GECoRPA: “investimento imobiliário não conta para o PIB”
Grémio do Património destaca que “apesar do investimento imobiliário ter mais do que duplicado todos os anos, de 2012 para cá, o crescimento do PIB mantém-se anémico e o de 2016 já foi, até, várias vezes revisto em baixa”
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O Grémio do Património (GECoRPA) emitiu um comunicado onde avisa que o investimento imobiliário em Portugal não tem peso no produto interno bruto (PIB).
Segundo a missiva do GECoRPA, “quer o investidor seja nacional, quer seja estrangeiro, uma transacção imobiliária de um imóvel existente não conta para o PIB, sendo apenas registados os serviços associados ao negócio, nomeadamente a intermediação”, apesar de a construção de um novo imóvel ter influência neste indicador, “se não envolver a prévia demolição de um imóvel existente no local.
Neste sentido, o documento sublinha que, “apesar do investimento imobiliário ter mais do que duplicado todos os anos, de 2012 para cá, o crescimento do PIB mantém-se anémico e o de 2016 já foi, até, várias vezes revisto em baixa”.
Relativamente ao equilíbrio das contas externas, o GECoRPA explica que a parcela estrangeira do investimento imobiliário contribui de forma positiva, embora apenas “em parte e temporariamente”. “A entrada de dinheiro é, de facto, registada na balança financeira mas, sendo a a transacção intermediada por uma entidade estrangeira, há, desde logo, que descontar a saída dos respectivos lucros”, esclarece o documento.
Por outro lado, com os yields obtidos, “o capital aplicado pode ser recuperado pelo investidor estrangeiro ao fim de uma dúzia de anos, ou menos, mesmo sem contar com a valorização do activo”.
Assim, o GECoRPA refere que, a partir desta primeira transacção, “o activo vai passando de mão em mão, normalmente entre entidades estrangeiras, com a correspondente exportação dos lucros dos mediadores e dividendos das sucursais nacionais dos investidores”. A isto, acresce “uma boa parte dos vencimentos dos administradores e directores estrangeiros expatriados, tudo contribuindo para as contas externas”. “Tal facto traduz-se, nos anos seguintes, num contributo para a degradação das contas externas do país”, destaca a associação.
Paralelamente, o comunicado sublinha que é necessário ter em conta um “efeito semelhante” no segmento de retalho, “que envolve sobretudo a transacção de espaços destinados ao comércio e, igualmente a transacção ou arrendamento de pequenas propriedades ou fracções”, que vão desde palacetes a loja.
Dados os “muito baixos” valores das rendas “aquando da alteração do respectivo regime jurídico, o potencial de valorização é enorme, quer no arrendamento, quer na alienação”. Como exemplo, o grémio liderado por Vítor Cóias o caso do centro de Lisboa, onde os imóveis se valorizaram em 22,3% no ano transacto. Segundo o GECoRPA, também neste segmento o negócio se encontra “nas mãos de sucursais ou licenciadas de grandes grupos internacionais (…) que intervêm directamente ou exploram pequenos mediadores locais através do franchising”.
Por sua vez, “no sector mais relevante para as contas externas”, o industrial, o investimento imobiliário tem-se mantido num “nível insignificante”, com apenas 39 milhões de euros no primeiro semestre deste ano, totalizando “apenas 4% do volume total”.
Relativamente à contribuição do investimento imobiliário para o emprego, o GECoRPA ressalva que, uma vez que os activos “e o próprio negócio imobiliário” tendem a estar “nas mãos de estrangeiros”, o benefício para o país do ponto de vista do emprego está limitado aos postos de trabalho que o negócio vai criando localmente, na área comercial (mediadores, vendedores) e na manutenção dos activos (pequenos construtores, pessoal de limpeza).
Neste cenário, os empregos gerados “são de reduzida exigência em termos de qualificação, os salários são baixos, logo o valor acrescentado é reduzido”. “O investimento neste sector, em lugar de aumentar a produtividade do trabalho, pode fazê-la diminuir”, afirma o comunicado do GECoRPA, comprovando-o com “o facto de a produtividade do trabalho, avaliada pelo quociente entre o VAB e o emprego, ter diminuído 1,2% em 2014”. No conjunto dos ramos não transaccionáveis, foi registada, em 2014, “uma forte variação negativa da produtividade (-2,0%)”, efeito que foi “notório nas actividades da construção e do imobiliário, apesar do forte aumento do investimento neste sector em 2013 e 2014”.
O GECoRPA vai mais longe e refere que mesmo os “vistos Gold”, concedidos a investidores que “criem apenas 10 postos de trabalho”, são utilizados “quase exclusivamente para a compra de imóveis”. “Dos 106 concedidos em Julho deste ano, só um foi com base na criação de emprego”, constata a associação.
Na vertente social, o GECoRPA considera que o investimento imobiliário pode ter “fortes impactos negativos sobre as populações, em particular sobre as mais carenciadas” e destaca que “são bem conhecidos os efeitos da elitização (gentrification) das melhores zonas das cidades (caso do Quarteirão das Cardosas, no Porto) e, mais recentemente, os da “turistificação” (caso da Baixa Pombalina, em Lisboa), fenómenos que têm empurrado os moradores tradicionais e as camadas de menos recursos para as periferias e estão a impedir a fixação nesses locais de estratos mais jovens da população”.
Por outro prisma, esta associação considera também que a pressão imobiliária tem contribuído “para a descaracterização dos centros e bairros históricos, desvalorizando-os enquanto património cultural”. “São também conhecidos os múltiplos impactos negativos e irreversíveis que o investimento na construção e no imobiliário têm tido sobre o património natural do país, em particular na artificialização do território e na degradação da paisagem”, adverte o comunicado.
Assim, o GECoRPA conclui que o crescimento económico baseado no investimento imobiliário não tem sido sustentável, criando valor “através da postura especulativa e predadora de grande parte dos seus agentes”, levando a que o crescimento económico gerado se preste “à formação de sucessivas “bolhas”, numa dinâmica de concentração de riqueza que, ciclicamente, tem desequilibrado o sistema financeiro e o erário público, obrigando a correcções que degradam a saúde financeira da economia e, em particular, das famílias”.