Qantara inaugura era dos mega armazéns em Portugal
O Grândola Logistics Park – Euro Atlantic, representa um investimento de 500 milhões de euros e será um dos maiores parques logísticos privados em Portugal. Em entrevista ao Construir Hadrien Fraissinet, CEO Qantara Capital, justifica o investimento e a aposta num projecto que o Governo classifica de PIN – Potencial Interesse Nacional
Manuela Sousa Guerreiro
Estudo: 50% das empresas estão dispostas a pagar mais por ‘smart buildings’
Architect@Work cresce em área de exposição e consolida presença em Lisboa
PAF Advogados assessora aquisição de imóveis no valor de 70 M€
Consumo de electricidade diminui em Novembro
PortalPro reforça presença em Portugal através de parceria com a Improxy
Elisabet Guasch assume vice-presidência de Recursos Humanos para a Ibéria da Schneider Electric
Retail Mind desenvolve quatro novos retail parks em Portugal até 2027
Mexto inicia construção e comercialização do edifício S. Gens 15
Renovação de Estádio de la Meinau utiliza fuselagem de 30 Airbus
Architect@Work, Openbook, a Marina de Vilamoura e a remodelação da Almirante Reis em destaque na edição 520 do CONSTRUIR e Traço
Grândola vai receber aquele que será um dos maiores parques logísticos privados em Portugal. O Grândola Logistics Park – Euro Atlantic, ou GLPEA, terá uma área de 130 hectares divididos em megalotes, com um total de 670 000 m2 de área de construção destinados a logística, indústria e serviços, 300 000 m2 para infraestruturas adjacentes e 330 000 m2 para áreas verdes. Promovido e desenvolvido pela promotora suíça de investimentos e consultoria, Qantara Capital, o projecto promete ser um game-changer na indústria nacional, mas também internacional e, de acordo com Hadrien Fraissinet deverá ser uma realidade em menos de 10 anos.
Que argumentos e factores trazem a Qantara Capital a Portugal?
Portugal é um destino de investimento muito atractivo: todos entenderam isso nos sectores imobiliário e comercial, mas apenas recentemente começaram a reconhecer o potencial estratégico do país para fins industriais e de supply chain. A localização geográfica do país no Atlântico revela-o como a plataforma de trânsito ideal para mercadorias e commodities vindas de África e das Américas e exportações da Europa. Para além do aumento previsto dos transbordos, Portugal tem uma oportunidade única de criar valor para si e para os seus cidadãos. Graças a uma mão-de-obra qualificada, a incentivos fiscais atractivos e a uma posição de destaque na produção de energias renováveis, eu olho para Portugal como um claro vencedor na reindustrialização da Europa.
Este não é o primeiro projecto em Portugal. Começamos a investir em Lisboa em 2015. Mais tarde, fomos muito bem acolhidos em Grândola onde estamos a desenvolver vários projectos incluindo o primeiro hotel de 4 estrelas no centro de Grândola.
O que faz de Grândola a localização chave para esta nova plataforma logística?
Fizemos uma pesquisa por todo o país antes de escolhermos Grândola, que é o local perfeito para desenvolver a nossa visão. Sendo o nosso projecto grande, precisávamos de ser capazes de explorar diferentes vectores de crescimento e, portanto, diferentes tipos de ocupantes e indústrias que valorizassem as infraestruturas excepcionais do GLPEA: rodoviárias, ferroviárias, marítimas. Assim, o GLPEA apela a empresas multinacionais de logística e indústria que pretendam integrar o corredor Euro-Atlântico na sua origem. O GLPEA é também uma alternativa ao corredor logístico de Lisboa, através do qual os operadores podem deslocar as operações non-last mile para locais mais económicos e ecológicos. O crescimento económico do Alentejo e do Algarve vai também exigir infraestruturas industriais modernas para servir as indústrias agro-alimentar e turística.
Qual o plano de desenvolvimento definido para a GLPEA? Em termos financeiros, como está estruturada a operação?
Foram investidos cerca de 500 milhões de euros, com base no custo genérico do terreno, infraestruturas e construção. No entanto, o valor final dependerá de diversos factores relacionados com a taxa de utilização das infraestruturas e os futuros ocupantes da plataforma. O cold storage, armazém de ecommerce e centros de montagem têm todos um custo de investimento diferente.
A Qantara está sozinha neste investimento ou as parcerias são bem-vindas?
É uma ideia nossa e temos vindo a desenvolvê-la desde 2020. O GLPEA já despertou a atenção de operadores logísticos internacionais e lojistas multinacionais com quem estamos a avaliar diferentes formas de trabalhar em conjunto.
Estimam o desenvolvimento do projecto em quantos anos?
Num prazo de 10 anos, mas talvez seja necessário menos do que isso.
Qual o impacto esperado deste investimento no sector logístico nacional?
Em primeiro lugar, destaco a escala do projecto. Estamos na era dos megaarmazéns e, até agora, Portugal não era competitivo nesse segmento. Segundo, destaco o factor da sustentabilidade. Enquanto projecto greenfield, o GLPEA será muito mais apelativo do que locais brownfield e vai ainda estabelecer uma nova referência regional em logística verde. Terceiro, o facto de Portugal se tornar uma alternativa viável à Espanha. A maioria dos potenciais ocupantes já têm operações em Espanha, mas com a infraestrutura, intermodalidade, escala e o factor verde do GLPEA, estamos confiantes que iremos atrair a procura para Portugal. Esperamos conseguir as licenças necessárias e ter um processo burocrático tranquilo para inaugurarmos, juntamente com os nossos ocupantes, este centro logístico pioneiro na Ibéria.
A aposta neste novo eixo de entrada para o interland europeu irá concorrer com outras rotas há muito estabelecidas. Quais os principais constrangimentos identificados?
Há três factores a considerar. A concorrência entre as rotas marítimas do Atlântico e do Mediterrâneo. É mais dispendioso trazer a carga para os portos espanhóis ou franceses, mas até hoje a infraestrutura ferroviária e de armazéns portuguesa não foi capaz de lidar com os volumes e carga. Agora isto será possível graças à modernização ferroviária entre o porto de Sines e Madrid. O GLPEA vai estar ligado a estas novas ferrovias, tornando o transporte e armazenagem mais barato e “mais verde” do que as rotas do Mediterrâneo. Depois, como já referi, a reindustrialização da Europa onde Portugal está bem localizado e equipado para se tornar num player chave. E, finalmente, o próprio crescimento doméstico e orgânico de Portugal, que ainda requer investimentos em infraestrutura.
Quais as actividades que poderão estar mais interessadas em se estabelecer no GLPEA?
O terreno está classificado para fins logísticos, industriais e de serviços. No entanto, não queremos ter indústria pesada no nosso parque, especialmente porque Sines já oferece esta alternativa no seu grande complexo petroquímico. Vamos, portanto, favorecer indústrias “mais leves e limpas”, como distribuição, ecommerce, agroalimentar, farmacêutica, aeronáutica, tecnologia e montagem.
O projecto está classificado como projecto PIN, qual o impacto e vantagens deste reconhecimento?
É o reconhecimento de que o Governo valoriza uma iniciativa de investimento privado que trará muitos resultados positivos para o país a nível económico e social. Em segundo lugar, vivemos num mundo competitivo onde as circunstâncias podem mudar da noite para o dia, por isso, o momento para este projecto é de importância crítica e o status do PIN vai ajudar com alguns atrasos administrativos. Seria uma pena Portugal perder a oportunidade de acolher o maior parque logístico verde em vez da Espanha, por exemplo.