“Esta é uma candidatura de ruptura com o que tem sido o estado cristalizado da OA”
“Fazer, mudar e aproximar” são as grandes linhas da candidatura da Lista A.
Ana Rita Sevilha
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Olhando para o que foi feito até então, a Lista A candidata aos Órgãos Sociais da Ordem dos Arquitectos, vê uma “instituição fechada sobre si mesma, cristalizada e inoperante”. Condições que garante, vai inverter. Entre as suas propostas está um Plano Estratégico para a Arquitectura que pretende definir onde a classe está e quer estar dentro de 10, 15, 20 anos
Esta é uma candidatura de continuidade com o que foi feito no último triénio?
Lista A: Claramente que não. Esta é uma candidatura de ruptura com o que tem sido o estado cristalizado e silencioso da OA perante a degradação da profissão. Porém, tratando-se de uma projecto que iniciou já há 3 anos aquando de uma primeira candidatura à SRN, pode dizer-se que incorpora alguns aspectos de continuidade, tais como a proximidade aos membros , a abertura à diversidade e a capacidade de fazer, no sentido de realizar.
Nas últimas eleições houve uma abstenção que rondou os 92%. Como olham para estes números?
Com a natural preocupação que os números impõem. Com uma tão baixa participação os órgãos eleitos dificilmente podem sentir que representam a classe, e daí resulta uma efectiva falta de força e capacidade para actuar junto dos diversos poderes públicos. É uma realidade que é necessário inverter, para o que a Lista A considera estar já a dar o seu contributo. Estas eleições serão certamente muito mais participadas do que as anteriores. E isso deve-se sem dúvida a actuação mais visível deste grupo nos órgãos sociais norte. O que motivou também o aparecimento de várias outras listas. A uma realidade cristalizada, em “águas mansas”, acrescentamos a vontade de discutir, pensar a profissão e isso é já hoje visível.
Quais os problemas da e na profissão que consideram mais urgentes?
O problema mais premente é o da dignificação da profissão. A profissão de arquitecto tem-se vindo a degradar fruto de inúmeras causas estruturais e conjunturais. Desde logo a mais evidente, que foi a crise, que se abateu de forma especialmente profunda sobre o sector da construção. Depois a desregulação imposta pela comunidade europeia e pelos governos. Mas também outros factores mais endémicos, como a falta de espírito de classe, a falta de definição dos contornos da actividade pela própria classe, entre outros. Porém, este é um problema com múltiplas vertentes que apenas se resolvem se avaliadas no seu conjunto e com uma actuação sistemática também sobre o conjunto. Acima de tudo é necessário que os arquitectos se entendam relativamente ao quadro conceptual da profissão e que o validem junto da sociedade.
O que urge mudar no presente e como olham para o futuro da prática em Portugal?
São duas perguntas muito distintas. O que urge mudar no presente é sem dúvida a questão dos estágios. Não devia ter sido possível ter-se chegado até aqui e tem que se sair rapidamente desta situação, nomeadamente com alterações profundas ao sistema de inscrição na OA. Este problema aliás também concorre fortemente para a perda da dignidade da profissão, porque interfere com a dignidade daqueles que a ela acedem, e porque origina problemas gravíssimos para quem a prática, como a concorrência desleal, o dumping, etc.
Relativamente ao futuro da profissão, é já hoje possível vislumbrar perspectivas mais animadoras do que tem sido a realidade dos últimos anos. E não tem porque não ser assim. Os arquitectos portugueses são profissionais altamente qualificados, reconhecidos em todo o mundo, e essa qualidade tende a impor-se.
Pelo que auscultaram, quais as grandes ansiedades e expectativas da classe?
A expectativa de uma classe profissional que de um dia para o outro se viu quase sem trabalho é, num primeiro momento, recuperar trabalho. Talvez já não voltar à pujança anterior mas pelo menos aspirar a uma distribuição mais equitativa do trabalho e poder realiza-lo com condições de dignidade. E isto remete-nos directamente para duas questões: a encomenda pública e os honorários. A perda de uma referencia em matéria de honorários tem sido gravosa para a classe e essa é uma das suas principais expectativas. Outra é uma melhor distribuição da encomenda publica, que como é sabido se tem processado em moldes completamente inaceitáveis para os arquitectos. Desde logo porque usa como critérios de escolha os preços, em detrimento da qualidade da arquitectura, mas também porque toda a formatação procedimental da encomenda aponta para o abuso, pelos vários organismos públicos do uso do “ajuste directo” que em nada serve a arquitectura, os arquitectos e a paisagem urbana. Esta última devia ser a maior preocupação e o que mais os portugueses deveriam tentar defender..
Quais as grandes linhas da candidatura da Lista A > “Um Rumo UMA Ordem”?
Fazer, mudar, aproximar. Aproximar a instituição aos membros, à semelhança do que já foi iniciado na SRN, mudar a actuação da Ordem, torna-la mais operativa e mais actuante junto da sociedade e dos poderes públicos, e fazer, no sentido concreto; abandonar os discursos redondos sem resultados efectivos.
Um dos objectivos expressos na vossa candidatura é o de uma Ordem mais coesa, dinâmica e participativa. Uma meta já apontada por direcções anteriores e que motivou acções para aproximar os arquitectos à Ordem e a sociedade aos arquitectos. O que tem falhado?
Essa é uma falsa premissa, porque a meta é efectivamente apontada por direcções anteriores, cujos principais actores estão agora noutras listas, mas acções levadas a cabo não foram nunca nesse sentido. Pelo contrário, o passado, a que alguns pretendem agora regressar, caracterizou-se por uma instituição fechada sobre si mesma, cristalizada, inoperante, com uns a falarem apenas para os outros e outros para si próprios. Se tivesse havido uma real preocupação de aproximar os arquitectos e a sociedade, como fizemos agora com a “Loja da Arquitectura” em Coimbra, o resultado teria sido certamente diferente. Agora quando se diz uma coisa e na pratica se faz outra não se pode esperar nada que não seja o distanciamento das pessoas. A Lista A vai inverter esse processo.
Os arquitectos portugueses têm sido amplamente distinguidos, nomeadamente a nível internacional e nos últimos tempos somam prémios e distinções. Contudo, um dos vossos objectivos passa pela Promoção da Arquitectura. Que leitura fazem deste paradoxo?
Não existe nada de paradoxal nisso. O que existem são vários patamares possíveis de actuação. E a arquitectura é por natureza uma área complexa e diversificada. O pior erro que poderíamos cometer seria tentar simplificar o que é complexo. A distinção alcançada por alguns arquitectos portugueses a nível internacional tem sido um formidável contributo para a profissão. Porém, há muito mais a distinguir, em múltiplas áreas da actividade, cá dentro e lá fora. E principalmente há que perceber o que divulgar e promover do trabalho dos arquitectos portugueses em cada momento. Limitar a promoção e divulgação a um certo tipo de autorias e áreas de actividade é extremamente redutor. Sentimos que podemos direccionar melhor a promoção e divulgação da arquitectura.
A elaboração e implementação de um Plano Estratégico para a Arquitectura também consta do vosso Programa. Quais os objectivos e competências deste Plano?
Um plano estratégico e algo que se define de forma simples; onde estamos, onde queremos estar dentro de 10, 15, 20 anos, e como o podemos fazer. Um dos grandes problemas dos arquitectos é nunca terem verdadeiramente actuando de forma sistemática e concertada. O que propomos é que seja a Ordem a fazer esse trabalho. Entendendo e aglutinando experiências e saberes e projectando o futuro.
A internacionalização é outra das vontades expressas na Candidatura da Lista A. De que forma a Ordem dos Arquitectos pode ajudar a colocar os arquitectos portugueses no mundo e ajudar a exportar serviços em vez de pessoas?
Este é um ponto fulcral da nossa candidatura. Entendemos que vivemos num mundo global em que os serviços se transaccionam à velocidade de um clique. O que já não entendemos é que seja necessário exportar arquitectos, formados em Portugal, com as mais altas valências e saberes, para prestarem serviços fora. O que queremos é o oposto disso; exportar a nossa arquitectura. E isso é possível, desde que não continuemos com diálogos surdos, de pequenos poderes, que é o que tem acontecido até aqui. O País precisa dos arquitectos e os arquitectos precisam de alargar os seus horizontes para além das fronteiras do País. Portanto, vamos fazê-lo.