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OH Lisboa 2018: Michel Toussain levará visitantes por um percurso urbano no Parque das Nações
Entre as 9 zonas seleccionadas por Luís Santiago Baptista e Maria Rita Pais está o Parque das Nações (Expo 98), que comemora duas décadas de existência
Ana Rita Sevilha
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Este ano, o Open House Lisboa integra no seu programa de visitas 9 percursos urbanos que revelam as transformações recentes da capital, zona a zona. Para cada percurso haverá um convidado especial: Ana Vaz Milheiro (Santos, Príncipe Real e Campo de Ourique), Inês Lobo (Mouraria, Intendente, Areeiro), Ricardo Carvalho (Baixa-Chiado), Tiago Mota Saraiva (Beato, Marvila), Paulo Tormenta Pinto (Alvalade, Cidade Universitária), Patrícia Bento D’ Almeida (Belém, Restelo), José Manuel Fernandes (Avenidas Novas) e Tiago Oliveira (Olivais, Chelas) e Miguel Toussain (Parque da Nações).
Em entrevista ao CONSTRUIR, Michel Toussain desvendou um pouco sobre a sua leitura da zona do Parque das Nações e fez uma análise aos 20 anos que passaram desde a Exposição Mundial de Lisboa e os reflexos que teve na Lisboa de hoje.
20 anos passados sobre uma das maiores intervenções urbanísticas já realizadas no Portugal Moderno. Que reflexos teve esta operação na Lisboa que hoje conhecemos?
Michel Toussain: Não será o Portugal Moderno porque esse já lá vai. Será mais na Pós-modernidade olhando-se simultaneamente para as lições do passado e projectando-se para o futuro e num local específico. É preciso não esquecer que o sítio da Expo 98, hoje Parque das Nações, estava semiabandonado com vestígios de indústrias obsoletas, da aviação da primeira metade do século XX, ou a existência de uma lixeira altamente poluente. Mas junto ao Mar da Palha que lhe conferia valores paisagísticos únicos. Assim a operação urbanística reabilitou o sítio, valorizou a zona Oriental da cidade, foi um exemplo de sucesso na afirmação de uma outra relação da cidade com o rio, demonstrando que Lisboa poderia tirar partido da sua localização no estuário do mais longo rio peninsular.
Foi considerada uma reabilitação urbana sem precedentes que se transformou num caso de estudo internacional. O que aprender com a operação?
Aprendeu-se que fazer ou reabilitar a cidade implicava planos e projectos bem pensados e coordenados e que a amarga experiência portuguesa ao longo do século XX poderia ser ultrapassada afim de termos territórios que oferecessem melhores condições de vida.
O plano de urbanização tem inúmeros méritos, contudo há quem o considere um “gueto”. O que é que identifica de menos positivo e o que pode ser melhorado?
A questão do “gueto” foi levantada logo desde o início, pois o território do Parque das Nações está separado da restante cidade pela linha de caminho de ferro sobre aterro, e para ele estava previsto, após a Expo 98, um bairro novo com escritórios, comércio e habitação a ser habitado apenas pela classe média/alta e privilegiado em termos de acessibilidades. À qualidade oferecida contrapunha-se o lucro imobiliário para, em parte, pagar os custos da Exposição Mundial. Assim, largas faixas da população não tiveram qualquer possibilidade em ter habitação no Parque das Nações.
O comissário executivo da Exposição Mundial de 1998, António Mega Ferreira, diz que a Expo’98 mudou os hábitos e os comportamentos dos seus habitantes e trouxe o conceito de usufruto do espaço público. Concorda?
António Mega Ferreira tem razão porque houve uma grande atenção nos projectos para os espaços exteriores públicos: jardins, ruas, o passeio ribeirinho, etc. E os planos de pormenor, realizados por vários arquitectos, preocuparam-se de modo bem evidente com a forma e definição desses espaços. Com o fim da EXPO 98, o interesse da população em geral por usufrui-los foi evidente e permanece até hoje. Mais tarde com a reabilitação da zona Rossio/Praça da Figueira, da frente ribeirinha entre Santa Apolónia e Cais do Sodré (ainda em curso) ou ainda dos espaços exteriores públicos da Mouraria ou das Avenidas Novas (parcial), aquele tipo de interesse tem-se estendido a outras partes da cidade.
Podemos falar hoje de uma cidade ainda mais próxima do rio? Nos últimos anos são vários os projectos âncora que têm nascido na cidade com o Rio como enquadramento…
De facto, a frente ribeirinha tem sido reabilitada a favor do prazer da população lisboeta e dos visitantes da cidade. Tal iniciou-se há alguns anos com a contestação de um plano especulativo do Porto de Lisboa e um concurso lançado pela Associação dos Arquitectos Portugueses. Finalmente a Câmara Municipal de Lisboa despertou para o problema da exclusiva jurisdição do porto sobre as margens do Tejo. Chegou-se a um acordo e hoje as actividades portuárias coexistem com vastos espaços tratados para usufruto da população, tornado a cidade muito melhor vivida.
Numa lógica de desenvolvimento, transformação e crescimento da cidade, como perspectiva os próximos 20 anos?
O futuro é sempre muito difícil adivinhar, e ainda mais nos tempos incertos que vivemos. Assim só é possível exprimir desejos. Talvez o principal é pensar que Lisboa é o centro de uma Área Metropolitana fruto de uma expansão descontrolada sobretudo nas décadas de 1950, 60 e 70. E assim haveria que estabelecer e activar um plano de reabilitação geral tendo em vista os desafios ambientais próximo e futuros que tornasse este território numa magnífica cidade diversificada com os seus mais de 3 milhões de habitantes numa paisagem natural privilegiada onde a Natureza e o Homem estabelecessem verdadeiros equilíbrios capazes de levar a um futuro verdadeiramente sustentável.