“A nossa matéria prima não tem paralelo no mercado”
Em entrevista ao CONSTRUIR, Paulo Estrada, CEO da Sofalca,diz que, para este ano, a expectativa é de “um crescimento maior no valor do que na quantidade”
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A Sofalca tem apostado no apoio à criatividade e à inovação, focando-se no design enquanto parte integrante da sua oferta ao mercado e nesse seguimento, tem patrocinado um conjunto de iniciativas, entre elas a representação portuguesa na “Trienal de Arquitectura e Design 2016”, em Milão. Paulo Estrada, CEO da Sofalca, explica ao CONSTRUIR a estratégia da empresa.
Em que altura da História da Sofalca, a criatividade e o design surgem como parte integrante dos produtos? Quando foi que a empresa colocou o foco nesse sentido e porquê?
O design surgiu como uma necessidade de procurar uma alternativa e um complemento para o aglomerado negro de cortiça expandida, produto que produzimos desde 1966, fazendo este ano 50 anos. Temos apostado numa estratégia de apoio ao Design Industry que se tem revelado muito positiva com a presença em várias feiras do sector da construção e imobiliário com uma forte vertente no design e inovação. A criatividade vem assim “colada’’ ao design e às transformações criativas que ganham vida no nosso “atelier”.
O Design faz hoje parte do dia-a-dia da empresa que nesse sentido tem vindo a criar parcerias e a estreitar relações com designers. Como é essa relação entre industria e processo criativo?
Depois de 40 anos a fabricar um produto de isolamento em que 80% é, e sempre foi, para exportação e na maioria das vezes não o ‘encontrávamos’ à vista (era usado para isolamento), passar a considerá-lo como design foi uma enorme mudança nos comportamentos e motivações.
Os criativos com quem estabelecemos parcerias consideram o processo de fabrico muito interessante. Vêm à fábrica “colocar as mãos na massa” e desenvolver com a Sofalca novos métodos, soluções e aplicações.
A primeira parceria foi com o designer Toni Grilo, com quem criámos a marca Blackcork, numa vertente de mobiliário contemporâneo em cortiça preta. Seguiu-se o arquiteto Miguel Arruda com a Corkwave e a CorkWave Green, para revestimentos acústicos em Onda e, mais recentemente, o arquiteto Brimet Silva, da Digitalab, com a marca Gencork – cork coovering solutions with generative design.
A criatividade faz também parte da estratégia da Sofalca, nomeadamente na forma de mecenato em várias atividades culturais, entre elas a Trienal de Arquitetura e Design de Milão 2016. Qual é a grande mais-valia que a empresa retira ao patrocinar estes eventos?
Experiência e exposição da empresa e do produto no mundo, em aplicações que ficam para lá do isolamento. A cortiça é um material tão nobre que sentimos uma obrigação de continuar a apoiar uma partilha de ideias que poderão dar novos usos em aplicações. Outro projeto que patrocinámos e que muito nos honrou foi o Pavilhão de Portugal na Bienal de Veneza, a convite da Joana Vasconcelos, com o Cacilheiro Trafaria Praia, revestido quase na totalidade por cortiça e trabalho da Sofalca.
O Design sustentável é uma das grandes tendências e a cortiça uma matéria-prima de excelência. Contudo, pode esgotar-se, “sair de moda” e deixar de ser tão requisitada. Como olham para esta perspectiva?
Acreditamos que a nossa matéria prima não tem paralelo no mercado, visto oferecer simultaneamente características que as outras matérias não apresentam “per si”, como o facto de ser 100% natural, extrair-se ciclicamente sem danificar as árvores, isolar térmica e acusticamente, ter permeabilidade ao vapor (deixando os espaços respirar), ter capacidade de isolamento e revestimento simultâneo, ser resistente ao tempo, às intempéries e ao fogo. A nossa cortiça é eterna, e com eterna queremos dizer que não desaparece nem se degrada com o passar do tempo.
A criação de novas aplicações, para além do isolamento puro, tal como as nossas marcas permitem – Blackcork, Corkwave e Gencork – abriram as portas a um uso continuado do produto ao longo do tempo, que pensamos resistir à “moda”, tornando-se numa tendência. A preservação do planeta surgiu como uma necessidade básica a manter nas gerações vindouras e não pode ter retrocessos ou estar sujeita a modas. Proteger o meio ambiente é para a Sofalca, assim como a nossa cortiça, uma tendência emergente a manter, cuidar e valorizar para sempre.
Este é um nicho de mercado que se reinventa e se inova de que forma? Por onde passa o seu futuro?
Como dizem os nossos parceiros criativos, fazemos hoje em cortiça “coisas’’ impensáveis há meia dúzia de anos. É um nicho sim, mas queremos estar na linha da frente, juntamente com a criatividade, adaptando e evoluindo o produto, sempre que necessário.
Existem novos produtos e/ou parcerias a lançar no decorrer deste ano?
Em Janeiro último apresentámos na Maison & Objet a nova coleção da Blackcork, toda com a assinatura de Toni Grilo, que tem estado a ter muito boa aceitação, esperando-se a confirmação de mais algumas encomendas.
A Gencork será lançada em Paris, em setembro deste ano, e estamos convictos de que não existe concorrência no mercado. Esta é uma aplicação que alia o low-tech ao high-tech, o desenho generativo à cortiça, que permite utilizar a cortiça para efeitos de revestimento e tratamento acústico e térmico, com o desenho contemporâneo, permitindo o seu uso nos locais mais nobres.
Pese embora a cortiça seja um material com que, em Portugal, estamos bastante familiarizados, a maioria dos vossos produtos são direcionados para o estrangeiro. Estamos a falar de que percentagens?
Falamos de 85% no isolamento. Foi assim desde sempre. A cortiça como material de isolamento sempre teve, e mantém, muito boa aceitação no estrangeiro. Por isto, faz todo o sentido apostarmos nesta linha de divulgação e querermos continuar a fazê-lo.
O design ainda está em mudança. Era habitual ver nos primeiros anos da Blackcork quem não conhecesse a cortiça negra pois, de cortiça, só conhecia as tradicionais rolhas. Hoje em dia, é vista também como um produto de design de alto gabarito a preços muito acessíveis. E, assim como se tem verificado no isolamento, o caminho é e será o mercado externo.
Na vossa opinião porque é que o mercado português não absorve estes produtos?
“Em casa de ferreiro espeto de pau”, será? Sempre foi uma pergunta que fiz a mim mesmo. Descobri-a mais tarde quando uma das minhas filhas estudou arquitetura. A cortiça não existia nos materiais curriculares que se estudavam. Só no estrangeiro se dava valor a um produto tão único como este. Felizmente, com a exposição que temos criado à volta da cortiça, nós e os outros produtores que colocaram a cortiça na moda, Portugal está já a aumentar os consumos, tanto no isolamento, isolamento/revestimento, como no mobiliário.
Quais os vossos principais mercados externos e quais vos são apetecíveis para entrar?
Os melhores mercados atualmente são a Bélgica, França, Espanha e Portugal. Pretendemos fortalecer a nossa presença na Itália, Áustria e Alemanha. Vendemos também a um ritmo certo para o Japão e vemos com muito interesse o incremento desse mercado, bem como os outros mercados orientais/asiáticos.
Na sua opinião, o que leva o mercado internacional a ficar tão fascinado com a cortiça preta?
A cor, a textura, o olfato, o toque, enfim, a cortiça em si mesma. É um aglomerado de cortiça com uma personalidade muito forte. Depois o facto da nossa cortiça ser totalmente sustentável, resistente ao fogo e a outras intempéries, térmica e acústica, 100% natural, classificação A+ nas emissões gasosas, entre muitas outras vantagens. E com esta realidade as pessoas ficam fascinadas.
Numa matéria-prima como a cortiça, temos sempre de falar na responsabilidade ambiental. Que critérios neste campo são assumidos pela Sofalca?
A Sofalca foi pioneira no desenvolvimento do sistema de queima de biomassa. A nossa matéria prima necessita de ser triturada e limpa. Deste processo resultava um “lixo” um pó de cortiça e madeira que era um custo, pois tinha de ser eliminado. Em 1974, a Sofalca inicia o processo de queima deste lixo, hoje denominado biomassa, conseguindo assim uma autonomia energética de cerca de 95%. Substituiu-se na totalidade a Nafta pela biomassa. Dois outros resíduos industriais, a água e a cinza, são valorizados e canalizados para a agricultura e a floresta, para a melhoria dos solos. Também a matéria prima vem de um raio de 50Kms, reduzindo muito o consumo de energia para a sua obtenção.
Em 2015 a SOFALCA emite a primeira DAP (Declaração Ambiental de Produto) realizada em Portugal, para o seu Aglomerado Negro de Cortiça Expandida. Foi verificada pelo CERTIF e registada na Plantaforma DAPHabitat do Centro Habitat Cluster para a Construção Sustentável em Portugal. A DAP – https://daphabitat.pt/?page_id=1226 – da SOFALCA foi a primeira a ser certificada e registada em Portugal e é hoje o único produto de construção 100% nacional registado na ECO Platform a nível europeu.
Quais as expectativas para 2016 em termos de volume de negócios?
Esperamos um crescimento maior no valor do que na quantidade.
O que podemos esperar em termos de produtos e parcerias?
Para 2016 as parcerias estão concluídas em termos de marcas da Sofalca. Temos algumas propostas para parcerias com instituições de ensino que estamos a ponderar, para além das que mantemos já há alguns anos. Vamos fortalecer a comunicação da Gencork e Blackcork. Em setembro voltamos a Paris. Dentro das marcas Gencork e Blackcork, novas aplicações irão surgir.