FAUP divulga resultados preliminares do inquérito “A Cidade Emergente”
Espaços mais verde, mais zonas pedonais e a valorização da escala de proximidade nas cidades, são alguns dos aspectos mais valorizados pelos participantes portugueses no inquérito
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Espaços mais verde, mais zonas pedonais e a valorização da escala de proximidade nas cidades, são alguns dos aspectos mais valorizados pelos participantes portugueses no inquérito “A Cidade Emergente”, conforme indicam os resultados preliminares do estudo, que contou com 1400 participantes portugueses.
Os resultados apontam que as condições de habitabilidade relativas ao isolamento térmico e acústico e a existência de espaços exteriores – varandas, pátios e jardins privados -, serão critérios fundamentais na escolha de uma futura habitação.
“A Cidade Emergente” é um estudo internacional que está a ser realizado através de inquérito online em diversos países e que pretende aferir o impacto do isolamento social, no contexto da pandemia do novo coronavírus, no nosso modo de olhar para as cidades e para a habitação.
Liderado pelo arquitecto Luciano Alfaya e coordenado por uma equipa de docentes da Escuela de Arquitectura Cesuga-Universidad San Jorge da Corunha em aliança com o Grupo de Investigação ‘Vivienda Eficiente y Reciclaje Urbano’ da Universidad de Granada, Espanha, reúne vários parceiros em diferentes países, entre os quais a Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto sob coordenação da arquitecta Filipa Guerreiro.
Dos cerca de 1400 participantes no estudo, 90% possuem formação superior e 65% são mulheres. A grande maioria vive em cidades, 41% no Porto e 23% em Lisboa. No que se refere às características da habitação, 60% dos participantes vivem em apartamentos localizados em edifícios plurifamiliares e 20% em casas unifamiliares. Note-se que 56% das habitações dispõe de 3 ou 4 quartos. Um universo que não poderá ser generalizado à sociedade portuguesa.
No período de realização do inquérito, que coincidiu com o Estado de Emergência em Portugal, 84% das pessoas indicaram estar isoladas em casa, 68% em teletrabalho e 30% com crianças. Na totalidade da amostra, 77% das pessoas indicaram ter acesso ilimitado à internet e 47% dispunham de Netflix ou outra plataforma de streaming.
Do ponto de vista da escolha de uma futura habitação, a maioria dos participantes valoriza de forma expressiva a orientação solar, o isolamento térmico e acústico, a organização interior e grandes aberturas de relação com espaços exteriores privados (varandas, terraços, pátios, jardins), cuja existência é vincadamente desejada.
Observou-se também que no que se refere à organização interior das habitações, apenas 26% dos participantes indicou que desejava ter uma relação mais aberta entre a sala e a cozinha, uma opção cada vez mais frequente no desenho das habitações, nos anos recentes. A experiência recente com o teletrabalho não parece ter tido um impacto significativo na necessidade sentida pelas pessoas em ter um espaço de trabalho autónomo no interior das casas.
A possibilidade de viver noutra zona da cidade, noutra cidade ou num ambiente rural/natural é desvalorizada, no entanto, uma maioria expressiva dos inquiridos (90%) gostaria que a cidade fosse mais verde, mais pedonal e funcionasse com lógicas de proximidade, mas poucos acreditam que estas mudanças possam efectivamente acontecer.
Relativamente à possibilidade de restrições de acesso na cidade, 50% dos participantes discordam e 36% discordam também quanto à existência de mecanismos de controlo social (a maioria dos restantes participantes não têm opinião formulada sobre estas questões).
Do total de participantes, 68% considera que o período actual os está a afectar de forma significativa, 65% demonstra ter medo do que possa acontecer no futuro, 64% considera que deve ponderar algumas opções da vida que levava até à pandemia e 61% valoriza mais a vida que levava antes, no entanto, apenas 17% considera que deve mudar totalmente de vida quando o confinamento termine.
Importa ainda referir que 60% das pessoas não estariam dispostas a ganhar menos podendo trabalhar a partir de casa.
De acordo com Filipa Guerreiro, coordenadora do estudo em Portugal e docente e investigadora na FAUP, apesar da maioria das pessoas não valorizar a relocalização da habitação noutra cidade ou noutra zona da cidade, e apenas 25% referirem que valorizariam estar estar num ambiente rural/natural, “não podemos deixar de considerar expectável que o sentido de retorno a uma vida mais próxima da natureza e a um olhar mais atento às questões do espaço da agricultura, tema cíclico no tempo longo da História, e que tem vindo nas primeiras décadas do século 21 a marcar novamente presença, ganhe, no contexto e situação presente, uma nova dimensão”.
Entende que não será um êxodo, mas considera que os aspectos que possamos ter aprendido ou entendido como positivos na experiência de confinamento – a capacidade de trabalho e o acesso à informação à distância por via digital, por exemplo – poderão tornar-se argumentos que viabilizem essa opção de vida. Consequentemente, para a docente e investigadora da FAUP, “a qualidade de acesso à internet passará a ser cada vez mais um elemento diferenciador nas opções de escolha da localização na habitação no território, e consequentemente deverá assumir um papel estratégico no ordenamento, planeamento e gestão do território”.