BIM já traz vantagens aos projectos de reabilitação
A metodologia BIM já se encontra num nível de desenvolvimento que poderá fazer a diferença nos projectos de reabilitação. Quem o diz são os professores universitários António Aguiar Costa, do Instituto Superior Técnico, e Miguel Azenha, da Universidade do Minho
Pedro Cristino
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A metodologia BIM já se encontra num nível de desenvolvimento que poderá fazer a diferença nos projectos de reabilitação. Quem o diz são os professores universitários António Aguiar Costa, do Instituto Superior Técnico (IST) e Miguel Azenha, da Universidade do Minho (UMinho). “O que consigo testemunhar é que, ultrapassada aquela barreira do levantamento e do início do processo de efectuar o modelo – que é, felizmente, uma pequena barreira hoje-em-dia – o processo é idêntico a qualquer processo BIM tradicional numa construção nova”, referiu ao CONSTRUIR o docente da UMinho. “Portanto, se na construção nova é vantajoso, na construção da reabilitação é também vantajoso”. Para Miguel Azenha, esta metodologia “tem já um nível de desenvolvimento que consideraria que, do ponto de vista prático, é o necessário para ser decisivo, desde que haja uma boa selecção de técnicos, de aplicações automáticas e de técnicas de levantamento”. Todavia, reconhece também “perfeitamente que, para quem está numa lógica de trabalho tradicional e vai recorrer ao BIM numa empreitada ou num projecto de reabilitação, está a duplicar a dificuldade”. “Eu diria que o veículo de entrada [desta metodologia] é a construção tradicional, diga-se, nova, porque é mais fácil. Numa reabilitação, eu aconselharia a usar o BIM como um segundo passo no processo de implementação”, sublinha. Ao CONSTRUIR, António Aguiar Costa explica que o BIM está mais presente na construção nova porque um projecto de reabilitação “acaba por partir de algo que já está construído e esse levantamento pode ser um desafio”. “Aquela noção de utilidade que podemos gerar com a existência de um modelo BIM pode não ser tão clara mas, de facto, há uma perspectiva de ciclo de vida de um empreendimento que acaba por garantir essa necessidade e essa vantagem”, contrapõe. Para o professor do Técnico, “ter o modelo de informação de activos, seja ele reabilitado ou novo, na perspectiva da gestão da construção e da gestão dos activos é sempre vantajoso”.Normalização
Enquanto presidente da Comissão Técnica (CT) 197, entidade delegada pelo Instituto Português da Qualidade como responsável pelo desenvolvimento da normalização no âmbito dos sistemas de classificação, modelação a informação e processos ao longo do ciclo de vida dos empreendimentos de construção, António Aguiar Costa explica que a responsabilidade deste organismo se divide em “dois papéis fundamentais”. Um deles consiste em “trazer para Portugal aquilo que é a normalização trabalhada a nível europeu”, fazendo ainda valer o papel e a perspectiva do país no sentido inverso. Ao mesmo tempo, a CT197 faz, a nível nacional, um trabalho de adaptação, “de desenvolvimento de “guidelines” mais aplicadas, que reflictam a estratégia definida a nível europeu, tentando desenvolver trabalho que possa também ser um contributo” para a Europa. Relativamente ao actual estado da normalização em Portugal, face aos seus congéneres europeus, Costa explica que, no país, existem “particularidades” com génese “no facto de não termos desenvolvido ao longo dos anos nada de concreto em termos de normalização”. “Outros países já têm sistemas de classificação da informação, já têm, eventualmente, algumas metodologias digitais implementadas, plataformas colaborativas, etc e nós não temos muito essa prática”, o que leva à existência de “uma série de desafios para trilhar esse caminho que não foi feito em termos de sistematização”, salienta o docente académico. O hiato entre Portugal e alguns dos seus parceiros europeus torna-se visível, desde logo, a partir do momento em que a obrigatoriedade da metodologia BIM nos projectos e concursos públicos já começa a ser discutida em países como Reino Unido, França e Alemanha. “No Reino Unido existe já uma obrigatoriedade de nível 2 [que define quando, como e qual a informação a ser criada, partilhada e gerida]”, revela António Aguiar Costa. Em França, as previsões apontam para 2017, realçando o engenheiro o investimento previsto para o Plano de Digitalização da Construção – 20 milhões de euros. “É um investimento considerável só para preparar o ambiente digital para sustentar a construção”, sublinha. O caso alemão não tem uma data concreta, segundo Costa, que aponta para 2017/2018. “Curiosamente, a necessidade [da obrigatoriedade] na Alemanha surgiu por parte da indústria”, realça, referindo que o primeiro grupo a trabalhar em BIM na digitalização da construção “foi constituído e dinamizado pela indústria – pelas empresas alemãs” e só mais tarde, após algum “forcing” e “lobbying positivo” por parte da fileira, é que o Governo germânico “acabou por se envolver”. “De qualquer forma, há um peso maior da indústria que tem também perspectivas sobre a normalização que, em Portugal, não temos e que levantam desafios interessantes com esta nova complexidade acrescida da digitalização porque, sem termos uma base comum de comunicação, um protocolo que seja comum a todos, é difícil continuarmos a avançar sobre estes desafios”, explica o presidente da CT197.
Implementação em Portugal
Como está a implementação dos processos BIM em Portugal? Segundo António Aguiar Costa, “há aqueles que são inovadores, que vão fazendo e têm casos de estudo”, mas “isso é como qualquer iniciativa de inovação: há sempre os inovadores, os líderes, há aqueles que não rejeitam mas estão a ver no que dá e há os que estão contra”. Para o engenheiro, o momento da mudança é ainda incerto, “mas há aqui algo incontornável, que é criar a base mais consistente para que as pessoas todas se sintam confortáveis”. Nesse sentido, Costa considera que as PME constituem “um caso importante”, uma vez que são empresas que têm de suportar, neste contexto, “um investimento considerável” e que enfrentam a impossibilidade de “desenvolver standards” para si próprias. “Por isso é que é importante que a indústria, talvez como um todo, com os grandes a liderar e com o apoio do Governo e associações, consiga preparar aquilo que algumas empresas mais pequenas estão a digitalizar”, conclui o professor.
BIM nas universidades
Apesar da clara distância que separa Portugal de alguns países da Europa no contexto da implementação da metodologia BIM, as gerações académicas já começam a ser preparadas para esta realidade. “Já há várias universidades a nível nacional” que incluem este processo no currículo, segundo Miguel Azenha. “Os meus alunos já têm uma disciplina chamada Building Information Modeling – Projecto e Construção”, indica o professor explicando que o método de ensino não contém avaliação escrita. Os alunos “fazem um trabalho durante todo o semestre no qual os faço vestir a camisola de cada um dos colegas num processo BIM”. Tratam-se de grupos de cinco alunos, em que um desempenha as funções do arquitecto, “e faz o modelo BIM em arquitectura”, enquanto outro aluno faz o modelo BIM das estruturas, ou das redes ou da gestão da construção. “Todos formam um grupo para conduzir um projecto”, frisa Miguel Azenha, destacando que “o que é interessantíssimo verificar é que, mais do que aprender BIM, aprendem o que é um projecto, o que é uma construção, como é que as coisas encaixam umas nas outras e como devem ser construídas, porque esta inerência da tridimensionalidade do BIM por detrás da informação traz-lhes uma externalidade na formação que é brutal”. Miguel Azenha não tem dúvidas de que o BIM se alargará “a todos os currículos académicos”. “Na Universidade do Porto também já está no currículo e em várias escolas de arquitectura já existe o BIM entendido no sentido de modelação, mas já a pensar na perspectiva de gestão BIM”, revela, explicando que, “mais do que fazer modelos”, a metodologia BIM consiste em “comunicar”.