“Energia é o maior dinamizador do crescimento em Angola”
Num momento em que a construção se cinge aos projectos prioritários no país, a agricultura assume um lugar de destaque para o investimento privado em Angola e, para tal, é necessária uma maior potência instalada em termos de energia. Ao CONSTRUIR, Fernando Prioste e Vítor Carneiro falam da actividade que a COBA tem desenvolvido em Angola e explicam quais são actualmente os principais eixos de desenvolvimento do país
Pedro Cristino
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Num momento em que a construção se cinge aos projectos prioritários no país, a agricultura assume um lugar de destaque para o investimento privado em Angola e, para tal, é necessária uma maior potência instalada em termos de energia. Ao CONSTRUIR, Fernando Prioste e Vítor Carneiro falam da actividade que a COBA tem desenvolvido em Angola e explicam quais são actualmente os principais eixos de desenvolvimento do país
Presente em Angola desde a década de 60, a COBA tem vindo a acumular um “capital de confiança” neste país, que tem actualmente um peso de 68% na actividade do grupo. Ao CONSTRUIR, Fernando Prioste, presidente do conselho de administração/CEO da COBA Portugal e presidente da COBA Angola, e Vítor Carneiro, vice-presidente do grupo, destacam que a presença da consultora portuguesa no mercado angolano se tem pautado por uma posição de parceira do desenvolvimento do país e da sua engenharia.
“A nossa relação com Angola começou no final dos anos 60, é uma ligação de uma vida”, sublinha Vítor Carneiro, referindo que a COBA, com 55 anos actualmente, tem “45 anos, no mínimo, em Angola”. Neste âmbito, o vice-presidente da empresa ressalva a aprovação, por despacho presidencial, no passado dia 13 de Junho, do Plano Nacional da Água, “que desenvolvemos para o Ministério de Energia e Águas de Angola, na sequência de termos desenvolvido o Plano Nacional de Irrigação de Angola, para o Ministério da Agricultura”. Tratam-se, segundo Vítor Carneiro, de “dois grandes instrumentos de planeamento da utilização de recursos hídricos em que a COBA esteve envolvida e que estão à disposição das autoridades de Angola”. Neste sentido, o engenheiro explica que estes estudos de enquadramento levam “à definição dos eixos de desenvolvimento dos projectos” neste país, onde a empresa portuguesa começou, nos anos 90, por fazer planos directores, “a nível do abastecimento da água e saneamento das cidades” de 10 das 18 capitais de província de Angola. Esses planos constituíram “a matriz que conduziu à realização dos projectos de reabilitação ou ampliação dos sistemas hídricos existentes”, de acordo com o vice-presidente da empresa portuguesa, que explica que a ligação da COBA ao sector dos recursos hídricos “cobre todo o ciclo da água, desde o planeamento até à concretização de projectos e obras”.
Parceiros de desenvolvimento
“Hoje, estamos no desenvolvimento e implementação desses projectos, com algum desse planeamento de base”, revela Fernando Prioste, ressalvando que os estudos de planeamento que a empresa fez no Médio Cuanza “já vêm desde a década de 70”, tendo a COBA estado envolvida em “todos os empreendimentos, construídos ou em fase de lançamento e construção” desta região. “Estivemos envolvidos em obras que, hoje, totalizam uma potência instalada de mais de 7 mil megawatts, das quais temos obras de dimensão mundial, com barragens de mais de 2 mil megawatts, como sejam os aproveitamentos de Laúca ou Caculo Cabaça”, destaca Prioste, referindo também o caso da barragem de Cambambe que, com o reforço de potência, tem uma capacidade de 700 megawatts. O CEO da consultora portuguesa de engenharia explica ainda que o grupo esteve envolvido no estudo de viabilidade do Zenzo, “outro empreendimento que também se espera que possa vir a ser lançado brevemento” e que terá uma potência de 950 megawatts – “é muito significativo”, reforça Fernando Prioste. Ao CONSTRUIR, o também presidente da COBA Angola explica que o grupo fez o projecto de base de Caculo Cabaça, barragem que aguarda agora o projecto de construção e a obra, que serão feitos a breve trecho, cabendo à empresa portuguesa “a aprovação dos projectos de execução, que são desenvolvidos sob a responsabilidade do empreiteiro. Neste cenário, Fernando Prioste destaca que, mesmo em obras onde a COBA não teve envolvimento na fase de execução, como Capanda, a empresa foi responsável pelo desenvolvimento do estudo de viabilidade e do anteprojecto da barragem e da central. Todavia, “por razões contratuais e de financiamento, a obra acabou por ser conduzida de forma diferente”.
Músculo chinês
De acordo com o CEO da COBA as autoridades angolanas tem feito “um esforço muito grande” no sentido de “permitir que os projectos estruturantes para o país avancem” e esses projectos são, segundo Fernando Prioste, a energia – produção e fornecimento de energia às populações -, a reabilitação das principais estradas e o abastecimento de água e saneamento. Estas são áreas que, segundo Prioste, apresentam dinamismo e a empresa está envolvida não apenas na área de produção de energia, como também nas redes viárias. “Estamos envolvidos num projecto de grande visibilidade que é a Estrada Nacional que liga Maria Teresa ao Dondo, uma estrada com muito tráfego que é um dos eixos principais de Angola”, explica, referindo que a COBA é responsável pela fiscalização. O que Fernando Prioste tem observado é que, neste momento, “os empreiteiros chineses têm vindo a ocupar algum do espaço que era outrora ocupado por empresas de outra origem” e as principais obras estão em curso. “Não se sente, na construção, um grande abrandamento”, ressalva, relativamente ao sector das infra-estruturas, porque, “se falarmos na habitação e nos escritórios, o caso é diferente”. Segundo Vítor Carneiro, foi definido, pelo Governo angolano, “o que era prioritário e o que era menos prioritário”, tendo as obras não prioritárias ficado “para trás”. Neste sentido, Fernando Prioste recorda que, em 2016, “talvez tenha havido uma quebra, pelo menos, no lançamento de novas obras”. Contudo, actualmente, “fundamentalmente com recurso ao financiamento chinês, houve um novo conjunto de obras lançadas e que estão neste momento em curso”. O Estado angolano tem procurado “fazer o possível com menos recursos porque, obviamente, na situação que ocorreu, há menos recursos e os governantes têm procurado gerir os recursos disponíveis em função das prioridades e da importância das obras”. “Quando conseguem fazê-lo, através da linha de crédito chinesa, conseguem viabilizar alguns empreendimentos”, remata o vice-presidente da COBA.
Aposta na agricultura
Nos dias de hoje, a agulha do desenvolvimento no país parece apontar para o sector agrícola, que, através do investimento privado, promete diversificar a economia angolana. “Está a haver um grande investimento no sector agrícola, com projectos privados, fundamentalmente”, afirma Fernando Prioste, explicando que “são grandes áreas a ser negociadas com rega e com investimentos quer na produção agrícola, quer na produção animal”. Para o CEO da COBA, esta é, também, “uma característica diferente do que existia há alguns anos no país” e a agricultura é “assumida oficialmente como um eixo de desenvolvimento”. Como tal, a empresa portuguesa encontra-se já a trabalhar nesta área, no planeamento e desenvolvimento de projectos para infra-estruturar áreas para produção agrícola, “a jusante do Plano Nacional de Irrigação”. O financiamento destes projectos assenta no investimento privado, com origem angolana ou estrangeira. Segundo Prioste, este tipo de investimentos “não era muito vulgar”, uma vez que, “até há alguns anos, a agricultura não era vista como um sector prioritário”, o que direcionou o investimento para outros sectores, “principalmente para a construção”. “Hoje já se viu que, na construção, principalmente ao nível de edifícios de escritórios e de edifícios para habitação, existe mais oferta do que procura, em relação aos preços de mercado e do tipo de habitação que se construiu”, afirma o CEO, destacando que este facto não significa que “não haja falta de habitação”, mas sim que “é preciso ter capacidade [financeira] para conseguir comprar” uma casa no país. Assim, a aposta no sector agrícola é “clara” segundo Prioste, que refere a existência, por parte das autoridades angolanas, “de todo o interesse em desenvolver um corredor com fornecimento de energia e desenvolvimento de projectos agrícolas que consigam alimentar e tornar o país auto-sustentável a nível da própria produção agrícola”. São, segundo o responsável da COBA, “investimentos de várias centenas de milhões de dólares” destinados ao desenvolvimento da agricultura no país, porque se tratam de áreas “muito gandes”. “Existem projectos com várias dezenas de milhares de hectares para serem equipados”, ressalva, explicando que, “neste momento, ao nível da agricultura, Angola tem praticamente tudo para fazer ainda, não só ao nível da produção, mas também da transformação e distribuição”. Não é, para Prioste, apenas uma questão de produção, pois “é necessário fazer com que aqueles produtos cheguem aos consumidores e isso requer que sejam transformados, armazenados, conservados e, depois, transportados”, o que envolve “toda a cadeia de logística”. Ao mesmo tempo, muito dos projectos em questão não se limitam à agricultura, abrangendo também a produção animal e a transformação, isto é, “projectos integrados”, segundo Fernando Prioste. Para este engenheiro, esta aposta no sector agrícola é “seguramente um factor importante para dinamizar a actividade da engenharia em Angola”. “Existem, neste momento, projectos para infra-estrutura mais de 100 mil hectares de regadio em Angola”, revela, sublinhando que este tipo de projectos “implica sempre reservatórios”, uma vez que “não se consegue irrigar áreas destas sem construir reservatórios e, depois, as redes de distribuição”, o que contribui também para acrescer as oportunidades que Angola proporciona à engenharia.
Energia como multiplicador
Fernando Prioste não considera que, nestes últimos anos, tenha havido “um retrocesso no desenvolvimento de Angola”. “Aliás, o próprio crescimento do país atesta isso: Angola, de há largos anos para cá, não tem recessão”, reforça o CEO da COBA, explicando que, embora o país tenha vindo “a crescer menos do que o que crescia há uns anos, continua a crescer”. Exemplo disso é o produto interno bruto angolano, que cresceu no ano transacto. Por outro lado, os projectos infra-estruturantes no país assentam, em grande parte, na energia, “o multiplicador de todo o desenvolvimento”, segundo Fernando Prioste, que explica que, “sem energia, não há procura, porque esta está limitada pelo facto de não haver oferta”. Neste contexto, Vítor Carneiro destaca que, a partir do momento em que as grandes centrais entrarem em funcionamento, “começamos a ter uma potência instalada que já permite o aumento da procura” que estava “completamente refreada por não existir oferta”. “Com a entrada em funcionamento de Cambambe e do primeiro grupo de Laúca, passamos a começar a ter disponibilidade e, até ao final de 2018, passamos a ter mais 2 mil megawatts na rede”, o que cria “disponibilidade para aumentar a procura”. O aumento da potência instalada no país permitirá também a instalação de novas unidades industriais e um maior investimento na agricultura que, segundo Fernando Prioste, não ocorre já porque “produzir bens com recurso a geradores é caríssimo e sai mais barato importar do que produzir em território nacional”. Para Prioste, “o desenvolvimento do sector energético é o maior dinamizador e multiplicador do crescimento em Angola”.
Manter presença
O CEO da COBA prevê que o grupo continue a ter “uma presença forte em Angola”, até porque alguns dos projectos em que a empresa está envolvida “são projectos plurianuais”. “Alguns estão agora a arrancar e terão uma duração de sete anos”, o que, para a COBA, representa “também uma janela de oportunidade e uma possibilidade de continuar a ter uma presença forte no país durante praticamente mais uma década”. Por sua vez, Vítor Carneiro prevê que a presença do grupo em Angola fique marcada por “desafios extremamente importantes”, como a formação de quadros nacionais angolanos que possam integrar os projectos do grupo “e possam ser uma parte activa do próprio país”. “Temos feito um grande esforço na formação de quadros, mas este é um desafio que, para nós, é fundamental”, conclui o vice-presidente da COBA.