursos e da floresta nacional. Um tema que “nos leva para outro tipo de discussão”, mas que é importante referir, tal como é importante referir “o estado débil da floresta portuguesa, quer em quantidade quer em qualidade. A floresta portuguesa não produz madeira que seja amiga à construção estrutural, mas, no entanto, hoje em dia, estamos a recorrer à madeira reciclada, ao uso dos painéis, dos aglomerados e dos painéis de CLT, que é possível produzir com madeiras portuguesas. Hoje estamos a recorrer às madeiras vindas dos países do Leste e dos países nórdicos, mas isso não me faz desacreditar, nem do material, nem do recurso, nem da tendência que vamos continuar a assistir de crescimento da construção em madeira, independentemente da sua origem”, afiança Vítor Poças.
Os números mais recentes dão lhe razão. Em 2022 as exportações do sector bateram o recorde ao atingir os 3039 milhões de euros e os primeiros seis meses de 2023 reforçam a tendência de crescimento. “Até Junho as exportações globais do sector cresceram 8%, tendo sido exportados 1646 milhões de euros no primeiro semestre, mais 110 milhões de euros face ao período homólogo”, revela Vítor Poças. “Naturalmente que a construção em madeira, nacional e internacional, irá catapultar a utilização de outros produtos de madeira em complemento ao impulso da construção”. Aqui realçando o esforço e o investimento em inovação e design das empresas de mobiliário nacional. Depois de em 2022 as vendas ao exterior terem crescido 450 milhões de euros a perspectiva é de que as vendas do sector cresçam 300 milhões de euros no final de 2023.