Não basta decretar, é preciso ser possível concretizar!
É um desafio constante, de encontrar recursos humanos para o mercado AEC em Portugal, dado que esta metodologia BIM não é promovida no mundo académico português. Caso tivesse poder de decisão, propunha um plano, em conjunto com as ordens dos arquitetos, engenheiros e todas as ordens ligadas entre si a este mercado, um plano de ação para atribuir as competências aos nossos recursos humanos
Vai-se fazer mais habitação, pergunto-me imediatamente, como? Se não existir mão de obra, desde a fase de projeto até à sua concretização final em obra, para que servem as medidas? Para que serve dizer que irá existir financiamento a 100% para os jovens dos valores dos empréstimos, e isenção de IMT, se não existem casas no mercado para poderem adquirir?
Tem de existir um planeamento real, mensurável e exequível. Para que qualquer medida de colocar no mercado mais habitação seja possível, temos de ter equipas de projeto para as realizar em tempo útil, construtoras, a usar o sistema BIM, onde o projeto é feito e a obra é já projetada em construção modelar, como tem sido desenvolvido pela construtora Casais em Portugal. Passa-se à industrialização na construção, dada a escassez de mão de obra na construção. Quantas empresas de construção e quantas obras é que é possível executar num plano. Não foi divulgado um número a ser planeado. Queremos saber qual a meta e como?
Resumindo as medidas que podem ser importantes para o sector da construção, enquadrando a legislação do executivo anterior do chamado Simplex e a obrigatoriedade legal de todos os procedimentos de licenciamento serem entregues em BIM em 2030, (medida esta que peca por ser tardia, dado que é uma metodologia que torna todo o processo mais eficiente, desde a conceção à construção e a sua manutenção e gestão sustentável), pode-se integrar a medida “fomentar a empregabilidade entre os jovens, através da aposta na formação e especialização profissional em tecnologias e aplicações digitais, em linha com as necessidades crescentes do mercado de trabalho”.
É um desafio constante, de encontrar recursos humanos para o mercado AEC em Portugal, dado que esta metodologia BIM não é promovida no mundo académico português. Caso tivesse poder de decisão, propunha um plano, em conjunto com as ordens dos arquitetos, engenheiros e todas as ordens ligadas entre si a este mercado, um plano de ação para atribuir as competências aos nossos recursos humanos. Para os que se encontram a entrar no mercado de trabalho e os que estão nas empresas, possam usufruir desta medida, para Portugal ser um exemplo na Europa.
A Expo 98 fomentou o crescimento da construção em Portugal, num projeto que considero vencedor em algumas metas. Então, se existe este desafio em Portugal da habitação, para que o setor AEC possa fazer acontecer de forma rápida e com qualidade, é importante a adoção massiva da metodologia BIM, que vai permitir dar o salto tecnológico que tanto necessitamos e assim estaremos a acompanhar a Europa. Somos o último país da Europa que não tem a obrigatoriedade da metodologia BIM e ao mesmo tempo estamos a contribuir para habitação acessível e sustentável para todos.
Ao analisar toda a metodologia BIM e as suas mais valias, aquela que diria que é fundamental, é a qualidade do serviço que os técnicos entregam no processo construtivo. O BIM permite que os técnicos se foquem no seu trabalho e usem as ferramentas para serem eficientes, pois segundo o estudo(1):
- 98% dos projetos incorrem em aumento de custos ou atrasos;
- O aumento médio de custo é de 80% do valor original;
- O atraso médio é de 20 meses em relação ao cronograma original.
Neste último ponto, sabemos que em Portugal o atraso médio das obras em relação ao planeado, é sempre bem maior do que é o inicialmente previsto.
Coloco outra questão, construir sim, mas de forma sustentável. Construir de forma sustentável é possível aos dias de hoje. A integração da sustentabilidade, certificações e formas de redução do impacto no meio ambiente é possível e eficaz usando a metodologia BIM.
O relatório (2) revela que a produção de materiais de construção é responsável por cerca de 15 a 20% das emissões em edifícios e 50 a 60% na construção de infraestruturas, embora os valores variem de acordo com cada projeto.
Existem algumas práticas que defendo, nomeadamente fomentar e premiar a reutilização de materiais e criar uma economia circular de todos materiais de construção. Acabar com a cultura do que é novo é bom, mas sim, o que é reutilizado é realmente salvar o nosso planeta. Outra prática é a responsabilidade de todos em comprar ao nosso mercado nacional, ajuda a economia nacional e reduz a pegada carbónica do projeto.
Com o desafio da escassez de habitação em Portugal, podemos contribuir para reduzir a escassez de mão de obra numa construção e passar a ser uma indústria de construção, quando toda a obra é pensada e planeada em BIM, com o controle de qualidade muito fiável, redução de prazos, o que estamos à espera? Temos aqui a oportunidade para o fazer.
É nos momentos de crise que mostramos a nossa resiliência, então que seja enquadrado um plano de ação, para se chegar à meta, de habitação para todos, com qualidade, rapidez e de forma sustentável!
NOTA: A Autora escreve segundo o Novo Acordo Ortográfico
1) McKinsey & Company de junho de 2015, intitulado “The construction productivity imperative”
2) Conclusão do estudo: “Scaling Low-Carbon Design and Construction with Concrete: Enabling the Path to Net-Zero for Buildings and Infrastructure”, realizado pela Boston Consulting Group (BCG) com o World Economic Forum (WEF).