Lisboa entre as cidades com mais obras ao Mies van der Rohe
Existem menos obras emblemáticas a concurso e Lisboa é a segunda cidade com mais projectos na shortlist
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A Comissão Europeia e a Fundação Mies van der Rohe anunciaram as 40 obras seleccionadas que irão concorrer ao Prémio de Arquitectura Contemporânea da União Europeia – Prémio Mies van der Rohe 2017. Entre elas estão três obras obras de autores portugueses – a Casa em Oeiras, de Pedro Domingos Arquitectos; a nova sede da EDP dos Aires Mateus e o Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso de Siza Vieira – e uma obra localizada em Lisboa – o Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia de Amanda Levete.
Segundo a Fundação, nos últimos anos, a participação de práticas emergentes e jovens arquitectos aumentou de maneira exponencial, de tal forma que, nesta edição, um quarto das obras seleccionadas foi construído por equipas que ou são menores de 40 anos ou que os gabinetes não têm mais de 10 anos.
Nota ainda para o facto de das 40 obras seleccionadas, 24 (60%) serem construídas nos centros das cidades, 9 em ambientes naturais (23%) e 7 nas periferias da cidade (17%). Fazendo uma análise geográfica à shortlist, conclui-se que a cidade com mais obras seleccionadas é Londres (3), imediatamente seguida por Lisboa (2), Dublin (2) e Espoo (2).
Menos obras emblemáticas
De acordo com os membros do júri desta edição, do qual faz parte Gonçalo Byrne, “o grupo de 40 obras excepcionais mostra uma diminuição nos projectos arquitectónicos emblemáticos”. O júri destaca também a mistura de utilizações das obras e a prevalência de projectos de habitação (14) e instalações Culturais (11). Educação, alojamento, indústria, desporto, escritórios, paisagem, utilização mista e bem-estar social também estão presentes.
Stephen Bates, Presidente do júri, comenta a propósito da tarefa difícil que é avaliar os projectos para o Prémio: “Gostaria que os esquemas seleccionados demonstrassem um interesse em fazer lugares, explorar convenções e tipologias conhecidas, celebrar os prazeres da utilização quotidiana por uma consideração de detalhe e uma resistência tácita à tendência global actual para uma arquitectura autorreferencial, que desminta o contexto e o acto da residência”.
Para Daniel Mòdol, Presidente da Fundação Mies van der Rohe, “o conjunto dos 40 trabalhos seleccionados reflecte a importância das novas gerações de arquitectos, que irrompem com força nesta edição, mostrando-nos como a arquitectura aborda e dá soluções a uma diversidade de realidades cívicas e sociais, de habitação, espaços culturais, memória e identidade, reabilitação ou novos espaços, numa convocação que mostrou mais que nunca esta diversidade.”
Michel Magnier, Director da Criatividade e Cultura da Comissão Europeia também comentou a shortlist referindo: “Estou muito satisfeito por ver que a riqueza e diversidade da arquitectura europeia está simbolizada e resumida uma vez mais na impressionante lista de seleccionados pelo júri do Prémio Europeu/Prémio Mies van der Rohe. Aguardo com expectativa os resultados da selecção, na esperança que alguns destes belos projectos de hoje se convertam no património de amanhã.”
Resultados
Os 5 finalistas serão anunciados em meados de Fevereiro e os vencedores e vencedor emergente em meados de Maio. Debates, conferências, a exposição, a apresentação da publicação e a cerimónia de entrega do prémio terão lugar no Pavilhão Mies van der Rohe de Barcelona, em 26 de maio de 2017. Os 5 edifícios vencedores e a obra vencedora do arquitecto emergente estarão abertos ao público para que todos possam desfrutar e saber mais sobre eles com os seus autores e críticos.A exposição com as 355 obras nomeadas pode ser visitada actualmente na Escola Técnica Superior de Arquitectura de Barcelona (ETSAB).
Casa em Oeiras
Da autoria de Pedro Domingos, a Casa em Oeiras encerra em si mesma “um lugar para viver, pensar e trabalhar” que abriga um programa de habitação no qual se destacam uma biblioteca e uma pequena colecção de arte.
Fundada em torno de um pátio interior, é à volta deste que os espaços se organizam como se um cerne se tratasse. Este é um pátio que “reúne a atmosfera da tradição dos pátios mediterrâneos, definindo um lugar de intimidade, luz e sombra”. É um espaço cercado por altas paredes de cor ocre, pontuado pela presença de uma superfície de água, o que segundo o autor, “refresca o espaço e adiciona um efeito musical ao ambiente”.
“A casa é vivida como um espaço único sem portas, onde os limites dos diferentes usos são definidos pela sua altura, luz, sombra e relação com o espaço aberto”, pode ler-se na descrição do projecto, que enuncia também que a implantação da habitação responde “ao contexto adverso, definido pela forte presença de uma linha de comboio e por um conjunto de casas pouco caracterizadas que envolvem o terreno”.
A construção é “elementar”, mas rebuscada e procura uma optimização construtiva e económica: estrutura de betão, paredes interiores e exteriores de massa única e pigmentada, pavimentos em betão pigmentado, tectos em betão, caixilhos de janelas com vidro fixo e portas metálicas.
Sede da EDP
A sede institucional da principal empresa eléctrica de Portugal, pretende afirmar-se como um polo dinâmico na frente fluvial de Lisboa. O projecto da autoria dos irmãos Aires Mateus, procurou “inovar, reflectindo a imagem da empresa e permitindo que ela se tornasse um ícone, em estreita relação com a cidade”, pode ler-se na descrição do projecto.
A localização, correspondeu a um lote vazio entre a cidade e o rio e o edifício é composto por duas torres, ligadas por duas passagens em rampa (a Sul e a Norte), que criam uma praça pública ao nível da rua. Ambas as torres juntam-se ao nível do piso subterrâneo, por debaixo da praça, formando um grande pátio comum, onde todos os acessos e circulação interna se unem, sendo iluminados por quatro generosos pátios de luz. Quanto ao programa, é predominantemente composto de escritórios, que ocupam totalmente os andares da torre. Contudo, ao nível do piso térreo, de frente para a praça, existem duas áreas comerciais. Para além disso, o programa integra também uditório, café, um centro de fitness e salas de reuniões. Há também 4 pisos de estacionamento subterrâneo.A sua forma pretende ajudar a integrar-se na cidade: “as torres elevam-se perpendicularmente ao rio e à colina, de forma a preservar o sistema de vistas e a permeabilidade entre Lisboa e o Tejo”. Tudo isto é é enfatizado pela praça, que permite que o edifício seja atravessado pelo espaço público, fundindo-se com a rua e a cidade. Segundo os autores, a imagem do edifício nasceu de uma pesquisa sobre sistemas de luzes e sombras. Este conceito, associado à ideia de transparência, concretizou-se numa repetição de linhas verticais que são simultaneamente o módulo de organização do programa de escritórios e a solução estrutural do edifício (a cada linha corresponde uma coluna de aço); Na fachada, este jogo geométrico criado pela sequência de linhas funciona como uma estrutura de sombras e, embora estáticos, o ângulo em relação à fachada foi estudado para ir contra a exposição solar mais forte. Esta inclinação cria ainda um efeito dinâmico, dependendo da posição do observador: às vezes opaco, às vezes transparente.O sistema de construção do edifício é dividido em duas partes, por um lado os níveis subterrâneos em betão branco – uma solução mais pesada e mais opaca de onde se destacam os espaços e pátios de luz natural , e em oposição os pisos elevados (torres), que se evidenciam pela sua transparência, através de uma estrutura metálica leve.Segundo a descrição do projecto, “o carácter emblemático do edifício também se reflecte na responsabilidade institucional de se tornar um exemplo de sustentabilidade energética”, o que culminou com a certificação Gold LEED. “O telhado é coberto por painéis solares, há um depósito de recolha de águas pluviais utilizado para irrigação e águas sanitárias, a qualidade e origem dos materiais são certificados e todos os sistemas de energia do edifício funcionam em um modo de baixo consumo”.
Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso
Localizado entre a cidade de Chaves e o rio Tâmega, o edifício do Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso, tem uma forma rectangular colocada paralelamente ao rio. Assinado por Álvaro Siza Vieira, o corpo do Museu é um volume de 13 metros de comprimento por 37 metros de profundidade, estando elevado 3 metros da planície horizontal onde é colocado, com uma altura total de 11,6 metros.O acesso principal é feito através de uma rampa, que leva a um pátio e a porta de entrada abre para um hall de entrada onde todos os espaços públicos são imediatamente visíveis e acessíveis: o auditório (para 100 pessoas), biblioteca, cafetaria, vestiário, loja e a entrada para as quatro salas de exposição. O layout destas salas expositivas cria diferentes tamanhos e proporções, assim como diferentes condições de luz artificial e natural. A descrição do projecto destaca a flexibilidade do espaço, nomeadamente da sala principal – que pode ser facilmente dividida por uma porta / parede -, e das áreas de armazenamento e de trabalho da colecção – que também podem ser abertas ao público em ocasiões especiais. Quase exclusivamente utilizando o betão branco nas paredes exteriores, o edifício cria um contraste marcado com o contexto envolvente marcado pelo verde da vegetação e pela água. Este não é um museu grande, “mas tem um programa longo e complexo”, o que se tornou num desafio, uma vez que “a complexidade e a variedade dos espaços tiveram de caber num todo homogéneo e controlado”.
A área total do projecto, onde o Museu está localizado, é de aproximadamente 16.000 metros quadrados e a maior parte deste terreno é coberto com de arbustos e vegetação densa de altura média, usados para criar paredes que ajudam a organizar e estruturar o espaço, usando espécies nativas que podem não precisar de muita manutenção.
MAAT
O MAAT, o novo Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia de Lisboa, está situado nas margens do Tejo, em Belém, Lisboa. O edifício assinado por Amanda Levete, propõe uma nova relação com o rio através de um edifício poderoso, mas sensível e de baixo relevo que explora a convergência da arte contemporânea, da arquitectura e da tecnologia.
O edifício assume-se como a peça central do plano director da Fundação EDP para um campus de arte que inclui a Central Tejo, reutilizada e foi desenhado para permitir que os visitantes pudessem caminhar, sob e através do edifício que forma um arco suave. O telhado é portanto a mais recente sala ao ar livre da cidade, relacionando-se de uma forma física e conceptual com o rio e ao coração da cidade – “os visitantes podem afastar-se do rio e apreciar a vista da paisagem urbana, e à noite, assistir a um filme, sentados num degrau e com Lisboa como pano de fundo”, lê-se na descrição do projecto.
O edifício explora os recursos naturais do lugar, “enquadrando uma narrativa arquitectónica que é sensível tanto ao seu património cultural como ao futuro da cidade, bem como à histórica da Central Tejo”.
O MAAT é o reflexo de uma instituição do século XXI, que se quer sem distinções entre museus, exposições, educação e o teatro da interacção humana.