Sector da engenharia civil “excessivamente fragmentado e concorrencial” em Portugal
Mercado nacional de engenharia encontra-se “excessivamente fragmentado e concorrencial”, numa situação “extremamente difícil”, em que se mantém a contracção, “quer a nível do mercado de obra pública, quer no mercado privado”
Pedro Cristino
AMP: Porto, Gaia e Matosinhos são os concelhos mais procurados por estrangeiros
Turismo nacional deverá manter tendência de crescimento em 2025
Matilde Mendes assume a direcção de Desenvolvimento da MAP Real Estate
Signify mantém-se pelo oitavo ano consecutivo no Índice Mundial de Sustentabilidade Dow Jones
Porta da Frente Christie’s adquire participação na mediadora Piquet Realty Portugal
Obras da nova residência de estudantes da Univ. de Aveiro arrancam segunda-feira
Worx: Optimismo para 2025
SE celebra a inovação centenária dos TeSys e dos disjuntores miniatura
União Internacional dos Arquitectos lança concurso de ideias destinado a jovens arquitectos
Filipa Vozone e Luís Alves reforçam área BPC & Architecture da Savills
O mercado nacional de engenharia encontra-se “excessivamente fragmentado e concorrencial”, numa situação “extremamente difícil”, em que se mantém a contracção, “quer a nível do mercado de obra pública, quer no mercado privado”. De acordo com os agentes deste sector que responderam ao repto do Construir para traçarem uma sucinta análise da situação actual da actividade de engenharia civil no país, os projectos escasseiam, o mercado contrai e os engenheiros portugueses engrossam a fileira das consultoras internacionais.
“Extremamente difícil”
Segundo Pedro Colunas Pereira, o sector da engenharia em Portugal “encontra-se numa situação extremamente difícil, resultante da forte contracção do mercado interno e da sua incapacidade de se internacionalizar”. Para este engenheiro civil, que apesar de integrar os quadros da Cenor, acedeu responder ao Construir apenas a título individual, estes dois factores “conduziram à emigração maciça de técnicos, em benefício das grandes consultoras internacionais”. Nas suas palavras, a contracção do mercado interno era “inevitável”, dado o “excessivo peso da indústria da construção na economia nacional”. Assim, a internacionalização afigurou-se como “a única opção para manutenção da capacidade produtiva em 2000”. Todavia, essa inevitabilidade não foi, segundo Pedro Colunas Pereira, antecipada pela indústria, “que confiou na manutenção de níveis de investimento público extremamente elevados, até ao colapso do sistema, em 2011”.
Aviltamento de preços
A queda do investimento é corroborada por Alfredo Pereira da Costa, que salientou a contracção do mercado da construção, tanto a nível público, como privado, “com reflexos relevantes no sector da engenharia civil”. Simultaneamente, “escasseiam os empreendimentos de dimensão significativa, que exigiriam melhores projectos multidisciplinares e fiscalizações organizadas e com maiores requisitos”. No âmbito dos factores referidos, o administrador da FASE considera que a concorrência, “vasta e de organização e dimensão variáveis, tem conduzido a uma grande competitividade no sector e, por consequência, ao nocivo aviltamento dos preços”.
Maior risco que em 2011
Pedro Castel-Branco lembra que o sector da engenharia civil no país “reduziu-se substancialmente desde 2011”, o que levou as empresas nacionais a procurarem, noutros países, “mercados alternativos”. Todavia, “a queda do preço do petróleo implicou que muitos países alvo das nossas exportações entrassem numa crise de magnitude superior à crise portuguesa” explicou o director da Prospectiva, salientando que essas geografias tradicionalmente procuradas pelas empresas lusas “implicam, normalmente, exigências superiores de tesouraria para fazer face a prazos de pagamento mais dilatados”. Castel-Branco caracteriza o mercado nacional de engenharia civil como “excessivamente fragmentado e concorrencial, com inúmeros agentes de dimensão reduzida, com preços e margens excessivamente esmagadas”. Como resultado destes factores, as empresas nacionais apresentam hoje “maior fragilidade e risco do que em 2011”. Isto porque, segundo realça o responsável da Prospectiva, há um menor investimento no sector e um menor volume de adjudicações, com preços e margens mais reduzidos. A isto, acresce a tendência do cliente público para adjudicar estes serviços “numa política de preço mais baixo”, situação que Pedro Castel-Branco considera “particularmente bizarra sempre que o objecto de contratação não é uma commodity”. Para este engenheiro, os estudos, os projectos e os serviços de engenharia, dada a “enorme componente de trabalho intelectual associada”, não deverão ser contratados “numa política exclusiva de baixo custo, mas sim numa política de valor acrescentado em função da relação qualidade-custo”.
Atomização do mercado
Pedro Colunas Pereira lembra que, no ranking das 300 maiores empresas de engenharia europeias de 2014, editado pela Associação Sueca de Engenharia, apenas constavam duas empresas portuguesas – a Consulgal, em 93.º, e a FASE, em 200.º. “Ao longo da crise, assistiu-se ao encerramento de um número elevado de empresas, lançando no mercado um número ainda maior de profissionais qualificados que passaram a operar com empresários individuais”, sublinha o engenheiro. Para Colunas Pereira, “esta atomização do mercado é uma consequência da crise” e foi tornada possível pela sua “total desregulamentação, o que, como é habitual, é um benefício para os consumidores, com consequências sérias na qualidade dos serviços prestados”. “Com raras excepções de empresas a operar em nichos de mercado muito especializado, a sua pequena dimensão limitou-as a processos de internacionalização em países de expressão portuguesa, impedindo uma diversificação real dos seus mercados”, ressalva, concluindo que é na diversificação que se encontra a “única forma de redução dos riscos de exposição excessiva a mercados problemáticos”.
A alavanca da competitividade
Apesar de estar a desenhar-se um cenário pouco risonho no horizonte da engenharia civil em Portugal, Filipe Lourenço lembra que este sector é, “neste momento, a nossa principal “arma” para potenciar e estimular a competitividade das nossas empresas e do nosso país, na medida em que, nos últimos 20 anos, o Estado investiu bastante no ensino superior de qualidade, nomeadamente nas engenharias”. Para o CEO da Procifisc, o sector da engenharia portuguesa “não só tem muita qualidade, como também se destaca pela sua inovação e versatilidade, pelas características e perfil do engenheiro português”. Neste âmbito, Filipe Lourenço sublinha que “em todo o mundo se concretizam obras, empreendimentos, com mão portuguesa”.