A crise sem precedentes originada pela pandemia da COVID-19 obrigou as empresas a dar prioridade à tecnologia e a acelerar a digitalização das suas operações para se adaptarem à nova realidade. Esta mudança, inimaginável em tempos anteriores, deu um papel de destaque às PropTech, permitindo-lhes posicionarem-se como ferramentas essenciais para a sobrevivência do setor.

Desde então, as soluções tecnológicas para o setor imobiliário têm estado no centro da transformação deste mercado, mas o caminho para a digitalização ainda apresenta vários desafios que exigem uma abordagem mais proativa e positiva da transformação tecnológica.

O primeiro desafio é ultrapassar a resistência à mudança em parte deste mercado. O setor imobiliário, tradicionalmente imutável no que diz respeito à inovação, tem sido lento a incorporar a tecnologia nos seus processos. Muitas empresas continuam a confiar em métodos analógicos e procedimentos manuais, como reuniões presenciais e documentação em papel, muitas vezes devido à falta de conhecimentos tecnológicos ou à perceção errada de que a digitalização é complexa. Esta resistência cultural realça a necessidade de educar as empresas sobre os benefícios tangíveis da utilização de plataformas digitais, ferramentas de análise de dados e automatização.

Outro obstáculo importante é o quadro regulamentar. A legislação local é frequentemente complexa e, em muitos casos, não foi concebida para se adaptar rapidamente às tecnologias emergentes. Isto cria um desfasamento temporal que pode atrasar a implementação de soluções inovadoras, obrigando as empresas PropTech a gastar tempo e recursos para cumprir regulamentos que nem sempre estão alinhados com o seu modelo de negócio. Para ultrapassar esta barreira, será crucial fomentar o diálogo entre a indústria e os reguladores, promovendo um ambiente que favoreça a inovação sem comprometer a segurança e a transparência.

O acesso a dados de qualidade é outro desafio importante. Para que as empresas possam oferecer serviços baseados em Inteligência Artificial ou Big Data, necessitam de informações atualizadas, precisas e bem estruturadas. No entanto, o setor imobiliário opera frequentemente com dados fragmentados ou desatualizados, o que limita o potencial destas ferramentas tecnológicas. Por outro lado, há a questão da escalabilidade. A implementação de soluções tecnológicas em diversos mercados, com diferentes regulamentações e necessidades, exige uma enorme capacidade de adaptação. Além disso, o rápido crescimento do setor gera uma saturação de players com propostas semelhantes, o que dificulta o destaque e a notoriedade.

Embora estes desafios que as empresas enfrentam atualmente sejam complexos, estejam interligados e em constante evolução, não são insuperáveis. Muito pelo contrário. Representam, aliás, uma oportunidade de ouro para a evolução do setor imobiliário. Se as empresas PropTech adotarem uma abordagem colaborativa e partilharem conhecimento, podem ultrapassar as barreiras que encontram pelo caminho e posicionarem-se como líderes na transformação digital. A resolução destas questões não beneficiará apenas as empresas PropTech, mas também o setor como um todo, que está prestes a reinventar-se.

Em suma, o setor imobiliário tem o potencial de se assemelhar ao setor financeiro na sua integração tecnológica com um esforço relativamente reduzido, graças aos progressos das ferramentas intuitivas e dos sistemas non-UI (No Visible User Interface), que facilitam a digitalização sem exigir conhecimentos técnicos avançados por parte dos utilizadores. O momento de agir é, por isso, agora.

As PropTech estão a redefinir a forma como interagimos com o mercado imobiliário e continuarão a desempenhar um papel cada vez mais importante na transformação do setor. Com determinação e colaboração, o setor pode e deve evoluir para um futuro mais eficiente, transparente e adequado às necessidades do século XXI. O seu potencial é ilimitado e a revolução está apenas a começar.

NOTA: O Autor escreve segundo o Novo Acordo Ortográfico