Opinião

Entre a incerteza e a responsabilidade: o que o setor AEC espera do futuro próximo

Projetos ferroviários e aeroportuários estruturantes, investimentos na mobilidade urbana e na eficiência energética, intervenções de adaptação às alterações climáticas ou programas de requalificação urbana, são exemplos de iniciativas que não se compadecem com paragens abruptas ou hesitações sucessivas

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Entre a incerteza e a responsabilidade: o que o setor AEC espera do futuro próximo

Projetos ferroviários e aeroportuários estruturantes, investimentos na mobilidade urbana e na eficiência energética, intervenções de adaptação às alterações climáticas ou programas de requalificação urbana, são exemplos de iniciativas que não se compadecem com paragens abruptas ou hesitações sucessivas

Sobre o autor
Carlos de Oliveira Baião

O setor nacional da Arquitetura, Engenharia e Construção (AEC) tem, nos últimos anos, respondido com consistência aos desafios estruturais do país. Das infraestruturas de mobilidade às soluções para a escassez hídrica, da transição energética à modernização urbana, o setor tem sido capaz de apresentar uma forte capacidade técnica e uma elevada capacidade de realização, permitindo apoiar o país, no que se refere à criação dos alicerces de um território mais resiliente, eficiente e sustentável.

Este caminho, porém, não se faz sem estabilidade. A recente crise política em Portugal, com um governo demissionário, eleições legislativas antecipadas e alguma indefinição sobre as políticas futuras relativas a investimentos estratégicos em infraestruturas, levanta preocupações legítimas no setor AEC. Não apenas pelo impacto imediato que pode haver nos concursos públicos e nos investimentos em curso, mas, sobretudo, pela eventual descontinuidade de estratégias que exigem visão de médio e longo prazo.

Projetos ferroviários e aeroportuários estruturantes, investimentos na mobilidade urbana e na eficiência energética, intervenções de adaptação às alterações climáticas ou programas de requalificação urbana, são exemplos de iniciativas que não se compadecem com paragens abruptas ou hesitações sucessivas. As equipas técnicas envolvidas nas fases de estudo, projeto, coordenação e fiscalização, operam num quadro de grande complexidade, que exige recursos especializados, ferramentas inovadoras e um estável e sólido planeamento, interdependente entre várias entidades. Qualquer quebra na continuidade do investimento compromete essa articulação e, com ela, a qualidade do serviço prestado pelo setor à sociedade.

As empresas do setor AEC, em particular, enfrentam atualmente uma equação delicada. São chamadas, por um lado, a liderar projetos cada vez mais complexos, que exigem soluções multidisciplinares, tecnológicas e sustentáveis, continuando, por outro, expostas a práticas de contratação pública que conduzem, muitas vezes, a adjudicações ao preço mais baixo, política esta que se traduz numa abordagem que desvaloriza a experiência das empresas, desincentiva a inovação e compromete, quer a qualidade técnica final, quer o cumprimento dos orçamentos. E, em tempos de incerteza política, este desequilíbrio tende a agravar-se.

Acresce a já reconhecida dificuldade de atrair e reter talento qualificado no setor. A engenharia e a arquitetura exigem hoje perfis técnicos altamente especializados, capazes de integrar diferentes áreas do saber e de trabalhar em ambientes colaborativos e digitalizados. Sem um ambiente favorável à valorização profissional e à inovação, o setor arrisca perder competitividade e capacidade de resposta.

É, assim, essencial que os decisores políticos, atuais e futuros, reconheçam o papel estratégico do setor AEC e atuem com responsabilidade e sentido de compromisso. A execução dos investimentos previstos nos diversos planos nacionais e europeus de investimento não pode ser encarada como uma variável dependente do calendário político. Trata-se de compromissos assumidos com os cidadãos e com a União Europeia, que devem ser respeitados, em nome do interesse coletivo.

 

Este é, também, o momento de reforçar a confiança nas empresas que operam em Portugal e que têm dado provas de elevada competência, adaptabilidade e inovação, dentro e fora do país. Portugal tem hoje um tecido técnico altamente qualificado, capaz de liderar projetos complexos com rigor e ambição. O que falta, muitas vezes, é uma visão estratégica compreensível e um adequado planeamento, por parte do Estado, dos investimentos públicos a realizar e que lhes seja dado o tempo, os meios e o reconhecimento necessários para que esse trabalho floresça.

Mesmo num tempo marcado pela incerteza, o setor AEC continua preparado e determinado em cumprir o seu papel, mas exige, com legitimidade, que o país não hesite nos compromissos que traçou para si mesmo. Porque planeamento, qualidade e sustentabilidade não se improvisam, constroem-se com continuidade, com visão e com responsabilidade.

NOTA: O Autor escreve segundo o Novo Acordo Ortográfico

Sobre o autorCarlos de Oliveira Baião

Carlos de Oliveira Baião

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