ZERO defende cinco razões para a não construção da Barragem do Pisão/Crato
A associação sublinha os impactos ambientais e sociais negativos do projecto, cuja consulta pública terminou no dia 11 de Agosto
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O Aproveitamento Hidráulico de Fins Múltiplos (AHFM) do Crato (Barragem do Crato), é um projecto promovido pela Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo (CIMAA), que junta os 15 municípios da Região, e conta com um financiamento de 120 milhões de euros do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR). Este é um projecto considerado fundamental para transformar a economia da região, gerar emprego e inverter o despovoamento da região
Este é um dos maiores investimentos alguma vez realizados no Alto Alentejo. A nova estrutura vai beneficiar 110 mil pessoas dos concelhos de Alter do Chão, Arronches, Avis, Campo Maior, Castelo de Vide, Crato, Elvas, Fronteira, Gavião, Marvão, Monforte, Nisa, Ponte de Sor, Portalegre e Sousel. O empreendimento contempla não só a barragem do Pisão – que vai garantir uma reserva estratégica de água para abastecimento público e permitir o estabelecimento de novas áreas de regadio – mas também uma central fotovoltaica flutuante de 150 megawatts, que servirá igualmente de reserva estratégica de produção de energia. O projecto vai ainda possibilitar um aproveitamento turístico e recreativo da nova albufeira que, em pleno armazenamento, terá cerca de 7 quilómetros quadrados de água.
Para a ZERO os documentos em consulta pública, que terminou a 11 de Agosto, mostram que “o projecto não só não é solução para promover a economia da região, como também se constitui como (mais) um exemplo das más decisões de utilização dos escassos dinheiros públicos que temos para promover o nosso desenvolvimento enquanto país membros da União Europeia, com a agravante de gerar impactes ambientais e sociais negativos”.
A associação sintetiza em cinco pontos as razões pelas quais o projecto não deve merecer decisão favorável por parte da Agência Portuguesa do Ambiente. Segundo a ZERO, o projecto falha desde logo naquele que é o seu principal objectivo, o abastecimento público de água dos concelhos de Nisa, Crato, Ponte de Sor, Fronteira, Sousel, Alter do Chão e Avis, “uma vez que o volume dedicado ao abastecimento público representará pouco mais de 1% do volume da afluência anual prevista na albufeira do Pisão, enquanto o uso agrícola representa 65%, sendo o restante alocado a outros usos e ao armazenamento ao longo dos anos. O Estudo de Impacte Ambiental (EIA) não comprova a necessidade de construção de uma nova barragem para garantir o abastecimento público, não havendo uma avaliação específica da eficiência do uso da água no abastecimento urbano (e.g. perdas no sistema, redução de consumos) nem uma adequada análise de fontes alternativas à albufeira de Póvoa/Meadas durante a sua desactivação temporária (uso de águas cinzentas, pluviais e de ETAR para fins não potáveis, e até fazer uma aferição séria da capacidade da albufeira da Apartadura). O AHFM do Crato é centralmente uma obra de fomento hidroagrícola”, sustenta a associação ambientalista.
Também o “combate ao despovoamento nesta região do Alto Alentejo” é outro dos argumentos contestados pela ZERO que salienta que o “estudo socioeconómico promovido pela CIMAA estima que o projecto possa vir a promover a fixação 340 a 400 pessoas na região, mas concede que o projecto não “seja capaz de inverter a previsão de despovoamento da região”.
“A própria projecção da situação actual sem o projecto sugere que não existe nenhuma necessidade iminente para a construção de um novo aproveitamento hidroagrícola na mesma bacia hidrográfica da barragem do Maranhão e respectiva área beneficiada: é afirmado que os principais beneficiários – latifundiários e empresários com acesso à grande propriedade – “poderão encontrar formas de manterem economicamente viáveis as suas explorações”, mantendo os agroecossistemas actuais “com a consequente manutenção da paisagem, estrutura económica e valência ecológica do território”, evitando assim os piores impactes ambientais do projecto. Segundo o estudo socioeconómico divulgado na documentação em consulta pública, toda a área beneficiada por rega está em apenas 77 explorações, sendo que os 120 milhões de euros de investimento via PRR são, na prática, um apoio de 2 milhões de euros distribuído pelos 57 particulares, sobretudo grandes proprietários”, defende a ZERO.
Uma das consequências da construção da barragem do Pisão é a inundação da aldeia do Pisão, cuja esmagadora maioria dos residentes defende que a aldeia seja reconstruída numa outra localização (79% segundo o inquérito divulgado). Segundo a ZERO “o EIA não dá quaisquer garantias em relação aos cidadãos afectados em termos da solução a adoptar, nem prevê custos relativos à compensação a atribuir aos lesados pelo projecto”.
A associação alerta também para a “destruição de centenas de hectares de montados, a afectação de “catorze habitats incluídos na Diretiva Habitats (92/43/CEE), sendo um deles considerado prioritário” e a fragmentação e desaparecimento de habitat de espécies de protecção prioritária em risco elevado de extinção como é o caso do sisão, da abetarda e da águia caçadeira – destruindo a continuidade entre áreas com importância para a conservação (Zona Especial de Conservação do Cabeção, Important Bird Area de Alter do Chão e Zona de Protecção Especial de Monforte). Para além disso, haverá uma artificialização da ribeira de Seda e seus afluentes, com impactes cumulativos à albufeira do Maranhão, e aumento do risco de contaminação dos recursos hídricos através da promoção de sistemas agrícolas intensivos dependentes do uso sistemático de agro-químicos”.
A ZERO chama ainda a atenção para os desvios, que considera “significativos” face ao que estava inicialmente previsto no PRR, a título de exemplo é adicionada uma central fotovoltaica terrestre; o PRR estipula que a produção de energia renovável a partir do empreendimento seria capaz de reduzir 80 000 toneladas/ano de emissões de dióxido de carbono equivalente (CO₂e), no entanto o EIA aponta menos de 10% desta estimativa (7.377 t/ano de CO₂e); o PRR prevê limitar os lotes dos perímetros de rega a 100 ha, mas o EIA prevê que 5% das unidades de rega com mais de 100 ha ocupem cerca de 40% de toda a área beneficiada; só para referir algumas das diferenças apontadas pela associação.