“Pretendemos reforçar o posicionamento do grupo como líder em inovação, com uma oferta integrada ao cliente. Este é o grande motor desta reestruturação”, afirma à Traço Paulo Jervell, um dos sócios fundadores da Openbook. A firma deu lugar a um grupo, que compreende cinco entidades, e que emprega mais 90 colaboradores. No centro de tudo está a arquitectura e a defesa das premissas e dos valores que nos acompanharam a actividade da Openbook ao longo dos anos: “rigor, qualidade, obsessão pelo detalhe e pela funcionalidade”
Paulo Jervell, um dos sócios fundadores a Openbook
Esta apresentação recente que fizeram ao mercado é o resultado de um trabalho que vem sendo feito há pelo menos uns dois anos. Correcto?
São áreas que já trabalhávamos e que criaram universos diferentes. Mas 2024 foi um ano marcante para a Openbook, em que consolidámos o nosso reposicionamento como grupo multidisciplinar. Este movimento estratégico impulsionou o crescimento financeiro – no final de 2024 a Openbook vai ultrapassar os 10 milhões de euros em facturação – a expansão da equipa e a entrada em novos mercados. Com o rebranding lançado este ano pretendemos reforçar o posicionamento do grupo como líder em inovação, com uma oferta integrada ao cliente. Este é o grande motor desta reestruturação.
O que vem mudar este rebranding?
No que diz respeito à evolução das áreas de negócio, este rebranding ou esta reestruturação, aliás, são as duas coisas em simultâneo, surge para clarificar a nossa estratégia de crescimento. Vamos passar a adoptar uma nomenclatura de grupo, grupo esse que vai ter cinco empresas: Openbook Architecture, Openbook Real Estate, Openbook Studio, Openbook Engineering e Openbook Design. Algumas destas empresas são lideradas por parceiros que já colaboravam com a Openbook mas que agora assumem estas áreas de negócio de uma forma independente, mas sempre sob uma visão de grupo. O que queremos é que estas empresas possam desenvolver-se nos segmentos onde são especializadas, com estratégias e objectivos de negócios bem definidos, consolidando o nosso posicionamento enquanto grupo multidisciplinar.
Como é que estas entidades vão operar?
Sempre sob o chapéu do grupo Openbook, no universo de serviços que o grupo presta, mas para um conjunto de áreas de actuação muito mais diversifica daquele que o grupo actuava actualmente. Falando um pouco sobre cada uma destas entidades: A Openbook Architecture, que é, como vocês sabem, é uma empresa fundada em 2007, muito focada na concepção de espaços, muito alicerçada na criatividade e no padrão de qualidade que oferecemos aos clientes e que fomos, ao longo dos anos, expandindo em termos de actuação. Mantemos sempre as premissas e os valores que nos acompanharam ao longo destes anos – rigor, qualidade, obsessão pelo detalhe e pela funcionalidade – valores que, de alguma forma, pautam o crescimento da área da arquitectura. Dada a nossa estratégia de diversificação, o peso dos projectos corporativos foi-se equilibrando com o crescimento de projectos em áreas como saúde, residencial e de hotelaria, que acabaram por assumir, eu diria, uma fatia do bolo muito relevante e neste momento conseguimos inverter a balança. Estávamos muito alicerçados em projectos corporativos, agora temos uma balança muito mais equilibrada e mais diversificada.
No que diz respeito ao Openbook Real Estate, o que é que pretendemos com a criação desta empresa? Oferecer uma experiência global que permite proporcionar aos clientes serviços de análise financeira e planeamento estratégico, orientar os clientes para novas oportunidades de investimento e criar soluções personalizadas que combinem uma visão independente com profundo conhecimento no sector, seja através de mercado de capitais, consultoria imobiliária, estruturação de operações de investimento e mesmo gestão de activos.
O que vos leva a passar da arquitectura para a consultoria em real estate?
Não estamos a passar da arquitectura para a real estate. Desde a criação da Openbook nunca nos revimos como um ateliê de arquitectura. eu costumo dizer que somos uma empresa, neste momento um grupo de empresas, mas éramos uma empresa com um ateliê de arquitectura. Esta sempre foi a nossa estratégia. A consultoria em real estate, como diz e bem, surge também pela mesma razão da criação de outras empresas, aproveitar oportunidades. Através da relação que todas as empresas que hoje em dia fazem parte do grupo, surge um conjunto de oportunidades que, tendo um acompanhamento integral com as várias expertises que existem, permite-nos oferecer um serviço de maior de abrangência, diversidade e qualidade. Isso é a grande, eu diria, atractividade do grupo em ter todas estas empresas. Consoante as necessidades do cliente, conseguimos dar-lhe uma resposta e uma solução final.
O que nos leva então à Openbook Studio. Que serviços oferece esta empresa?
Openbook Studio surge potenciada por um histórico que tínhamos com uma parceira nossa nesta área de interior design. Adquirimos a empresa, na qual temos uma participação maioritária, e assim nasceu a Studio, que está muito focada em hospitality, hotelaria e residencial. A Openbook Studio está já a fazer o novo Choupana Hills, um hotel de cinco estrelas na Madeira, um projecto que teve vários momentos, mas que agora está a todo o vapor. Tem também em curso um projecto de mais de dois mil apartamentos em Hanói, no Vietnam. São quatro torres residenciais e o interior design foi entregue à Openbook Studio.
Temos ainda a Openbook Design…
Openbook Design, à semelhança da Studio, também era uma área de negócio onde já actuávamos com parceiros e, mais uma vez, o que fizemos foi adquirir esta empresa com integração no grupo. A Openbook Design faz única e exclusivamente trabalho de design em termos de wayfinding, sinalética e branding. E é uma área de negócio que acompanha muito a Openbook Architecture e o Openbook Studio. Por exemplo, num projecto corporativo do Openbook Architecture, toda a componente de sinalética, de nomenclatura das salas, de wayfinding em termos de sinalética, naming do edifício, é realizada pela Openbook Design.
Por fim, temos a Openbook Engineering.
Que vem transformar esta visão em realidade na componente técnica, através da gestão do projecto para o cliente. Esta entidade trabalha única e exclusivamente para projectos do grupo. Esta sim, foi criada sem nenhuma aquisição orgânica, foi criada internamente do zero. Obviamente, para efeitos de expertise, fomos buscar ao mercado o responsável desta área, que vem do mundo da engenharia.
Em termos de peso dentro do grupo qual a área que terá maior peso?
Neste momento, a Openbook Architecture continua a ter um peso muito destacado e significativo no que diz respeito ao volume de negócios. No entanto, é expectável, e isso tem vindo já a concretizar-se que a Openbook Real Estate tenha no futuro um peso muito considerável no volume de facturação do grupo e depois todas as outras áreas, afinal, são empresas startup e que obviamente estão a fazer o seu percurso. Não obstante, é importante referir que todas elas, na data zero de criação, sendo todas elas startups, vão ter resultados positivos no final do ano.
Mantêm-se os quatro partners, mas agora temos outros responsáveis. Como está organizado o grupo?
Os quatro partners mantêm-se como os partners da holding do grupo, depois a Openbook Real Estate, a Openbook Studio e a Openbook Design, uma vez que foram adquiridas, são geridas por sócios, managing partners, que têm uma parte do capital de cada empresa. A Openbook Engineering é a única que ainda é detida a 100% pela Holding.
Em que é que se traduz este crescimento em termos orgânicos?
Hoje temos 90 colaboradores, reforçámos as áreas de suporte, da arquitectura, do design e real estate. E depois, como último, daria nota deste reconhecimento internacional, que obviamente é alicerçado no portfólio da empresa e no track record de grande relevância que temos vindo a conseguir e que despoletaram uma série de oportunidades internacionais em várias geografias.
Maior projecção internacional e projectos com impacto
Essa maior projecção internacional vai levar a Openbook para que mercados? A base permanece em Portugal?
Em termos físicos, mantemo-nos com base em Portugal. Ainda estamos no mesmo escritório, mas tivemos que obviamente expandir, neste momento já temos mais um piso aqui no edifício onde estamos. Neste momento, produzimos de Portugal para todas as geografias onde estamos envolvidos. Mantemos o escritório do Brasil em São Paulo e estamos, neste momento, a arrancar, com o escritório no Dubai. Contamos a partir de Janeiro já ter uma presença no Dubai.
Porquê Dubai?
Estamos sempre atentos a novas oportunidades. Tivemos um conjunto de desafios por parte de alguns clientes, internacionais, para desenvolver alguns projectos no Dubai e depois resultado de uma análise estratégica de prospecção de mercado, entendemos que o Dubai é uma excelente base para todo o mercado do Médio Oriente, não só Dubai, mas Arábia Saudita e Qatar. Este é um mercado que está em forte crescimento, valoriza muito os parâmetros de qualidade e de inovação que o grupo detém e entendemos que era um momento para dar o salto
Qual o peso dos diferentes mercados para o grupo?
Diria que neste momento o mercado internacional já poderá representar cerca de 30% do volume de facturação do grupo, com tendência a crescer bastante.
Que projectos destacaria? No panorama nacional este ano têm sido destacados a “nova cidade” para o Novo Banco e a Sede da Galp…
Adicionaria a esses o campus do BNP Paribas, que compreende mais de 30 mil m2, que é um projecto que está em construção. Fora do mercado corporativo destacaria, por exemplo, o projecto do Lote 10 em Alcântara, que é um projeto de um edifício de uso misto, cuja construção irá arrancar no início de 2025, terá mais de 20 mil m2 e vai ser também um projecto muito, eu diria, inovador, quer através das suas técnicas construtivas quer através das soluções que introduzimos no edifício em termos de soluções bioclimáticas, de toda a componente de sustentabilidade. Vai ser adoptada uma solução construtiva metálica, portanto, muito descarbonizada, se assim lhe posso dizer, com uma componente de pré-fabricação, pré modelação para, obviamente, fazer face a grandes problemas que temos hoje em dia no mercado, que é a mão de obra. E essa falta de mão de obra exige quer dos promotores, dos construtores, dos arquitectos e dos engenheiros novas soluções construtivas que permitam de alguma forma colmatar estes aspectos. Estamos ainda a desenvolver os projectos para dois novos hospitais, o Hospital da Luz de Setúbal e o Hospital da Luz do Porto.
E em termos internacionais?
No Luxemburgo estamos a desenvolver um projecto de um novo edifício de escritórios para uma empresa luxemburguesa. Estamos a desenvolver vários projectos em Luanda, que vão ser projectos com uma referência muito forte, e já temos oportunidades concretas em várias geografias, nomeadamente no Dubai, na Indonésia, onde estamos também a explorar um conjunto de projectos em Jakarta.
Pode especificar um pouco o que está a ser feito em Angola?
São três projectos grandes em Luanda. Dois são edifícios de escritórios, entre os 10 a 15 mil metros quadrados, para dois operadores angolanos diferentes. E depois estamos a fazer o masterplan para uma entidade internacional, que vai ser um projeto muito grande, são mais de 160 mil metros quadrados e vai ser um projeto de uso misto, habitação, escritórios, leisure, landscape.
A escolha do momento e o impacto na arquitectura
Este é o timing certo para esta restruturação?
Pensamos que sim, é um culminar de um ano muito forte de grandes transformações e que faz sentido ser agora e faz sentido clarificar esta estratégia, faz sentido dar e começar a trabalhar também numa estratégia de comunicação e de marca para cada uma destas empresas, que têm targets específicos, que vão ser autónomas nas suas áreas e, portanto, precisam também de adequar a sua comunicação aos segmentos onde são especialistas.
Qual foi o investimento realizado?
É muito elevado. Ou seja, há aqui uma grande preocupação do grupo em ter um crescimento sustentado, sempre o tivemos, aliás. Este crescimento prossupõe um investimento numa estrutura local, estabelecermos nestas geografias, e neste caso específico no Dubai, mas passa também por um fortíssimo investimento em termos de crescimento e de consolidação de algumas áreas de suporte, quer na área financeira quer na área dos recursos humanos, quer na comunicação, comercial. Um investimento que o grupo tem vindo a fazer, de forma muito sustentada, sempre recorrendo a capitais próprios.
Qual o impacto deste processo transformador na arquitectura que praticam?
A arquitectura que praticamos será focada nos mesmos valores de sempre: elevada qualidade e rigor com foco no cliente e sempre procurando exceder as expectativas, inovando nas soluções apresentadas. Com esta nova nomenclatura, vamos consolidar um posicionamento multidisciplinar que nos vai permitir ser mais competitivos noutros os segmentos e mercados bem como oferecer uma proposta serviços integrados sempre que faça sentido, mas o ADN com que desenvolvemos os projectos, esse será o de sempre: qualidade, criatividade, inovação e uma grande responsabilidade para com as necessidades e aspirações dos nossos clientes. Queremos estar à frente do mercado e consolidar a nossa liderança no sector.
A nível pessoal, para o Paulo, arquitectura é algo que já só consegue acompanhar à distância?
Somos quatro sócios, três dos quais arquitectos e um financeiro, cada um de nós tem a sua expertise muito própria e às vezes acumulamos responsabilidades, mas cada um tem as suas áreas também bastante bem definidas.
A título pessoal, a arquitectura continua a ser a minha paixão, e mesmo se hoje em dia tenho uma componente muito forte ou relevante em termos de exigência na gestão do grupo, sem a paixão pela arquitectura é difícil incutir toda esta componente de inovação e de transformação do talento interno que temos na empresa, se não estivermos envolvidos nos projectos. O crescimento da empresa para 90 colaboradores, por mais asset que estes colaboradores já o sejam, toda a cultura, e agora vou-me desfocar dos valores do grupo, mas focar-me nos valores da arquitectura, todo o ADN da arquitectura do grupo, linguagem arquitectónica que nós defendemos esta preocupação pelo detalhe, pela qualidade, pela funcionalidade, se isto tudo não é passado e incutido na equipa, o grupo não consegue crescer de forma sustentada mantendo este foco.