Sustentabilidade
“(…) uma aposta séria [na sustentabilidade] só fará sentido se, cada vez mais, soubermos justificar que cria valor, não só pela emergência climática, mas também pela via económica”

A palavra sustentabilidade é hoje das mais utilizadas, tendo passado da mera análise da viabilidade económica e financeira duma organização para o conceito mais global e atual da capacidade de satisfazer as nossas necessidades no presente, sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades. Quando falamos da sustentabilidade de uma empresa consideramos os três fatores ESG, ou seja, a conservação do ambiente, com uma gestão eficiente dos recursos utilizados, tendo relações sociais saudáveis, respeito pelos direitos humanos, condições de trabalho adequadas e com ética, combate à corrupção e transparência na governação.
No fator ambiental o setor da construção é, hoje, ao nível europeu, um dos que mais preocupações levanta e onde se concentram várias medidas e esforços tendentes a encontrar as melhores soluções para uma adequada performance. A normalização tem estado particularmente ativa na elaboração de novas normas que permitam dar cumprimento à legislação. As questões ambientais têm estado cada vez mais presentes nos trabalhos dos Comités Técnicos do CEN – Comité Europeu de Normalização e esse facto será mais visível nas novas normas harmonizadas que irão dar um novo impulso à aplicação do Regulamento dos Produtos de Construção e que, a par de atualizações e resposta à inovação entretanto ocorrida em vários materiais, irá incluir requisitos ambientais. Mas, para além de dar uma resposta necessária à aplicação do RPC, a normalização vai muito para além deste âmbito, contribuindo para a inovação e criação de mecanismos que possibilitem às empresas e aos estados avançarem, de forma mais eficiente, na sequência das políticas definidas.
Merece especial atenção o High Level of Construction Forum que acompanhamos e que é uma aposta da Comissão Europeia para possibilitar e incentivar os diferentes stackeholders a trocar experiências e assim encontrar, de forma voluntária, caminhos que levem à transição para um ecossistema da indústria da construção europeia mais resiliente, mais verde e mais digital.
Contudo, e como se costuma dizer “não há bela sem senão”, e os alertas das confederações e associações estão focados no facto de a Europa estar a investir e a definir regras cada vez mais rígidas, sem analisar devidamente a situação real das empresas e dos vários Estados e a sua capacidade para absorver tais investimentos numa economia global. As eleições nos Estados Unidos, com as medidas que vêm sendo anunciadas, e embora ainda não se sabendo no momento em que escrevemos, de como e em que extensão irão ser aplicadas, mostram como as regras podem mudar com impacto nos mercados.
O setor dos materiais de construção, aquele em que nos situamos, mostra otimismo nas suas previsões para 2025, embora a associação do setor chame a atenção para as margens líquidas que é preciso manter sob controlo num momento em que a inflação se encontra mais controlada, mas onde surgem no horizonte muitas incertezas de como os mercados irão reagir às tão discutidas taxas alfandegárias.
A crise da habitação que não se verifica apenas em Portugal, mas que afeta, embora de forma desigual, vários países, levou a que o Parlamento Europeu criasse uma comissão especial para a elaboração de um plano de habitação acessível e de uma estratégia de habitação da UE. O setor queixa-se da falta de trabalhadores, existindo um enorme deficit a esse nível, mas, segundo o Barómetro Informa a atividade “construção de edifícios” foi a que mais cresceu em 2024 em número de novas constituições de empresas. As obras inerentes ao PRR, embora muito aquém do que o anterior Governo projetara, mas cuja realização se atrasou, em alguns casos sem retorno, tem ajudado a atividade no setor e, por inerência, no que refere aos produtos de construção.
A burocracia europeia, e a portuguesa em particular, são acusadas de serem um entrave à inovação e ao desenvolvimento de novos projetos face ao excesso de legislação existente, caricaturando, os americanos primeiro fazem e depois legislam, enquanto os europeus equacionam, legislam e depois se verá se há espaço para produzir. Esta a grande desvantagem competitiva que a indústria hoje aponta quando se fala da guerra das taxas alfandegárias que se avizinha.
E, voltando ao nosso tema, a sustentabilidade, uma aposta séria só fará sentido se, cada vez mais, soubermos justificar que cria valor, não só pela emergência climática, mas também pela via económica.
NOTA: O Autor escreve segundo o Novo Acordo Ortográfico