2030 e 2050 estão à porta e os desafios que acarretam trazem urgência e desafios acrescidos à adaptação do sector da construção às novas exigências regulamentares ambientais. Mas essa resposta, global e conjunta, “pode posicionar o sector como competitivo no mercado global”, defende Rita Moura, presidente da Plataforma Tecnológica Portuguesa da Construção. Um contexto que justifica o lançamento, que talvez só peque por tardio, do projecto C2Ø – Construction to Zero que junta a PTPC e a Associação Técnica da Indústria do Cimento (ATIC)
Quais são os objectivos desta iniciativa?
O objectivo principal do projecto C2Ø – Construction to Zero (uma iniciativa conjunta com a ATIC) é desenvolver um Roteiro de Descarbonização para a fileira da construção e actividades industriais associadas. O C2Ø tem como ambição ser um projecto estratégico para Portugal atingir as metas traçadas para 2050, recorrendo a sinergias dentro do sector da construção entre indústrias específicas, integrando a inovação tecnológica dos processos e contribuindo para a redução das emissões de GEE.
Este projecto abrange o sector a construção e o ambiente construído como um todo, mas visa especificamente cinco CAE da indústria da construção – CAE 23610 Fabricação de produtos de betão para a construção; CAE 23630 Fabricação de betão pronto; CAE 23991 Fabricação de misturas betuminosas; CAE 23640 Fabricação de argamassas; CAE 16230 Fabricação de outras obras de carpintaria para a construção – e pretende apoiar a implementação de estratégias de descarbonização e a avaliação do seu potencial de redução de impacte e custos.
Que acções concretas serão lançadas?
A concretização do C2Ø contempla quatro fases sequenciais, sendo a primeira a elaboração de narrativas macroeconómicas e cenários de modelação sectorial, seguida pela modelação de emissões e a identificação e avaliação das principais tecnologias e vectores de descarbonização para o sector, adicionalmente a integração medidas de economia circular, melhoria da qualidade do ar e a utilização sustentável e protecção dos recursos hídricos. Por fim, o envolvimento da sociedade, de uma forma transversal, durante todas as fases integrando no processo de decisão os principais stakeholders da cadeia de valor da fileira da construção e actividades industriais associadas.
Neste último ponto, destaca-se a realização de 12 acções de capacitação, integradas no Acelerador C2Ø, que tem como objectivo preparar as empresas para a adopção das estratégias de descarbonização preconizadas no Roteiro. Essas acções vão abordar os temas: Concepção Ecológica, Buildings post end-of-life, Métricas de Avaliação de Ciclo de vida, e Fábricas Digitais. No âmbito deste Acelerador será ainda dinamizado um Selo de Excelência para premiar as empresas pela implementação de medidas de descarbonização. No final serão ainda publicados 5 manuais sectoriais e o documento final do Roteiro C2Ø – Construction to Zero.
De que forma este projecto faz a ligação com as estratégias em curso em matéria de transição climática, designadamente PNEC2030 e RNC2050 e outros roteiros já lançados pela indústria?
Alinhado com estratégias nacionais, como o PNEC2030 e o RNC2050, e articulando-se com outros roteiros sectoriais e iniciativas nacionais e europeias, o C2Ø – Construction to Zero procura identificar soluções em cinco grandes eixos: Energias Renováveis e Combustíveis alternativos; Eficiência Energética; Recurso/incorporação de materiais alternativos; Indústria 4.0 / Digitalização; e Novos métodos construtivos.
Do que a PTPC tem observado a indústria portuguesa não parte do zero, neste momento, mas quão longe ou perto está da meta?
Algumas iniciativas internacionais, como o European Green Deal, ou nacionais, como o Plano de Acção para a Circularidade da Construção em Portugal (PACCO), identificam obstáculos à integração da economia circular no sector AEC e apontam algumas das medidas que podem apoiar esta transição. O sector da construção tem já percorrido algum caminho rumo à sustentabilidade, principalmente nas maiores empresas portuguesas que repercutem essas preocupações em toda a sua cadeia de valor.
No seu entender por onde passa a estratégia da descarbonização e que responsabilidades terão as entidades públicas e os agentes privados, nomeadamente as empresas?
Os principais desafios que terão de ser ultrapassados pelas entidades públicas e os agentes privados incluem o cumprimento da legislação (ex.: edifícios nZEB até 2030), a capacidade de adaptar processos produtivos para reduzir impactos, e atender ao reporte de sustentabilidade exigido pela CSRD, com efeitos em cascata sobre as PME.
A PTPC tem estado envolvida com uma série de actividades associadas à descarbonização, como a circularidade na construção ou a qualificação do sector para o desenvolvimento de “eco-inovações”. Aproveitando que estamos na recta final do ano, que balanço faz do trabalho desenvolvido e o que podemos antecipar para 2025?
A sustentabilidade requer equilibrar as dimensões ambiental, económica e social, assegurando a viabilidade das empresas e o bem-estar da população. O calendário da nova EPBD, com metas ambiciosas para edifícios de emissões nulas (nZEB) a partir de 2028 para edifícios públicos e 2030 para privados e renovados, traz urgência à adaptação do sector da construção. Este prazo reduzido, agravado pelo atraso na transposição da directiva, desafia especialmente as PME, predominantes no sector. Apesar das dificuldades, estas exigências reflectem uma necessidade ambiental inadiável e podem posicionar o sector como competitivo no mercado global. A PTPC tem-se posicionado como um parceiro estratégico, apoiando empresas e governo na transição com a realização de projectos, definição de planos e estratégias de capacitação.