Paulo Barros Trindade, presidente AVASAL – Associação Profissional das Sociedades
de Avaliações
Avaliações imobiliárias sem pausa, mesmo com pandemia
Em Portugal as avaliações de imóveis nunca pararam durante a quarentena, mas o presidente da AVASAL alerta que ainda há perigos para o sector
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A evolução da pandemia e o atraso na retoma económica podem pôr em risco a actividade
imobiliária. Em Portugal, o sector nunca esteve parado e as últimas semanas dão mostra de
sinais de retoma. Uma retoma que a evolução da pandemia e o consequente atraso na retoma
económica podem colocar em risco. Em entrevista ao CONSTRUIR, Paulo Barros Trindade,
presidente da Associação Profissional das Sociedades de Avaliações (AVASAL) analisa os
desafios da actividade
Como tem evoluído a AVASAL e, em concreto, a actividade de avaliação de imóveis e
negócios?
A ASAVAL comemora este ano 10 anos de existência. A associação agrega cerca de 30
sociedades de avaliação e aproximadamente 200 peritos avaliadores individuais. Em Portugal,
existe uma classe profissional de peritos avaliadores, sendo que as sociedades de avaliação,
constituídas e lideradas na sua maioria por peritos avaliadores, concentram a maioria das
avaliações imobiliárias realizadas para o sector financeiro. A maior parte dos peritos
avaliadores que exercem actividade no sector financeiro dedicam-se em exclusivo à profissão,
sendo maioritariamente licenciados em engenharia, arquitectura e economia/gestão, com pós-graduação em avaliação imobiliária.
De que forma as actividades de avaliação de imóveis e negócios foi afectada durante estes
meses de pandemia? Houve paragem total?
Durante a 2ª quinzena de Março e até à 1ª quinzena de Maio, a actividade ficou mais
condicionada devido ao Estado de Emergência. A ASAVAL propôs, em Março, algumas soluções
a reguladores e bancos para impedir que a actividade ficasse suspensa, sendo que a CMVM
emitiu orientações em meados de Março no sentido de ser estabelecido um protocolo de
segurança para as inspecções a realizar aos imóveis, que consistia na utilização de meios
tecnológicos do tipo videochamada, sempre que não existiam condições mínimas de segurança
para se realizar a inspecção ao interior do imóvel ou nas situações em que os clientes se
recusavam a receber os peritos avaliadores no interior dos imoveis. Ainda que a actividade
tenha sofrido uma redução superior a 30% nesse período, nunca existiu paragem total e o
empenho e profissionalismo dos peritos avaliadores permitiu que a actividade de crédito
hipotecário pudesse continuar nesse período.
Como é que correu essa adaptação ao teletrabalho? É possível fazer avaliações à distância?
Ou a tecnologia é uma aliada?
Também na nossa actividade as sociedades adaptaram-se ao teletrabalho. Não obstante a
possibilidade de se usar a videochamada para realizar a inspecção pelo interior do imóvel,
durante o estado de emergência, a realidade é que as avaliações realizadas desta forma não
constituíram a maioria das situações, tendo continuado a ser realizadas inspecções físicas ao
interior dos imóveis, tendo sempre presente o cumprimento quer das regras de
distanciamento mínimo, quer do uso de máscaras, luvas de protecção e desinfectante, como
recomendado pela DGS.
As avaliações à distância constituem uma solução de recurso para situações como a que
vivemos durante o estado de emergência, sendo fundamental que num contexto normal, o
perito avaliador realize uma inspecção física dos imóveis, para que possa identificar
correctamente todos os factores que influenciam uma avaliação imobiliária.
Relação com sector financeiro é incontornável
Menos avaliações, menos créditos bancários. Como tem sido esta relação com o sector
financeiro neste período? Qual o peso deste na actividade de avaliações?
O sector financeiro é um dos principais clientes dos peritos avaliadores de imoveis e
obviamente que existindo alguma retracção nas operações de crédito imobiliário, isso irá
traduzir-se numa redução do volume de avaliações realizadas.
Apesar do contexto, no sector imobiliário não se registam alterações significativas dos preços
dos imóveis. A pandemia em nada mudou nas avaliações que são feitas ou muito por que o
sector foi evoluindo à ‘boleia’ dos negócios que estavam na calha e já projectados? Como vê
que a situação venha a evoluir até ao final do ano?
Estes últimos meses foram muito alimentados por negócios que já estavam em pipeline. No
entanto já se verificam algumas novas transacções e o mercado começa a ter alguns sinais de
actividade. Não creio que o mercado imobiliário venha a ter uma retracção considerável,
existindo, no entanto, algum ajustamento dos preços pedidos pelos proprietários e, sobretudo,
uma maior disponibilidade para negociar o preço final. Julgo que esta realidade só irá ter
alterações significativas se os cenários de retoma da economia não se concretizarem ou se a
retoma for demasiado prolongada no tempo.
Acreditando que a actividade de avaliação não seja estática. O que é que o actual contexto
irá influenciar nos critérios de avaliação?
Como não existem muitas transacções é necessária alguma prudência na atribuição dos valores
de mercado. Infelizmente, em Portugal a maioria das avaliações baseiam-se em analises
realizadas sobre amostras de asking price, uma vez que os preços das transacções não são
divulgados de forma clara e expedita, como acontece com outros países. A ASAVAL tem
procurado sensibilizar as entidades com competências nesta área para a necessidade de se
alterar este contexto e tornar pública e de acesso expedito a informação sobre as transacções.
As normas europeias de avaliação de negócios são recentes o que é que este novo normativo
trouxe de novo e qual o será o seu impacto?
As EBVS – Normas Europeias de Avaliação de Negócios destinam-se a normalizar a avaliação de
negócios e empresas e são uma mais valia criada pelo TEGoVA (Grupo Europeu de Associações
de Avaliadores), associação à qual pertence a ASAVAL e que já publicava as EVS – Normas
Europeias de Avaliação, aplicadas aos imóveis. As EBVS editadas pelo TEGoVA e que se
encontram a ser traduzido para Português pela ASAVAL, são um referencial de grande
qualidade para os peritos avaliadores de negócios. No médio prazo será a base para que possa
existir em Portugal uma acreditação internacional deste tipo de peritos avaliadores, como já
existe para os peritos avaliadores de imóveis, que têm ao seu dispor a possibilidade de
obterem as acreditações internacionais de REV (Recognised European Valuer) e TRV (TEGoVA
Residential Valuer) criadas pelo TEGoVA e, em Portugal, atribuídas pela ASAVAL.