APCMC quer acelerar a digitalização na indústria dos materiais de construção
Parte central do projecto Speed up: Materiais de Construções a nova plataforma da APCMC já arrancou. A Datacheck vai colocar a indústria dos materiais de construção e as empresas distribuidoras a comunicar com base nos mesmos standards, acelerando a digitalização da indústria dos materiais de construção
Manuela Sousa Guerreiro
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Designado “Speed Up: Materiais de Construção 4.0” o projecto da Associação Portuguesa dos Materiais de Construção tem como principal objectivo “acelerar a transição dos materiais de construção para uma nova realidade de adopção tecnológica e digital nos processos de negócio das pequenas e médias empresas. Estas são condições essenciais ao desenvolvimento de uma abordagem integral e integrada na fileira da construção nacional. A criação de uma plataforma nacional de produtos para a construção – a datacheck – é o elemento central deste projecto. A plataforma está pronta agora é preciso a adesão da indústria como afirma José Matos, secretário-geral da Associação Portuguesa dos Comerciantes de Materiais de Construção.
O que é a APCMC Datacheck?
É uma plataforma de gestão que será o garante da qualidade da informação sobre os produtos, a qual será directamente carregada e actualizada pelos fornecedores, num formato e com estrutura standard a nível europeu. A partir daí os comerciantes e distribuidores poderão, de forma simples fazer o download de toda a informação sobre os produtos, incluindo preços, imagens, fichas técnicas, etc, etc..
Qual o ponto de situação da implementação da Datacheck?
Este é um projecto que está a ser desenvolvido há cerca de 2 anos. Registou algum atraso devido à pandemia, mas não do ponto de vista do desenvolvimento tecnológico e deverá estar totalmente operacional até ao final do ano. É parte integrante de um projecto mais amplo o “Speed Up: Materiais de Construção 4.0”, que compreende várias componentes e acções no sentido de informação sobre processos e de capacitação das empresas de forma que estas possam tirar maior partido da digitalização nos seus processos internos, sejam eles logísticos, marketing, entre outros.
Qual é a referência base deste projecto?
O elemento mais importante do ponto de vista instrumental e prático é a criação de uma plataforma nacional, um percurso idêntico ao que o resto da Europa, em especial Alemanha, Bélgica, França, Holanda, Itália ou Áustria tem vindo a fazer ao longo dos anos. Seguindo um movimento voluntário, quer das várias associações do sector dos distribuidores quer também da associação europeia de fabricantes que está neste momento em processo formal de criação de um guia europeu que permita standardizar e harmonizar todas estas plataformas nacionais. Este é um trabalho que tem sido feito nos últimos anos e neste momento está a ser criado o standard europeu destas plataformas para que haja uma interoperabilidade entre elas e para que os fabricantes e comerciantes europeus possam receber os dados nos mesmos formatos e não estar cada país a usar formatos diferentes e estruturas de dados diferentes.
Mas há uma obrigatoriedade do ponto de vista legal ou é uma mobilização da indústria/distribuidores?
É um processo voluntário não é obrigatória, mas que está a ser ajustado face às novas regras que estão a ser propostas nesta revisão de regulamento dos produtos de o qual prevê a criação de uma base de dados europeia sobre os produtos de construção, o que por sua vez está ligado à criação de um passaporte europeu de produtos de construção… mas todo este trabalho está a ser feito com base no que já existe na indústria. Não é algo absolutamente novo. Está-se a aproveitar algo que na Europa já é comum que são estas estruturas de dados que estão a ser comunicados dentro do sector por processos deste género e era muito importante que Portugal acertasse o passo com o resto da europa porque vêm aí as obrigações regulamentares.
Em que fase do processo é que estamos?
A plataforma está a funcionar. Obviamente que há ajustamentos que estamos a fazer de funcionalidade e de adaptação do funcionamento que se mostrem necessário que vão surgindo durante a sua utilização, mas neste momento já está a funcional. Temos entre 50 a 60 distribuidores registados na plataforma nacionais e 35 fabricantes registados, embora nem todos eles tenham ainda disponibilizado todos os dados. Este está a ser um processo lento porque apesar da informação existir nas empresas estas, em especial as de média e pequena dimensão, não têm recursos humanos suficientes para tratar os dados que têm em diferentes plataformas e em diferentes formatos ou em departamentos diferentes. A Datacheck tem cerca de 150 campos de informação que podem ser actualizadas permanentemente. Mas estamos a trabalhar com as empresas no sentido de as ajudar a fazer essa adaptação e acelerar esse trabalho.
Com quantas empresas estão a trabalhar?
Estamos a trabalhar com trinta e tal empresas nacionais e internacionais. Aliás, para estas últimas este é um processo mais fácil porque estão habituados a trabalhar desta forma nos mercados europeus e entendem a necessidade de harmonização.
Mas do ponto de vista nacional esta já é uma indústria exportadora…
E por isso também é importante para a indústria nacional, que esta a ter as solicitações noutros mercados e precisa de enviar os seus dados para data pools diferentes em formatos diferentes e, portanto, digamos que se fizer o processo a nível nacional fica com uma estrutura de dados europeia, o que lhe facilita o envio da informação para os seus clientes internacionais. Além disso, este trabalho de harmonização inclui a harmonização com o sistema de classificação de produtos internacional, o eTime.
O que está interligado com recolha de informação que é pedida pela Datacheck.
Exactamente. Tudo isso está integrado na plataforma se for indicado o sistema de classificação e a classe do produto automaticamente são indicadas as características técnicas do produto na própria plataforma. Se o fabricante não utilizar um sistema de classificação vai ter que identificar as características técnicas do produto na plataforma, o que também é possível.
É preciso não esquecer que a jusante desta indústria, estão os projectistas, arquitectos, construtores para quem esta informação e estes dados são importantes e que podem passar a ter acesso a informação estandardizada e que pode ser usada por outras ferramentas e software designadamente o BIM. Um dos elementos que pode acompanhar a informação produto é o objecto BIM que passa a estar disponível logo no artigo.
Quantas empresas já completaram o processo?
Como lhe disse temos registados entre 35 a 40 empresas, mas disponíveis a ser utilizados estão cinco, as restantes estão em diferentes fases do processo e algumas estão quase em fase de arranque outras têm o seu processo interno mais atrasado. Até ao final do contamos ter em funcionamento estas 35 a 40 empresas.
Face ao universo das empresas do sector este número representa quanto?
Em termas de empresas não representará mais de 20% das empresas fabricantes, mas representará em termos de volume de negócios se calhar 80%.
Para as empresas mais pequenas tem sido fácil explicar a importância e fazê-las aderir ao projecto?
É mais complicado porque as empresas têm poucos recursos humanos e estão mais limitadas, mas a aceitação e a adesão das empresas têm sido enormes, demora é tempo a concretizar-se.
Num mundo que já é globalizado só agora a indústria dos materiais de construção está a despertar para esta necessidade de harmonização?
O sector da construção está atrasado. Todos nós gostávamos de estar como o sector automóvel. Isto é um trabalho de fundo que na Europa se está a fazer há 30 anos e nós estamos a começar agora. Claro que aproveitamos tudo o que a Europa já produziu e todo o seu processo de aprendizagem. Hoje é mais fácil porque temos as ferramentas, a experiência, temos as empresas internacionais a trabalhar nos mesmos moldes e temos standards europeus que antes não existiam.
A implementação torna-se mais rápida, mas, ainda assim, é um trabalho que irá demorar meses, devemos atingir um patamar mínimo no final deste ano e depois esperamos que em dois a três anos se complete.