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    Opinião

    Sustentabilidade no setor da construção (a importância de começar a preparar a eficiência energética dos edifícios a partir da fase de projeto)

    A fase de projeto é fundamental e absolutamente decisiva, pois é aqui se define o ADN do edifício. É na conceção que se trabalham as soluções que terão um impacto crítico no ciclo de vida do edifício e, consequentemente, na sua sustentabilidade. A busca incessante por soluções ambientalmente sustentáveis deve ser o foco

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    Sustentabilidade no setor da construção (a importância de começar a preparar a eficiência energética dos edifícios a partir da fase de projeto)

    A fase de projeto é fundamental e absolutamente decisiva, pois é aqui se define o ADN do edifício. É na conceção que se trabalham as soluções que terão um impacto crítico no ciclo de vida do edifício e, consequentemente, na sua sustentabilidade. A busca incessante por soluções ambientalmente sustentáveis deve ser o foco

    Miguel Garcia
    Sobre o autor
    Miguel Garcia

    A urgência de assegurar a sustentabilidade do planeta é hoje incontestada. Reduzir as emissões globais de CO2 é uma inevitabilidade. Aprovado pela Comissão Europeia, o Green Deal tem como objetivo retardar o aquecimento global e atenuar os seus efeitos, garantindo a neutralidade climática até 2050, o que tornará a Europa no primeiro continente climaticamente neutro. Reduzir as emissões da EU, pelo menos 55% até 2030, é um dos primeiros passos para atingir o objetivo macro.

    E qual o papel da fileira da construção e do imobiliário? Segundo a bibliografia, desde a construção até à operação dos edifícios, este setor é responsável por cerca de 37% das emissões globais de CO2 e por cerca de 40% do consumo mundial de energia. Neste sentido, conduzir o setor para a sustentabilidade deve ser um desafio prioritário a assumir pelas empresas de AEC. Contudo, não podemos ter ilusões, o desafio para garantir o cumprimento destes objetivos é gigantesco.

    A produção dos materiais, a construção, a manutenção, funcionamento e a demolição são as diferentes etapas da vida de um edifício e que são responsáveis por quase 40% das emissões globais de gases com efeito de estufa. Como tal, a minimização da pegada ambiental, a problemática da economia circular, da reutilização, da eficiência energética e da redução do impacto da operação dos edifícios deve estar no centro da nossa ação.

    A nossa missão deve ser a descarbonização e o nZEB (near Zero Energy Building). E para tal desiderato, a sustentabilidade tem de ser pensada desde o primeiro momento, para as diferentes fases e estágios da vida de um edifício.

    A produção dos materiais de construção como betão ou o aço, e as atividades inerentes à construção, são responsáveis por grandes quantidades de resíduos e por valores significativos de carbono incorporado. Contudo, o maior impacto dos edifícios está na sua operação, com elevado consumo de energia e produção de carbono operacional. Como tal, na conceção de um edifício temos de ter em consideração que o mesmo poderá ter uma vida útil de décadas, desenhando soluções que minimizem a sua pegada ao longo do tempo. Os edifícios terão assim de ser pensados de forma mais global e intemporal, com toda a conceção a ter subjacente a linha orientadora da sustentabilidade.

    A fase de projeto é fundamental e absolutamente decisiva, pois é aqui se define o ADN do edifício. É na conceção que se trabalham as soluções que terão um impacto crítico no ciclo de vida do edifício e, consequentemente, na sua sustentabilidade. A busca incessante por soluções ambientalmente sustentáveis deve ser o foco.

    A conceção deve incorporar princípios de design sustentável, procurando a otimização da eficiência energética, pensando os edifícios de forma a maximizar recursos naturais, como a luz solar ou a ventilação natural. Soluções “verdes”, como jardins verticais ou coberturas ajardinadas, podem também contribuir para este design sustentável.

    Utilizar sistemas construtivos que reduzam o consumo de energia, como isolamentos de elevado rendimento, janelas de alta eficiência energética e sistemas de climatização sustentáveis são outros exemplos fáceis de enumerar. No mesmo sentido, prever produção de energia renovável nos edifícios é indispensável.

    As soluções podem ser múltiplas. Ao nível da eletricidade, é necessário optar por equipamentos de grande eficiência energética e longevidade, enquanto que ao nível da hidráulica, a racionalização do consumo de água deve ser imperativa. O reaproveitamento de águas cinzentas e pluviais deve começar a ser obrigatório em grandes edifícios.

    Sistemas de GTC podem desempenhar um papel importante na promoção da sustentabilidade, uma vez que permitem a gestão, monitorização e controlo de sistemas de AVAC, iluminação, entre muitos outros. O ajuste automático e otimização de sistemas com base em dados em tempo real melhora a eficiência, reduzindo desperdícios e promovendo a racionalização.

    Mas é também necessário investir nos processos construtivos, procurando novos materiais ou formas de trabalhar. Optar por materiais de construção sustentáveis e de baixo impacto, como madeira certificada, materiais reciclados e produtos de baixa emissão de carbono, assim como, promover práticas de reciclagem e a reutilização de materiais de construção para reduzir resíduos e minimizar o impacto ambiental é hoje crítico. Nas obras temos de adotar práticas de logística sustentável para o transporte de materiais e equipamentos, reduzindo as emissões de carbono associadas. A primazia deve ser dada a produtos e materiais locais, para diminuir a cadeia de transporte.

    Nos estaleiros temos também a obrigação de melhorar o consumo de recursos naturais e a utilização de combustíveis fósseis, por exemplo, para produção de energia provisória.

    Tudo exposto, definir modelos, processos e práticas que ajudem a alcançar as metas de neutralidade carbónica é uma obrigação do setor. Mas a Construção não pode estar sozinha neste caminho. Os investidores e os donos de obra têm de fazer parte da solução e estar disponíveis para acomodar este tipo de preocupações nos projetos.

    O caminho para a descarbonização e para a mitigação da “pegada ambiental” tem custos imediatos que só serão exequíveis se forem partilhados. O payback futuro de edifícios mais eficientes terá de entrar na equação dos investidores, uma vez que a redução dos custos de operação aporta valor a longo prazo aos projetos. Paralelamente, existem outros benefícios. Um imóvel desenvolvido a pensar no futuro, tem um valor percecionado superior, ao mesmo tempo que para os investidores institucionais contribui para a perceção da sua responsabilidade ambiental e social corporativa, com benefícios visíveis ao nível da gestão dos seus stakeholders e imagem. Os ganhos não são só ambientais.

    Em suma, para trabalhar na sustentabilidade, é crítico o envolvimento de todos os players. O legado para as futuras gerações a isso nos obriga.

    NOTA: O Autor escreve segundo o Novo Acordo Ortográfico

    Sobre o autorMiguel Garcia

    Miguel Garcia

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