Com o turismo a dar cartas no País, multiplica-se a oferta hoteleira e as insígnias – das maiores às mais pequenas -, procuram a diferenciação na oferta e nos serviços, mas também nos conceitos e nos espaços. Pilar Paiva de Sousa é uma das profissionais que tem vindo a trabalhar no desenho destes espaços dedicados ao turismo, onde cabem as unidades hoteleiras e também os navios de cruzeiro. Ao CONSTRUIR, a arquitecta contou que desde cedo percebeu “que não era a arquitectura de edificação que queria fazer”. “Motivava-me muito mais o poder de transformação de um espaço para contar uma história, o que me levou a uma tentativa de incursão em Cenografia”, conta. Na altura, recorda Pilar Paiva de Sousa: “Fui bater à porta do Director de Cenografia do Teatro Dona Maria e talvez tivesse tido um percurso diferente se ele tivesse estado em casa…”
As lições de Távora
Pilar Paiva de Sousa formou-se na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto e estreou-se no mundo profissional no gabinete de Fernando Távora. Sobre esse período recorda que “desenvolveu um projecto de uma casa residencial de dimensões pouco usuais para a época, localizada na Foz do Porto”. Sobre a experiência, Pilar Paiva de Sousa refere que Távora desenvolvia “os espaços interiores com uma vivência diferenciada do que aprendíamos na Escola do Porto”.
“Recordo, também, a facilidade e o rigor do desenho, algo essencial como instrumento de raciocínio”, sublinha, bem como o facto de ser alguém “de emotiva reflexão sobre a arquitectura”. Para comprovar isso, adianta Pilar, “basta ler o texto sobre a sua viagem a Taliesin nos anos 60, um dos meus preferidos”.
Os desafios da hotelaria
Com projectos no portfólio que vão de Portugal à Béligica, de Cabo Verde a Angola, passando pelo Brasil e pelo histórico Hotel Mont Royal, em Paris, Pilar Paiva de Sousa já trabalhou para algumas das maiores companhias internacionais de hotelaria, como Meridien, Marriott, Hilton e Accor – e de cruzeiros – a Royal Caribbean, a MSC Cruises, a Viking e a Douro Azul. Sobre o seu trabalho, caracteriza-o de “sofisticado” e de “inspiração cosmopolita contemporânea”. “Os trabalhos da PPS criam uma identidade espacial singular, que prima pelo conforto e requinte. Os seus ambientes contam uma história, valorizando a dimensão humana do espaço”, explica ao CONSTRUIR. “O design de assinatura, a atenção ao detalhe e a qualidade dos materiais e acabamentos que são a imagem de marca da PPS fazem com que seja, cada vez mais, requisitada pelo sector de luxo, em Portugal e no estrangeiro, para criar e implementar os interiores de hotéis e navios de cruzeiro de referência”, sublinha. A especialização na industria de cruzeiro, levou a PPS a ser reconhecida pelos maiores construtores da área, estando neste momento a desenvolver o projecto de arquitectura de interiores do maior navio de cruzeiros construído em Portugal, o Douro Splendour. Paralelamente, a PPS está a construir os espaços comerciais e interiores de um novo mega navio de cruzeiro para a Royal Caribbean no estaleiro da STX, em França.
Sobre os grandes desafios que a hotelaria encerra, Pilar Paiva de Sousa aponta três: “A dimensão, que tanto pode ser muito grande ou muito pequena; a evolução humana, no comportamento e uso do espaço; e a criação de sensações e emoções”. De acordo com a arquitecta é precisamente no resolver destes desafios que se encontra o equilíbrio entre as premissas e linhas condutoras de grandes cadeias hoteleiras e a dimensão humana dos espaços.
Este é também um sector movido a tendências e quanto às que ditam as regras actualmente, Pilar Paiva de Sousa enumera as que, no seu entender, estão no topo. “A redefinição de luxo – não falo de luxo tradicional, mas sim luxo acessível. A tecnologia deu muito mais acesso a informações relacionadas com a noção do que o luxo representa filosoficamente, e que não é necessariamente referente a design; a sustentabilidade, que se traduz numa presença cada vez mais consistente de verde/vegetação; e o espaço comunal, de trabalho e de sociabilização incluindo restauração”.
Segundo Pilar Paiva de Sousa, que fundou a PPS em 2004 e tem vindo a assistir ao desenvolvimento do turismo e às suas repercussões ao nível do desenho dos espaços, na prática, os maiores reflexos encontram-se nas áreas comuns dos edifícios. Pilar Paiva de Sousa aponta ainda a necessidade de uma renovação mais rápida dos hotéis existentes e a tendências para espaços mais cosmopolitas, “mais livres e democráticos”.
O cinema na arquitectura
Pilar Paiva de Sousa coloca a pessoa no cerne dos seus projectos e a nova estratégia de branding que o gabinete está a implementar reflecte isso mesmo: dando-se a conhecer através de narrativas de autor, que partem do impacto visual e sensorial dos seus ambientes para despertarem emoções e criarem memórias.
É longa a história de relação entre o cinema e a arquitectura e tem sindo amplamente debatida. Para Pilar Paiva de Sousa: “Num filme, as cenas interiores, passam-se em espaços contidos.
A sequência de planos, do ponto de vista cenográfico, permite a preparação do espaço de modo a criar expectativas e experiencias a quem o vê, no caso do cinema e a quem o vive, no caso da arquitectura”
Sobre a escolha do cinema para essa estratégia, Pilar Paiva de Sousa comenta: “Foi a entrada na empresa, de uma pessoa com um curso de cinema, que proporcionou o desenvolvimento desta ideia. Fez-se o desafio a jovens realizadores de cinema para que apresentassem um pequeno filme de autor que fosse transmissor e inspirador dos valores e mais valias da PPS nos projectos.
Este modo permitiu transmitir uma mensagem pessoal e não institucional.
Todo o processo e o resultado dos filmes do Nuno Rocha e João Lourenço foi revelador de como o cinema é um meio que permite mostrar a dimensão humana dos projectos, tal como a PPS os encara”.
Para a arquitecta, “o envolvimento emocional das pessoas é o grande valor dos filmes, na linha do que queremos fazer e partilhar com o público em geral. O que os filmes transmitem são as experiências das pessoas, a vivência delas nos nossos espaços”.